28.8.07

Quizás (ou uma conversa numa canção)

Maybe the sun will shine today
The clouds will blow away
Maybe I won't feel so afraid
I will try to understand either way

Maybe you still love me maybe you don't
Either you will or you won't
Maybe you just need some time alone
I will try to understand
Everything has its plan
Either way I'm going to stay right for you

Maybe the sun will shine today
The clouds will roll away
Maybe I won't be so afraid
I will understand
Everything has its plan either way

:)

Wilco :: Either way :: Sky Blue Sky

Como é bom, como é bom.

Como é bom não ter palavras para descrever nada disto, nem a minha cabeça no teu colo, nem as tuas mãos no meu cabelo, nem os nossos beijos ou sorrisos sincronizados. Como é bom estar tranquilamente a ver isto acontecer-nos de novo.

Como diz o Jeff Tweedy, happenstances have changed my plans so many times e como é bom não ter sabido nem conseguido prever nada disto, como é bom, como é bom.


i will live in you
or you will live in me
until we disappear
together in a dream
(...)
on and on and on
we'll be together yeah
on and on and on
on and on and on
we're going to try
(...)
you and i
we'll stay together yeah
you and i will try
to make it better yeah

Wilco :: Sky Blue Sky

8.8.07

Caruncho e uma recuperação da madrugada

Às vezes penso seriamente se tenho caruncho na cabeça. Ando a mil, mesmo em férias, e o sistema não pára nunca de carburar, de apagar, de inserir - até me dá para fazer analogias com informática.



Falei dela aqui. E hoje, depois de um burguês passeio de veleiro, é esta canção que não me deixa em paz e o maldito verso "ooh are you the one i've been waiting for?", uma merda de pergunta que me tenho feito mil vezes de há uns tempos para cá, uma pergunta tão simples que imediatamente se complica quando custa ao questionado dar uma resposta como deve ser.

Às vezes penso seriamente que tenho caruncho na cabeça - mas o pior é que não estou sozinha, andamos todos cheios de caruncho. Que o nosso cérebro não se desfaça dos furos.

Da noite

Naquele dia de que não me lembro de ter sido dia, o dia de noite eterna, o dia inerte, escuro, cinzento e frio, eu estava só. Consigo precisar onde andavam todos os outros e eu também, amolecida em tédio de viver no sofá, com a televisão desligada. O silêncio e a falta de luz e aquele instante exacto, nem antes nem depois, em que desejei morrer para nunca mais sentir uma dor tão grande como aquela, uma dor que não passava com analgésicos, uma dor que sangrava sem pingar o chão, só os meus sonhos por terra, um por um e depois todos juntos, troçando primeiro das minhas lágrimas, depois, à medida que iam secando, juntando-se nas cordas vocais, eu afónica, depois na traqueia, eu apneica, dispneica, e aquela dor que me batia e me empurrava. A dor cada vez maior e os olhos secos, e a dor de cabeça que me encostou a um canto do corredor, eu pequena, minúscula, ocupando um espaço de nada em casa, na cidade, na Terra, um grão de pó contra as paredes vazias, e a pancada que continuava e as gargalhadas que ouvia e eu, finalmente cansada, finalmente adormecida sobre o soalho, enrolada sobre mim mesma, gélida por dentro e por fora.

Mas viva.

7.8.07

FMM :: O primeiro dia no Castelo - ou um exercício de memória

Apetece-me começar este post com um cliché gigantesco, daqueles clichés que por serem tão clichés irritam, começar, por exemplo, com a frase "a memória prega-nos partidas". A memória prega-nos partidas- a memória é tão conveniente - e eu não me lembro bem de como começou a minha quarta-feira em Sines. Sei que estive na praia, com uma ansiedade maior do que o normal por começarem nesse dia concertos no espaço épico e acolhedor que é o Castelo. Também sei que o Dário e a Joana chegaram neste dia, e a Tânia e o Jorge. Lembro-me ainda que jantámos na garagem que já não é uma garagem e tem cadeiras de design - e lembro-me que na garagem bebi vinho e já cheguei etérea (ou etanólica?) ao Castelo. E lembro-me que entrei com o meu passe catita (obrigada, Vítor) naquele espaço que, apesar de não ser - e ter-se provado insuficiente para a enchente de sábado -, pareceu-me, pelo menos naqueles dias, com um lar. Que bela imagem, o Castelo de Sines como o meu lar.

Há uma certeza: Trilok Gurtu, diziam-me, tinha sido dos melhores concertos do FMM de 2006 e voltou a sê-lo este ano. Sem qualquer espécie de dúvida. Acompanhado de excelentes músicos, mas sem nunca perder o protagonismo, é capaz de fazer música e gerar ritmo de qualquer coisa que faça barulho. Um indiano que parece ter crescido no meio de Bollywood e amadurecido num qualquer clube de Nova Orleães: é obra, não sei se exclusiva, mas pelo menos peculiar. Baldes de água e vassouras e logo uma dança, uma batida contagiante e uma felicidade imensa. Estrondoso concerto, daqueles para o top 5, porque foi realmente bom e porque eu sou uma curiosa e acho que a música deve nascer de qualquer som - até do simples bater das teclas do portátil da minha mãe.

[Ora pois que se até agora não estava verdadeiramente alcoolizada, apenas algo ébria e feliz, tenho que o confessar, depois do concerto de Trilok Gurtu já estava - e bem. Aqui a memória trai-me e é por culpa, não de esquemas subterfugidios freudianos, mas sim da cerveja Super Bock que escorria dos barris como se de um riacho se tratasse.]

Acho que não assisti ao início do concerto dos Bellowhead. Acho, pois. Se assisti, desculpem lá, mas não achei grande coisa: estava mais interessada em concluir que a Lua no sábado estaria a rebentar de tão cheia (e estava, de facto). O que é facto, e não há imperial que o contradiga, é que os Bellowhead foram-me conquistando e, lá para o meio do concerto, entre uma ou outra música dignas, e não o digo como elogio, de um espectáculo Eurovisão (comparação para a qual contribuía o visual à The Hives da quantidade enorme de músicos em palco, qual Broken Social Scene da world), eu era pulos e festa e abraços e alegria. Mais um concerto que veio confirmar a minha bem provável costela bretã e mais um concerto a figurar, surpreendentemente, entre aqueles que melhores - e reparem na ironia- recordações me deixaram. De forma puramente matemática, Bellowhead = festa pela certa. Não os percam, nem que seja através de vídeos no youtube.

Falou-se de alma há alguns posts atrás. Alma, essa entidade secreta que sentimos existir mas não o conseguimos provar a quem nunca a sentiu. A alma em Sines fervilha, bem como todas as partes que fazem de nós seres humanos, e foi a alma que foi tocada durante o concerto da Oumou Sangaré, essa voz do Mali que me pôs as emoções à flor da pele - quase literalmente: o coração que batia mais depressa, as lágrimas pelo rosto abaixo, mãos dadas, abraços e beijos, a descoberta de almas gémeas e afins. Coisas boas. Oumou é soul e é afrobeat e eu não creio que haja algo mais tocante do que juntar o toque da alma com o movimento do corpo, quando é feito deste modo tão sentimental, tão cheio de entrega. Merecia a lua mais cheia (e o copo também).

Eu devia agora falar da Oki Dub Ainu Band mas assumo a minha incompetência para o all the matters dub-related: a paciência esgotou-se ao fim de duas canções e fui descansar (ou beber mais? não me lembro) para o set do António Pires (um amor de senhor com ésse grande, quase meu pai musical no que à world diz respeito - o blog é obrigatório - e com quem partilhei o tecto, a sala de fumo, cervejas e copos de vinho a todas as horas possíveis do dia, ensaios de set e muita, muita conversa - um privilégio, só vos digo) e do Gonçalo Frota. Um mimo que me levou para a cama já o Sol tinha nascido há muito.

Se a memória não me trai, foi neste dia que percebi que Sines não é só amor; Sines é o Amor a acontecer. Se a memória não me trai, pensei "como prometem os dias seguintes no Castelo e Avenida da Praia!" (ok, não pensei por estas palavras, mas vocês percebem-me.)

Continua.

P.S. Por falar em António, não percam as Gamíadas, esse poema épico sobre um grupo de 20 tresloucados amigos, eternamente apaixonados por música, que atracaram no Porto de Sines para pertencer à festa da música mais bonita do país: aqui, os primeiros actos, acoli o segundo, e infelizmente último, acto da saga.

1.8.07

FMM :: a segunda noite de concertos no Centro de Artes (Fast Forward >>)

Sines não são só concertos e praia, aliás, falar de Sines e só referir os concertos e a praia é como deixar a missa a metade. Sines é também aquele grupo de pessoas com quem partilhámos os roncos, os copos de cerveja - e consequente as bebedeiras -, as saladas de pimentos, os mergulhos no mar gelado, as danças e as coreografias, os jogos de matrecos, os coros e as palmas, as gargalhadas, os bons dias, os fanatismos, o polvo e os búzios, as listas de melhores e piores concertos, os croissants mistos tostados nos Galegos, os metros quadrados de areia.

A Petra, por exemplo, faz uma feijoada vegetariana que é de chorar por mais (para além das suas outras qualidades que noutra ocasião poderei realçar). Foi para bem saborear a sua feijoada que por pouco não perdemos o concerto da Lula Pena - ouvimos três canções. E que bonitas que eram! Continua a fazer a sua fusão de poesia cantada com canção falada, viajando entre o fado, a cantautoria, a bossanova, com pitadas de tudo aquilo que absorve e vai vivendo. Ouvimo-la cantar - e ela respira Lisboa - juntar versos de Culture Club a um fado triste sobre uma rosa que sou eu, sem tirar nem pôr. Mexeu tanto comigo que fumei três cigarros antes do concerto seguinte.

E que concerto,o seguinte! Jackie Mollard Acoustic Quartet numa lição de uma hora e picos sobre como transmitir emoções - um largo espectro delas - em instrumentais felizes. Um violino como deve ser - um fiddler, não on the roof mas sobre o palco em constante jogo de improviso estimulando quem o segue, acompanhado por uma contrabaixista, um saxofonista e um acordeonista diatónico - os tais seguidores. Música bretã invocando campos verdes de melancolia. E o privilégio do segundo encore no bar da SMURSS, uma jam session que só existe em Sines porque há lá vontade de ouvir e deleitar-se com música e com cultura. Foi um dos melhores concertos do Festival.

(No bar da SMURSS - sigla para, salvo erro, Sociedade Musical União Recreativa e Social Sineense, acabaram as duas noites de concertos no Centro de Artes: jogos de matrecos, vinho a rodos para aquecer e sempre, sempre, óptimas conversas e boa música.)