29.9.05

Mais música portuguesa

Para acrescentar a este post. Ouvi Quinteto Tati e Belle Chase Hotel nestes últimos dias e permitam-me juntar um nome aos já referidos: JP Simões. Um bem haja. Das das melhores coisas que se fizeram até hoje no mundo.

Não estás à espera que te responda a essa merda de mensagem, estás?

É que se estiveres, bem podes ir tirando o cavalinho da chuva, porque ainda me resta dignidade e amor-próprio.

Ora porra.

28.9.05

- Oh, tu nunca sequer fizeste um esforço...
- Eu nunca fiz um esforço... Ou tu exigias demais de mim? Pára de fazer isso ao cabelo, estuda, não uses as meias assim, não fumes, come mais verdura, faz a barba, diz obrigada, pede desculpa, conduz mais devagar, não dances, dança, lê mais, não sejas ignorante e irresponsável, puta que te pariu mais às tuas manias.
- Nós nunca iríamos resultar juntos.

Desculpa.

27.9.05

E porque as saudades já apertam


É esta a minha irmã.

Os R's da música portuguesa

Digam o que disserem, para mim a música portuguesa essencial tem dois nomes: Rui Reininho e Rodrigo Leão.

O primeiro porque é o David Byrne português (e eu já achava isto antes de ele fazer aquele cover dos Talking Heads).

O segundo porque é um génio.

Mas isto sou eu, que não percebo nada de música. Apenas ouvinte. E dos atentos.

26.9.05

A fenda

Algures entre mim e aquilo que passou, existe uma fenda no tempo composta de desilusões e sonhos desfeitos. Aproveito os dias de hoje onde o tempo navega tranquilo ao sabor da vontade e do desejo, vivo sem amar mas também não odeio. Vou sendo, convivo comigo e aprendo que o espaço da vida foi dimensionado para as pessoas imperfeitas.

Como eu.

25.9.05

Eu quero é dormir

Gasto todos os dias 45 minutos antes de sair de casa de manhã. Vejamos:

- 10-15 m. a tomar banho;
- 15 m. para vestir, pentear, perfume e cremes;
- 10 m. para pequeno-almoço e lavagem dos dentes.

Ora 45 minutos todos os dias são 16425 minutos por ano, isto é 273,75 horas, logo... 11 dias por ano gastos apenas para me tornar um ser social.

É impressão minha ou isto é tempo que eu poderia estar a dormir se pudesse sair à rua de pijama?

21.9.05

Rajadas de vento

Nem eu percebi bem o que se estava a passar comigo quando um dia olhaste para dentro de mim e roubaste a minha alma.
Não me lembro bem de ti, de mim, de onde estávamos, do olhar que trocámos enquanto nos fundíamos, sei que desde então não sou a mesma.

Apercebo-me que poderia ter dito "Pára!" antes de cair neste pântano emocional que é gostar de ti, mas como se não consigo identificar aquele instante que mudou as minhas horas, os meus dias, os meus meses, os meus anos, porque os tornei nossos.

Lembro-me de rajadas de vento em dias de temporal, a maioria das vezes arrebatadoras, outras tranquilas.

19.9.05

Uma pequena consideração acerca do dia 19 de Setembro às 9 horas

Voltei às aulas em Lisboa. As férias parecem um sonho bom que aconteceu durante uma noite entre o último exame e hoje.

16.9.05

"Summer has come and passed"

Pois é, o Verão está a acabar e muito em breve (dentro de três dias para ser exacta) as experiências intensas e variadas que vivi na silly season vão passar a ser memórias, ganhando com isso uma vertente subjectiva e muito minha. Se calhar ainda vos conto melhor o que passei neste último mês e picos...

O verso acima é de uma música (nada de especial, aviso já) dos Green Day que a minha irmã de oito anos está sempre a cantar ("Wake me up when September ends"). Hoje ao ouvi-la, e reparando na letra, fiquei com aquela bola na garganta que geralmente aparece quando tenho vontade de chorar. Não sei porquê. Não sei se foi de ver a minha irmã tão crescida a tentar cantar Green Day (como eu mais ou menos com a idade dela a cantar músicas da mesma banda ao estilo "du iu rave de taime tu lissen tu mi uaine"). Não sei se foi por saber que daqui a três dias já não vou poder abraçá-la, falar com ela assim, vê-la crescer. Não sei se foi mesmo por o Verão estar a acabar. Ou as aulas a começar. Sei que hoje fiquei nostálgica.

Ou isto ou o síndrome pré-menstrual a falar mais alto.

15.9.05

O Grito

Vinhas a correr, ofegante, lembro-me de ter parado na ponte à tua espera. Estavas assustado, suavas e tremias por todos os poros, por todas as extremidades, chamavas "Joana" mas o medo apertava as tuas cordas vocais uma contra a outra, roubava a saliva dos teus lábios (efeito do Simpático, que ironia) e querias gritar e não podias, por isso limitavas-te a acelerar o passo para te aproximares de mim.

De onde estavas, não me vias e eu via-te a ti, cansado, cada perna pesava mais do que a vida alguma vez pesou e agora o coração mais frequente e a respiração mais dolorosa a complicarem o ritmo rápido e descoordenado dos teus membros, no entanto o tronco mantinha-se rígido, ponte insustentável de um corpo frágil e desconexo, franzino e esguio.

Mantive na memória (onde ficará para sempre) os teus olhos sem órbita, esferas perfeitas que fogem do abrigo do rosto, o teu nariz quase invisível, os ossos da cara angulados sob a pele acentuando a carga dramática da tua beleza esquálida. Usavas aquela camisola negra tamanho XXL, desbotada nos cotovelos, que te escondia o tronco cada vez mais magro, as costelas e o esterno -irrepreensível escudo de uns pulmões que anos de fumo enegreceram.

Eu trazia o envelope na mão, a confirmação da tua morte, porque quando te telefonei apercebi-me que as minhas palavras te feriam como punhaladas na tua convicção, que não resistirias a passar por isto, ainda para mais só, sem heroína ( a metadona tinha funcionado tão bem e agora isto) e sem heroínas, agora nada nem ninguém poderia tirar-te de dentro desta carta, igual às outras, é certo, letras pretas sobre papel branco, o teu nome a começar o texto, o Pos. à frente daquelas siglas que deveria ser Neg.. Telefonei "Chegou o envelope."

"Abre, abre, lê-me, diz-me, vais ver como não passou de um erro infantil da puta do laboratório." Tu cheio de infinita certeza, desde pequeno que és assim, achas que a vida só castiga os outros.
"É positivo, querido. Mas tem calma porque há tratamentos..."

Sabias que os tratamentos na maior parte das vezes adiam a data da morte por isso desligaste-me o telemóvel sem sim nem senão. E eu fui ter contigo à praia, o sol punha-se por entre rajadas de vento, a cor do fogo que ardia cada teu passo ao meu encontro, ah se eu pudesse queimaria aquele papel que tinha na mão e viveríamos sem remédios nem contagens de leucócitos CD4s nem medos de infecções oportunistas nem preservativos obrigatórios. Mas tu já corrias e já sabias.

De repente vês-me e abrandas a marcha, gradualmente, até parares. E gritas "REPETE!".

"É positivo, porra!"

E então cospes a culpa, a injustiça, a dor, a parcialidade, a SIDA, a morte num só grito, as palmas das mãos sobre as tuas orelhas para que não te ouvisses.

"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH"



Munch- O Grito



10.9.05

Beleza

Não me venhas tu falar de beleza e de como eu sou bonita porque para mim a beleza é um conceito muito vasto e relativo. O que é a beleza afinal? Fisicamente falando, pois. Um conjunto de traços perfeitos que, conjugados, tornam um corpo e um rosto agradáveis ao olhar? Ou o detalhe e o pormenor do organismo?

Para mim a beleza não é isto, sabes, a beleza para mim não é um conceito nem uma definição e não parte de quem a possui, mas sim de quem a avalia. É isso que a torna tão indefinida, o facto de depender do olhar de alguém.

O olhar, outra palavra tão abrangente, enfim. Olhar como sujeito, algo que implica muito mais do que um par de olhos, algo que engloba outros sentidos, processamento, integração, comparação com aprendizagens anteriores e associação com experiências diversas, para depois ser produzido um juízo pessoal, que tem tanto de mentira como de verdade.

Por isso não me venhas falar de beleza nem de como eu sou bonita e trata, isso sim, de guardar este momento dentro de ti porque ele pode ser irrepetível. Podes nunca mais me achar bonita, pode este instante mudar a tua beleza, mas saberás sempre que um dia eu fui, para ti, a beleza. E nenhum conceito ou explicação poderá estragar isso.

7.9.05

Nada

Foi quando emergi de ti que senti que já nada nos ligava um ao outro, que alguém cruelmente cortara o nosso cordão umbilical.

Agora a mim resta-me vaguear apenas, os meus passos ligeiros não deixarão rasto para que não me possas encontrar, e assim parto à descoberta de mim por este trilho desgastado que é a vida.

Sabes, às vezes acho que serias bem mais feliz se eu te deixasse.

6.9.05

"Onde quer que estejas...

... Quero que saibas que não tenho pensado em ti nem um bocadinho."

Ihihih


Acabo de reparar que o post anterior foi o 69º deste blog. Em homenagem à Vitória, que se lembrou disto no nosso extinto blog, é uma sugestão para hoje à noite. Ou à tarde. Ou de manhã. Para quando tiverem vontade.

O fim da festa

Ao acordar, as ruas sujas, o cheiro nauseabundo a precisões físicas e a alcoól fermentado, o empedrado coberto por uma fina camada pegajosa, os festeiros mais resistentes ainda de copo na mão, os olhares cansados, outros que não aguentaram e adormeceram pelos cantos, pelas bermas, o sono pesado feito de roncos surdos.

Apesar de tudo, uma sensação incrível de bem-estar.