31.7.08

Quando a música pára.

Para o Sebastian, ao som de Fleet Foxes.

Demora-se imenso tempo a ter um lugar, porque a vida não é a sala da Primária, com o nosso nome numa folha de cartolina tamanho A4 dobrada de forma a nos identificar. Mais depressa, nisto de se mudar, podemos comparar-nos com o jogo das cadeiras, em que um pobre cretino fica sempre de rabo no ar, atarantado, na busca vã de uma cadeira vazia para que não perca o jogo.


Quando pára a música.

Os outros riem-se, a música recomeça. O pobre cretino está fora do jogo.

Encontrar um lugar leva o seu tempo, isto quando se tem a sorte de encontrar um canto onde se pertença. É muito curioso isso no ser humano: querer descobrir-se e conhecer-se, pagar 200 euros por sessão de psicanálise, mais 100 por sessão de terapia de grupo e sair mais frustrado do que quando começara. Depois descobrir os seus pares, pessoas de percurso semelhante ou divergente do seu, mas que naquele momento estão como ele, algures sós, perdidas entre milhares de outros. Dão-se as mãos, sorri-se, confidencia-se. E quando pára a música está-se finalmente numa cadeira - está-se do outro lado, do lado de quem ri do pobre cretino que procura o seu assento.

Não é fácil ir embora sabendo que se tem de jogar o jogo das cadeiras noutro sítio qualquer. Impôr-se esse esforço colossal de ter onde encontrar conforto quando a música pára.

No silêncio aquilo que me vai safando é a alegria das partes de mim divididas entre todos os meus outros.

26.7.08

Duffy versus Amy

Adoro a voz da Amy-Winehouse-quando-sóbria; já a voz da sua so-called sucessora Duffy vai-me aos nervos de uma forma inqualificável (só aquele versito you got me beggin' you for mercy yeah yeah, aquele tom nasalado socorro).

Depois de ouvir o álbum quase todo da Duffy, posso ainda acrescentar uma coisa: na Duffy nada soa tão verdadeiro e autêntico como na Amy - eu sei que é fácil dizer isto tendo em conta a carruagem descarrilada com um escândalo todos os dias na primeira página do The Sun que ela se tornou -, e os arranjos são demasiado bem compostos, sem aquela genuinidade (genialidade, até) do Mark Ronson.

Se me permitem a conclusão - que apenas advém do facto do produtor do álbum ter sido guitarrista da banda - os arranjos da Duffy têm aquele lado dos Suede de que eu nunca fui lá muito fã, a opulência orquestral que rouba intimidade às canções.

Na Duffy há uma Warwick Avenue que parece começar bem e depois logo se afasta, e afinal a rapariga está a cantar por amor lá do alto do seu pedestal. Ora, ninguém escreve sobre desgosto quando está no topo dos seus saltos altos, de nariz empinado. Escreve-se sobre desilusão, isso sim, quando se está num canto de um quarto de persianas fechadas: é esse ambiente que o Ronson conseguiu dar às canções da Amy e torna o Back to Black tão bom.

De tal maneira bom que acho que vou ouvi-lo agora.

Noutras notícias, ao que parece já não é a Amy quem vai cantar o tema do próximo Bond, mas sim a Duffy. That's what you get for being a drunky.

24.7.08

"Bolonha" é uma maravilha em termos de manancial humorístico potencial.

Licenciei-me a semana passada e amanhã vou ser mestre.

21.7.08

Não consigo não pôr isto aqui.

A Rihanna não está onde está por acaso, não é a Jamaicana mais cool do mundo porque nasceu com o rabo para a lua, é assim porque faz coisas altamente válidas.



Ela aqui faz uma cover de uma das minhas canções preferidas de 2007 e de uma das minhas canções preferidas de 1998. E depois continua com a minha canção pop preferida de 2006 (que, por acaso, é dela e, para além de samplar, como ninguém, a Tainted Love dos Soft Cell - e Deus sabe como o Marylin Manson tentou, não é cover de nada).

Gente atrás dela, bom gosto pessoal, não me interessa muito. Adorava vê-la ao vivo.

Filhos de uma prostituta rameira.

Está a dar o Closer na televisão e só de ver o Jude Law a dar um beijo à Julia Roberts, logo ao início, já fico c'os nervos porque sei a quantidade de sofrimento que vem depois.

Raios os partam, ao filme, aos supracitados, ao amor que se parte, a esta incapacidade de estar satisfeito.

16.7.08

Jamie's School Dinners

É actualmente o meu programa de televisão favorito, se não contarmos com os Simpsons.

Já toda a gente ouviu falar em como o Jamie Oliver anda a tentar a mudar as cantinas pela Inglaterra a fora, o que nós não sabemos é a merda de comida que é servida aos putos nas cantinas*, a resistência que eles têm em experimentar tudo o que não seja falsamente dourado por óleo vegetal a 200º, as lágrimas que lhes caem em catadupa ao verem pratos de salada ou caril de vegetais ou wraps de frango (pensar que pagamos nós 3 euros na Go Natural para comer um wrap). E também desconhecemos o facto de que é uma refeição gratuita para os alunos (ah os países desenvolvidos!) e que para muitos deles a única (supostamente) decente porque os pais não têm dinheiro.

*Twizzlers de peru (aqueles smiley faces tipo douradinho), douradinhos de peixe, salsichas, batata frita, pizzas e hambúrgueres - por vezes há ervilhas e bróculos demasiado cozidos.

O que nós não sabemos também é que as cozinheiras não sabem cozinhar, porque a única tarefa delas desde há muito tempo é pôr estas porcarias pré-cozinhadas em óleo quente ou em fornos.

O programa anda a acompanhar o Jamie Oliver e a adorável Nora (a cozinheira da escola que serviu de tubo de ensaio ao projecto) nesta odisseia, desde formação a cozinheiras (foi a tragédia, quase nenhuma sabia sequer cozer esparguete) a piscares de olhos a professores (para envolvê-los no projecto), passando por ensinar os miúdos a cozinhar, a desfrutar dos vários sabores e texturas dos pratos bem feitos e arriscar experimentar coisas novas.

Seis meses depois, é bom ver os miúdos da primeira escola a pedir esparguete vegetariano, sem choros, sem birras.

No próximo episódio, o Jamie Oliver vai ao 10 Downing Street com dois pratos possíveis : o actual e o que ele quer introduzir. E o bom é que não se foge ao orçamento ao oferecer coisas saudáveis às crianças.

(Na Sic Mulher.)

14.7.08

Agora falta-me um gira-discos.


Aceitam-se mais presentes de fim de curso.

Um dos melhores presentes de sempre

Acabou de ser recebido por mim, em caixinha de cartão discreta e vindo da Suíça.



Em vinil, presente do Rodrigo de fim de curso. Obrigada. :* <3

13.7.08

Steve McQueen, I love you, why did you have to go?

DENIM SHIRT REVIVAL, JÁ!

Estava a ver um bocadinho do Ben Harper na televisão e reparei que sou totalmente a favor do regresso da camisa de ganga.

(Tudo a vasculhar o armário. Não me digam que já deram para caridade.)

(Os concertos dele continuam chatos chatos chatos.)

11.7.08

3:30 in the last night for you to save this
You’re zoning out, zoning out, zoning out, zoning out

This isn’t working,

you,

my
middlebrow

fuck-up.

Disco Sound 2008.

O concerto que mais gostei ontem - muito pelo factor surpresa, muito porque agora só me apetece dançar e ouvir concertos com muito ritmo e muito espectáculo - foi aquele que tinha a vocalista lésbica e a vocalista traveca que afinal era o vocalista apesar do corpo fabuloso e do cabelo brilhante.

Hercules and Love Affair, we now have an affair.

A cena.

Estavam a oferecer Wayfarers por cada bilhete comprado para o Alive?

Era o Encontro Anual de Wayfarer users de Lisboa?

As pessoas sabem que os Wayfarer, por muito que se queira pertencer a um qualquer movimento arty ou se seja um mero empregado da Bershka, não ficam bem a toda a gente?

6.7.08

Pediatria.

Quando se é criança e se está muito triste e/ou assustado, corre-se para os braços dos pais, seja a que horas for. Se for de noite, ocupa-se aquele espaço pequenino entre os dois na cama, ouve-se a inspiração mais pesada do pai e a mãe dá-nos um beijinho na testa e, entalada sob os corpos de ambos e o edredon pesado, adormece-se em paz, sem sonhos maus. Durante o dia, pode-se chorar alto em público, no meio da rua, que alguém vem logo em nosso socorro "perdeste a mamã?" e a mamã aparece ao fundo do corredor, ar consternado, "onde andavas? perdi-te no corredor dos champôs!" - acontecia-me imenso, distrair-me nos corredores do supermercado, ficar a olhar para os cremes, cheirar os aromas dos Ultra Suave todos, ver qual era a minha cor de cabelo segundo o catálogo da Elnett (era o Louro Dourado, na altura), deslumbrar-me com as cores dos batôns e as sombras de olhos - e depois a mãe abraça-nos e as lágrimas secam e, se tudo correr bem, ainda comemos um gelado à saída ou podemos ir ao corredor dos livros "mas depressa!" escolher um para ler quando se chegar a casa.
Não há decisões difíceis porque não as precisamos de tomar: o nosso lugar é ali, junto a eles, perto dos avós, dos tios e dos primos, o nosso único interesse é fazer os trabalhos de casa, cantar As Pombinhas da Catrina e ouvir os discos do pai, brincar com os Pin y Pon, fazer desenhos, moldar plasticina e pintar livros de colorir com números. Os afectos que temos pelos colegas da escola, por amigos que se fazem na praia ou no parque resumem-se a questões de idade, de companhia - e são esquecíveis, na medida em que quando o pai aparece, rapidamente nos levantamos e dizemos adeus. Os pais ajudam-nos se estamos indecisos em ver a VHS da Branca de Neve ou dos Peanuts, em comer iogurte de morango ou natural, em dormir em casa da amiga Carolina ou ir para Ponta Delgada com os primos.

Agora que se tem ancas, interesses próprios, amizades construídas com base nesses interesses em comum, nesses afectos, numa altura de mais ou menos necessidade de um amigo, objectivos definidos e metas delimitadas: os pais não podem decidir por nós porque invariavelmente teremos a sensação de que decidiram mal, nem se pode chorar na rua (ainda ontem contive as lágrimas, qual Maria Madalena) porque já se é grande e ocupamos demasiado espaço na cama de casal para nos podermos lá enfiar (além de que a cama está demasiado longe).

Não sei o que faça.