30.6.08

Yeasayer, ciclos circadianos e o Alentejo.

A 2080 de Yeasayer faz-me estar acordada

I can't sleep when I think about the times we're living in

desde que vim a conduzir o carro do Ilo de Évora a Lisboa, enquanto ele e o Rod dormiam (um ao meu lado, outro no banco de trás) e eu, sempre que a canção acabava, carregava furiosamente no botão que a fazia tocar de novo. Conduzi durante uma hora e quase meia e a 2080 tem cerca de 5 minutos, portanto, fazendo uso da aritmética, devo tê-la ouvido umas dezassete vezes, mais coisa menos coisa.

Foi também bom quando, à ida, o Ilo pôs a tocar o All Hour Cymbals tão alto que eu não conseguia ouvi-los a conversar nos bancos da frente e fiquei a ouvir a Sunrise enquanto olhava pela janela, com as cores junto ao Tejo, aquele verde esbatido de terra alagada a se transformar calmamente em planície dourada alentejana, os postes de electricidade com os ninhos de cegonha cheios de crias, as casas sobre os montes, esparsas, distantes, intocáveis.

Mas nada bate trautear

It's a new year, I'm glad to be here
It's a fresh spring, so let's sing
In 2080 I'll surely be dead
So don't look ahead, ever look ahead

porque muito pouca coisa faz publicidade ao presente como estes quatro versos. Roça a perfeição e eu fico mais desperta.

(As duas canções podem ouvir-se no myspace.)

28.6.08

Um post que não é bom, nem é mau, nem chega a ser assim-assim, mas tem dedicatória.

Tarte de limão merengada.

Estava para aqui a ouvir Stardust

úuu baby i feel like music sounds better with you
love might bring us back together
i feel so good

porque agora não tiro o álbum de Girl Talk dos ouvidos e ele sampla isto (ontem ouvi Ace of Base, só para terem uma ideia) e tenho andado de metro (o meu carro está parado desde terça feira, só o uso para ir ao ginásio, o que é, por si só, um paradoxo). Ando a reduzir a minha pegada ecológica e esta ideia tranquiliza-me (comecei a separar embalagens com algum rigor há coisa de dois meses, antes só punha lá as de detergentes).

Ao mesmo tempo, acabo um trabalho e falo no google chat com o melhor amigo que poderia ter arranjado no mundo, que me faz rir mal começa a falar comigo, que me ouve (bem, que me lê) e tem imensa paciência e fala comigo de assuntos tabu sem me julgar - pior, adivinhando sobre o que quero falar quando estou com vergonha de dizer. Ainda por cima, é bonito como muito pouca gente, quase ninguém é bonito daquela forma altiva mas indiferente e não é nada vaidoso.

Passei dos Stardust a Modjo, via Related Videos do youtube

Lady hear me tonight 'cause my feeling is just so right


E disto, pela mesma via, para Armand van Helden,

you don't even know me, you say that i'm not living right

que é bem capaz de ser, a par da Music sounds better with you, das melhores coisas para dançar à frente do espelho duplo do armário da minha avó, que me repetia mil vezes como naquele vídeo dos Chemical Brothers (que eu também adorava, back then), aos 13 anos. Já tem séculos tudo isto.

Mas a sensação que tinha na altura era a mesma que tenho hoje, uma estranha e particularmente estrangeira quantidade de paz distribuída irmãmente pelo corpo, com aquilo que sou e me tornei, em virtude do que fiz, em virtude das pessoas com que me fui cruzando.

Tudo isto faz-me aceitar muito bem seja o que for que aconteça nos próximos tempos.

24.6.08

En effet:

JE VEUX TE VOIR.

Lá, lá, lá.

(Ton corps est trop crunk pour assurer les Dunk.)

21.6.08

Wordle.

Photobucket

Com este excerto: "And at the same time there was the absentee lover, who was gone and not interested, or playing a lot of games with me, and I went a little bit crazy, kind of nuts. It happens."

Que continua assim: "'It was all right at the beginning, but the mistake was that it happened over and over and over and I couldn't seem to get out of it. And that's been my nemesis. That's been the whole thing.'

'Didn't you have any affairs that weren't fraught - that were pleasant?'

'Sort of.'

'What happened to those?'

'I got bored.'

Do livro Deception, do Philip Roth.

16.6.08

Esta merda é sinistra

O meu vizinho (descobri que é do 4ºC e não do 6ºC, como eu julgava), aquele que ouve os discos um mês depois de eu os ouvir, está a ouvir a abcedário das A.M.O.R. (malha, já tem um ano e ainda rende, passou o teste do tempo)*, que eu estava a ouvir até há coisa de dois minutos.

Eu quero conhecê-lo. Se calhar vou começar um blog para chegar até ele (eu sei que é ridículo, é só descer as escadas, mas eu tenho vergonha de ir lá bater à porta "gosto do teu gosto musical"). E se este gajo descobriu a rapariga por quem se apaixonou no metro de Nova Iorque - sim, Nova Iorque, e eu moro em Lisboa -, tudo é possível.

P.S. É provavelmente exagerado falar de "teste do tempo" por um ano, mas hey! alguém ainda ouve Lady Sovereign aqui? I rest my case.

14.6.08

Dos vestidos e de outras promessas

Desconfio que estou a ficar mais mulher. Experimentei um vestido antigo e, em vez do habitual cair solto corpo abaixo até ao joelho, agora, após preencher a reentrância de uma cintura fina, marcada por muitos anos de exercício físico, molda-me umas ancas cuja existência era-me ainda profundamente desconhecida. Por outro lado, hoje a minha voz está extremamente mais aguda (hoje mais aguda, não aquilo que há tempos notaram do falar mais tranquilo e pausado), em vez da rouquidão pubescente, muito por culpa da sinusite, muito por culpa dos genes.

Ia estar caladinha em relação a isto, mas esbarrei com este vídeo e lembrei-me desta cena adorável do My Blueberry Nights (uma das melhores conseguidas de todo o filme, apesar de breve - ou talvez por isso, por se topar tão, mas tão bem como estes dois palermas vão se amar para todo o sempre, mesmo quando em relações com outras pessoas). Distam entre ambas as filmagens quase dez anos, várias depressões, outras quantas desintoxicações, muitas mais bebedeiras.

Preocupa-me que só alguns de nós cresçam enquanto vivem e outros vivam sem crescer, no marasmo peterpânico dos golpes aparados e das quedas amparadas.

P.S. A propósito de crescer, vejam as entrevistas à Cat Power acerca do Jukebox, quando ela diz "eu precisava de cantar qualquer coisa que não me trouxesse memórias" aqui, ou noutra, à MTV Canada, em que ela fala do processo de sober up. Um dia pararei com os cotejos entre ela e a minha pessoa. Mas há qualquer coisa muito escondida, muito para além de tudo o que está à vista, que me faz gostar dela como de se uma amiga se tratasse.

Versão beta 2.0

Esta é uma versão beta da Joana que conhece. Por favor, ajude-nos a melhorá-la.

Lamentamos informá-lo de que há muita coisa diferente nesta Joana; se é incapaz de se lhe tomar os comandos html, temos pena.

A música imita a vida, ou será o contrário, e como qualquer coisa que escreva começa e acaba em ti, inevitavelmente.

Gosto muito de uma coisa no meu iTunes: o facto de que, quando acaba o álbum de Osborne - "uma viagem pela house de Detroit dos anos 80, passando pelo techno" escreveu mais ou menos assim quem sabe notoriamente mais da poda que eu sobre aquele que já é um dos meus álbuns do ano, sem dúvida de qualquer espécie, e que lamentalvelmente ainda não fui comprar à Flur porque me tem faltado a paciência para ir a Santa Apolónia, daí que ainda o ouça através da playlist do meu iTunes - mas, dizia eu, quando acaba o álbum de Osborne - chamado Osborne, repleto de referências a tudo e mais alguma coisa que indivíduo que frequente prazeirosamente uma pista de dança à quinta/sexta/sábado à noite, pela madrugada fora, já tenha ouvido, dançado, abanado a peida ao som de, ou apenas movimentado a nuca para a frente e para trás, adoptando aquela postura roqueira de quem em casa é gajo para ouvir uns Comets on Fire ou até mesmo uns Can, se o ouvido estiver para isso e a namorada tiver ido jantar sushi com as amigas, mas no andar de baixo do Lux está disposto a perder a cabeça pelo último maxi de um qualquer DJ alemão; também observo com gosto que no disco de Osborne se pode apenas fruir e desfrutar mentalmente e aí vêm-me à cabeça melómanos melancólicos que olham atentamente para o DJ e - talvez, talvez! - mexam o pézinho ou agitem as mãozinhas, porque até gostam daquilo e estão atentos ao que saíu na Ghostly e na DFA, mas gostam mesmo mesmo é de coisas indíchóninhas - ora iniciei eu este post com aquilo que gosto na minha playlist do iTunes, é que, quando acaba o disco de Osborne, um dos discos do ano para qualquer pessoa que esteja viva e respire e, se possível, tenha ouvido o álbum e gostado (e se gostou quer dizer que o dançou), logo quando a dança acaba, parece que são 7 da manhã e os seguranças estão a expulsar-me do Lux com um sempre simpático "vamos fechar, dirija-se à saída" e o DJ resolve despedir-se de nós com uma faixa calma, porque sabe que dali vamos mas é - e depressa - para a cama, quer seja acompanhada - ou não.

É que quando acaba o disco do Todd Osborn no meu iTunes, começa a Keep on Rolling dos Quiet Village e isto soa mesmo a tranquilizante, a despedida, a nascer do sol, a última bebida, a beijo que se quis dar a noite toda mas só agora se teve coragem.

9.6.08

Puta do calor. Puta de vida.

Chegou a casa sem destino. Isto é, como quem não queria ali chegar por ser grande a vontade de estar de rabo no ar, a espairecer na esplanada com a cara ao sol e a testa franzida para que os olhos se cerrem e protejam as íris dos ultravioletas. Por isso, pousou as chaves na mesa da entrada, um gesto automático e barulhento que avisa "cheguei!". Só que desta vez não avisava ninguém porque, entre as paredes pintadas a tinta de água cor casca de ovo, nenhum outro corpo exalava uma mistura desigual de oxigénio desperdiçado, dióxido de carbono e água para além do dele. Nada mais se movia que não a cortina junto à janela que deixara aberta nessa manhã para arejar, até porque o corpo dele mantivera-se estático, irritado por ter subido os três andares daquele prédio nos subúrbios para entrar naquele apartamento mortiço em vez de se ter deixado ficar na esplanada, cara ao sol, testa franzida, olhos fechados, íris protegidas.

Voltou a chamar-lhe um nome, um palavrão rasca, uma classificação que ela provavelmente não merecia.

Puta.

Puta de merda.


6.6.08

*Bocejo*

Este blog anda maçador. Até a mim se aborrece, mas entre hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa hospital casa não há grande inspiração para mais nada.