Tive razão
Posso falar
Não foi legal, não pegou bem
Que vontade de chorar dói
Em pensar que ela não vem, só dói
Mas pra mim tá tranquilo, eu vou zuar
O clima é de partida, vou dar sequência na vida
E de bobeira é que eu não estou,
E você sabe como é, eu vou
Mais poderei voltar quando você quiser.
ô ô ô ô ô ô ô ô, lá lá lá...
Demorô vai ser melhor...
23.6.05
Com outros afazeres...
... E bem mais próxima da desumanidade é como me encontro neste mês infernal. Prometo voltar quando o tempo amenizar, a cabeça estiver mais livre, que isto de ter exames (sobretudo exame de Farmacologia) tem o seu quê de psicótico e absorvente... Por isso os próximos posts são letras de músicas que têm trazido o Verão à minha secretária (e um sorriso á minha cara)...
5.6.05
(Caos)
Se quiseres vir comigo eu sei onde te posso levar, é uma falésia onde batem as ondas do mar com tal força que sentes o chão vibrar sob os teus pés, se há coisa que nunca entendi é como é que Portugal, sendo todo ele enraízado no oceano, nunca se aproveitou decentemente da sua força para gerar vida, se calhar podemos falar disto noutra altura, mas agora queria poder levar-te comigo para longe mas sem querer dizer que estamos a fugir aos problemas, sentar-te-ias ao meu lado, sorridente, eu conduziria por entre planícies e montes para te poder mostrar esta falésia, qualquer dia o mar entra por ela a dentro e consome-a mas enquanto isso não acontece, sei que o melhor que tínhamos a fazer era senti-la vibrar sob os nossos corpos, deixá-la demonstrar-nos o quanto a vida é efémera e ao mesmo tempo tão bela, e o horizonte aparecer-nos-ia cor-de-rosa como são os sonhos das crianças, as nuvens e as cores como numa pintura, pinceladas de branco, rosas e azuis, amarelos; dar-me-ias a mão enquanto olhávamos a linha do mar, dizem que para lá dela o mar continua, mas eu quero acreditar que é mentira, porque te quero provar que o meu amor por ti é maior do que qualquer coisa e se tu souberes que o mar é maior do que a faixa de água entre a costa e o horizonte não acreditas em mim, e tens de acreditar, tal como tens de confiar em mim quando te digo "não te vou magoar", se eu digo é porque o sei, e tenho tanta certeza disto como tenho a certeza de que a mão que se enrosca na minha enquanto te digo estas coisas é tua, que o fazes porque gostas de mim mas não sabes se por pena se por outra coisa qualquer, não sabes mesmo por mais que penses nisso, eu peço-te para não pensares porque seja porque for, o que importa é que estejas aqui e agora comigo e que eu tenha a liberdade de te levar a sítios bonitos, paisagens que mostrem que no mundo há mais do que opressão, ignorância e lágrimas, que mostrem que no Universo há lugar para duas pessoas como nós com vontade de tentar.
Se quiseres vir comigo eu sei onde te posso levar, é uma falésia onde batem as ondas do mar.
Se quiseres vir comigo eu sei onde te posso levar, é uma falésia onde batem as ondas do mar.
O escritor
Acordava a meio da noite com suores frios, a boca seca entreaberta, os músculos doridos, os lençóis franzidos entrelaçados nas suas pernas, também eles húmidos, o corpo febril. A luz da Lua abraçava as linhas rectas dos móveis: a secretária à janela, a cómoda, a estante, a sua cama.
Despertava por entre o luar e o torpor, levantava-se, sôfrego, e agarrava no bloco de capa preta cartonada, a caneta na mão esquerda ("os canhotos são filhos do Diabo", costumava dizer a avó Miquelina quando ele era pequeno, como se de uma praga se tratasse), as letras ocupavam agora o seu lugar correcto e específico, sem margem para erros, formando palavras, que escorregavam da sua pele para o papel, linhas oblíquas e curvas oblongas, formando frases e histórias em cada folha branca que passava.
Cada página era um local, um passeio, uma viagem, um sonho, uma trip. Cada hora de sono perdida era uma homenagem simples àqueles com quem se cruzava todos os dias, o vizinho com o cão, a vizinha e o saco de lixo, o senhor do quiosque, a senhora do café, a mulher-avião que o olhava abertamente no metro, a velhinha a quem ele ajudava a transportar os sacos de compras, o condutor apressado que quase o atropelava na passadeira.
De manhã acordava para ir para o trabalho, era segurança num ginásio, via entrar as tias que o olhavam com desprezo e pediam "Duas toalhas" e ele, cansado, entregava-as na mão, todo ele sorrisos e falsas cortesias. O bloquinho de capa preta cartonada ficava no bolso direito do seu casaco, à espera de ser ocupado com vida. Com vidas.
Despertava por entre o luar e o torpor, levantava-se, sôfrego, e agarrava no bloco de capa preta cartonada, a caneta na mão esquerda ("os canhotos são filhos do Diabo", costumava dizer a avó Miquelina quando ele era pequeno, como se de uma praga se tratasse), as letras ocupavam agora o seu lugar correcto e específico, sem margem para erros, formando palavras, que escorregavam da sua pele para o papel, linhas oblíquas e curvas oblongas, formando frases e histórias em cada folha branca que passava.
Cada página era um local, um passeio, uma viagem, um sonho, uma trip. Cada hora de sono perdida era uma homenagem simples àqueles com quem se cruzava todos os dias, o vizinho com o cão, a vizinha e o saco de lixo, o senhor do quiosque, a senhora do café, a mulher-avião que o olhava abertamente no metro, a velhinha a quem ele ajudava a transportar os sacos de compras, o condutor apressado que quase o atropelava na passadeira.
De manhã acordava para ir para o trabalho, era segurança num ginásio, via entrar as tias que o olhavam com desprezo e pediam "Duas toalhas" e ele, cansado, entregava-as na mão, todo ele sorrisos e falsas cortesias. O bloquinho de capa preta cartonada ficava no bolso direito do seu casaco, à espera de ser ocupado com vida. Com vidas.
3.6.05
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