29.5.07

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Apetece-me escrever qualquer coisa mas única coisa que neste momento me está a sair bem é este meu talento natural para carregar na tecla space. Assim sendo:






















Deixo-vos um vídeo, para não acharem que visitar-me foi tempo totalmente perdido:

Flipbook ao som do Jonathan Richman!

27.5.07

Give me the truth and nothing but the truth.



Do you miss me, when I go?
Honey I love you and that's all you need to know.
Well then: what is love?
Love is an object kept in an empty box.
How can something be in an empty box?
Well well well well,
Give me another shot
Of that truth truth truth
Truth serum.

(...)

People people: there's a lesson here plain to see.
There's no truth in you,
There's no truth in me.
The truth is between.

Smog :: Truth serum :: Supper

Definir Indefinições

Já não sei, já não sei. Já não sei quem sou e o que faço aqui. Que nome é este que me identifica

Joana

J o a n a

J
O
A
N
A?

Eu ou letras que juntas fazem-me ser quem sou? Que importa?

Que importa ser se quando sou tudo se perde, tudo se desconjunta? De que me serve a autenticidade, a genuinidade? Qual é a diferença entre ser genuíno e ser autêntico? Existe? Ao escrever genuíno e autêntico, estou a ser redundante? E na vida, sou redundante?

Perco-me por querer demais ou por querer mais? Perco-me ou encontro-me? Sou mais eu ou mostro o rosto escondido?

Porque raio escrevo sobre isto quando sei que amanhã, depois de uma noite bem dormida, provavelmente estou mais tranquila e menos idiota?

Quem é esta aqui sentada ao teclado? Onde estou eu? Olho para mim antes: leio os textos que escrevi no Crime ou em folhas espalhadas pela minha casa, vejo os discos que comprei há três anos. E três anos mudaram-me tanto. É como se eu tivesse sido já tantas pessoas numa só vida: uma espécie de gato com múltiplas hipóteses para viver, seja isso bom ou mau. Quanto mais se vive, mais se erra. Quanto mais se vive, mais se têm momentos de ignorante felicidade.

Joana, chill. Mas eu estou calma. A vida é que parece um ângulo de 360º e eu não, que tantas vezes sou obtusa, aguda ou recta.

Onde estou eu? Que lugar é este aqui? Porque é que em três anos, sem mudar de casa ou de cidade, passei a habitar um espaço maior na Terra? E porque é que não consigo lidar com isso?

E as reticiências porque raio me irritam tanto? Tanto quanto as indefinições, os status post-mortem, as vidas pós-vidas, os raios que os partam.

Ocupo o meu espaço solenemente. Aguardo.

26.5.07

Energia potencial

"So bury me in wood
And I will splinter.

Bury me in stone
And I will quake.

Bury me in water
And I will geiser.


Bury me in fire
And I’m gonna phoenix."

Smog :: Say valley maker

24.5.07

A abertura precoce da silly season

Não tenho tempo para coisas sérias.

Estou cansada de repetir esta frase, a toda a gente.

Não li esse livro

ou

Não vi esse filme

ou

Não soube dessa notícia.

Desculpo-me com um sorriso envergonhado
Ando sem tempo para coisas sérias, sabes, desculpa.

Oiço música porque levo-a a sério, claro que levo; mas ao mesmo tempo está aqui ao meu lado, em vez de estar à minha frente - não se insurge contra mim, mas por mim. Vou lendo a matéria para os exames. A vida vai passando por mim e eu por ela, tranquilamente.

Isto porque ando sem tempo.

...

Ando sem pachorra, quero eu dizer. E ando sem paciência para posts sérios. Só me saem parvoíces (vide post anterior). Na verdade, só me apetecem parvoíces.

E sorrisos parvos. E gelados lambuzados. E a minha mão na tua. E salmão com vinagre balsâmico. E mensagens inesperadas, imprevisíveis e queridas. E ouvir o melhor disco do ano esta semana. Ou o melhor disco de sempre esta semana. E dizer "é enorme". E coscuvilhar a vida das LA-celebs no cobrasnake. E dizer "boa cena". E os teus lábios nos meus. E deitar-me tarde. E raios de sol na cara e os olhos franzidos - todos os músculos da face contraídos - por causa da luminosidade. E sorrisos parvos.

Olha, apetece-me ser leve. Estupidamente leve para poder levantar vôo sem me cansar. Abrir os braços e

*zzzuuuuuuuuuuup*

É o que me apetece. De coisas sérias está o inferno cheio - o provérbio não é assim, mas também é assim que me apetece.

23.5.07

Pelo sim pelo não, vou guardar estes versos

Pelo sim pelo não, vou guardar estes versos
Podem não ser nada de especial mas já são um começo!

eu sou a jaybee e só falo do que vi!
se és menino rico e estás sempre descontente caga nisso boy,
serás p'ra sempre dependente

o que importa n'é o que tens nem o que te foi dado,
o que importa na vida é o que foi alcançado
cada queda que tu dás, pelas decisões más
eu só falo do que vejo, pá isso eu não invejo

METE-TE NA LINHA
METE-TE NA LINHA
METE-TE NA LINHA
METE-TE NA LINHA BOY

é jaybee
e falo de improviso
nao vim pelos sorrisos
nem p'los paninhos quentes
a minha rima é critica e independente

o poder da palavra é de critico
de observador
os manos valete e sam nisso são ácido cloridrico e amor

METE-TE NA LINHA
METE-TE NA LINHA
METE-TE NA LINHA
METE-TE NA LINHA BOY

15.5.07

Um álbum de Clássicos criados no novo século

Os Ratatat são dois. Um chama-se Mike Stroud e outro Evan Mast. O primeiro toca guitarra, o segundo manuseia o sintetizador, faz beats e produz as canções. Dito assim, não parece nada de novo - vêm-me à cabeça os Postal Service, cujo Give Up recuperei nos últimos tempos (e, note-se, soou tão bem como da primeira vez) . Talvez não o seja: nem novo nem original, mas mesmo assim consiga ser uma lufada de ar fresco.

O processo, já se vê, é simples: um toca guitarra e o outro pega nos acordes da guitarra e, com o sintetizador, faz canções. (Há um par de amigos meus que faz o mesmo e também de lá saem belas canções.) O que é refrescante nos Ratatat é o resultado final, que sem se prender a nenhuma época específica (aqui e ali, os setentas, além, os sessentas, acolá os oitentas) consegue, mesmo assim, fazer parte destas décadas todas. Não se pense que esse era o objectivo; em lado algum se vislumbra a cópia descarada ou o plágio desavergonhado, não. Classics, o álbum de 2006, é um (muito bom) álbum de 2006 em 2006. Daqueles álbuns que absorveram as influências todas que quiseram absorver para deles sair algo que não tendo a ver com elas, reflecte-as. Canções que já são clássicos ainda antes de soarem datadas.



O espírito é quase festivo, mas numa festa contida, rés-vés a melancolia e a introspecção. Sejam felizes, mas não ingénuos. Sabem quando, após uns copos a mais, nos encostamos à parede do bar e só nos apetece pensar na vida, apesar da música estar boa e de termos amigos ao nosso pé? (Mãe, se me estás a ler, isto só aconteceu umas vezes.) Tenho a certeza que, depois de ouvirem este disco, quando se encostarem à parede e fecharem os olhos, é uma canção dos Ratatat que vai ser a banda sonora das vossas reflexões. Não pensem demasiado, no entanto. Bebam mais uma cerveja, que deve estar bem fresca.



Ratatat :: Gettysburg
(a faixa que mais gostei do álbum, ao vivo no Guggenheim de Nova Iorque - sim, leram bem, os Ratatat foram a primeira banda de sempre a actuar no Guggenheim. Impressive.)

8.5.07

Alguns meses dentro de um disco e dentro de uma canção II

"I wanna hurry home to you
put on a slow, dumb show for you
and crack you up
so you can put a blue ribbon on my brain
god I’m very, very frightening
I’ll overdo it

You know I dreamed about you
for twenty-nine years before I saw you
You know I dreamed about you
I missed you for
for twenty-nine years"

The National :: Slow show :: Boxer

Alguns meses dentro de um disco e dentro de uma canção I

"It was not the intention
But we let it all go
Well it messed up the function
And sure fucked up the flow
I hardly have people that I needed to know
'Cuz you're the people that I wanted to know

All this scrambling 'round
Huntin' high and then low
Lookin' for a face, love
Or somewhere to go
I hardly have places that I need to go
'Cuz you’re the places that I wanted to go
Yeah you're the places that we wanted to go
Yeah you're the places that we wanted to go"

People as places as people :: Modest Mouse :: We were dead before the ship even sank

[ I don't need to look any further. *]

5.5.07

Coração metálico* que dá pontapés em esquinas de móveis

Parece fazer pouco sentido beber um sumo de laranja natural e misturá-lo com beterraba, mas a mistura é boa, garanto-vos: a minha avó faz um bolo de chocolate com um creme de queijo fresco que fica divinal e também sempre me soou demasiado estranho.

No que toca à cozinha, o importante é não misturar alhos com bogalhos e torcer o pepino em pequeno. Não sei porque me deu para citar provérbios populares a esta hora da madrugada - e antes de ir dormir o sono dos justos, ou o dos injustos, ou dos injustiçados, um sono qualquer -, não sei tanta coisa e ainda assim faço-a.

No que toca à minha vida, farto-me de errar - e quem não erra? Erro atrás de erro (mas não o João Palma), cabeçada atrás de cabeçada. Por acaso em relação ao erro, gosto da metáfora do pontapé na esquina do móvel (a melhor maneira de descobrir móveis em corredores escuros é pontapeá-los). Já muita gente partiu dedos dos pés assim e não é coisa que, a não ser que se seja estupidamente parvo, se faça de propósito. Já cabeçadas na parede umas atrás de outras não creio que sejam erros, mas sim burrices.

Os próprios erros, se exaustivamente repetidos, são também eles burrices. Não julgo, e olhando em retrospectiva, que sejam erros - e, por conseguinte, burrices - propositados e conscientes. Nisto da vida e do erro sistemático, o material está viciado, tal como o dado que pesa mais na face oposta à face "seis" (que é a "um", acho).

A própria matemática tenta simplificar a vida, mas as contas aritméticas sucedem-se umas atrás de outras e a calculadora humana perde-se entre somas e perdas e divisões (multiplicações são raras, infelizmente). Deveria haver um exercício no exame de Bioestatística:

Suponha que J. errou já por três vezes ao avaliar e julgar uma pessoa. Partindo do pressuposto que conhece 10 pessoas por mês, calcule:

a) a quantidade de vezes que poderá ir jantar fora.
b) a probabilidade de se desiludir com 7 em cada 10 pessoas.
c) a probabilidadde de se enganar no julgamento dessas pessoas, sabendo que o número de pessoas que a desiludem é significativamente maior que o número de pessoas que acabam por surpreendê-la.
d) a probabilidade de ser iludida ou mesmo ludibriada por todas elas.


Já não é a primeira vez que leio numa canção que há uma sensação falsa de felicidade até a hora em que se desliga a luz e se fica a sós, de olhos e ouvidos nos próprios pensamentos. É aí - e sempre aí, invariavelmente - que me apercebo que isto de ser feliz é mais frágil do que a própria fragilidade. A felicidade é como uma teia de aranha, construímo-la a pulso e basta uma criança armada em chica-esperta para destruir o trabalho de meses.

Estou à defesa e não me sinto bem. Pareço um cavaleiro da Idade Média, iluminada por archotes (e a dar pontapés em móveis como se não houvesse amanhã porque a luz do archote é mínima), vestida e armada da cabeça aos pés com a cota de malha, o escudo, a lança, o capacete, a espada. Devia usar a espada muito mais vezes - para cortar a cabeça aos que me chateassem a minha, para trespassar o peito àqueles que fizessem o meu estalar. Estou à guarda de um castelo, nem sei o que guardo, nem sei quem me mandou aqui ficar. E o pior é que o que guardo nem é provavelmente nada de especial, é só um coração pequenino que bate muito depressa, um coração apertado numa caixa feia dentro de um quarto enorme.

A Cat Power está a dizer-me que se eu estiver à procura de coisas fáceis, é melhor desistir. As coisas difíceis dão pica, são intrigantes e desafiam-nos até à medula, instigam os reflexos e as respostas rápidas corticais. Eu tenho medo das coisas, sejam elas fáceis ou difíceis. É como se até então tivesse perdido o chão cedo demais. Não consigo assumir dentro de mim nada, mas quero que o façam por mim e não o fazem.

Não sei em quem acreditar, se naqueles que dizem que somos capazes de dar voltas à vida, se naqueles que dizem que dá-nos a vida a volta a nós. Os erros são tantos que se atropelam uns aos outros, já nem fazem fila para acontecerem. Eu atravesso a nado as dúvidas e os medos, quase me afogando a cada inspiração.

Oiço os pragmáticos dizerem que a vida dá voltas de 180º, que num instante estamos aqui e depois estamos no nosso antípoda se assim o quisermos. Eu nunca fui céptica, mas dizem-me os meus dedos dos pés,, doridos e cheios de hematomas, que a minha vida está sempre a dar voltas de 360º. Parece mudar, parece, parece, mas depois fica ali, como na Roda da Sorte, quase quase quase no milhão de não sei que moeda e acaba por calhar no prémio de valor mais pequeno. Comigo, nem dinheiro recebo; só estas nódoas negras nos pés e uma vontade de receber um abraço que nunca vem.

*Pergunta-me ainda a Cat Power que raio escondo eu no meu coração metálico; depois, empertigada - deve ter bebido demasiado hoje, ela - diz-me que o meu coração metálico não vale nada. E não vale mesmo, não sei porque o guardo tanto. Não sei, ó Chan, o que estou a tentar provar escondendo escondendo escondendo. Mas isso que dizes é verdade, eu estava cega e depois vi-o, agora quanto a isso de me ter encontrado, já tenho as minhas dúvidas. E sim, sou egoísta, mas também sou sempre verdadeira e estou encerrada numa triste triste canção.