30.3.08

As compras frustradas em Londres


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Teriam sido excelentes compras, se libras fosse coisa que abundasse na minha carteira. (O que vale é que experimentei tudo e quando me der na telha, posso encomendar!)

O El Guincho é a puta da loucura em quatro rodas.

Adoro esta expressão e sempre quis usá-la num post, nada melhor do que descrever o concerto numa só frase (que é, aliás, o título). O que é que acontece num concerto dele? Ele tem uma cena com botões para fazer entrar os samples (um qualquer coisa assim Roland SP-404), percussão (só me ocorre a palavra tambor e não me parece que seja profissional), uma pandeireta e um microfone. Ah, e o transe dele, que eu aposto que é um instrumento musical per si. As canções tornam-se mais longas porque ele improvisa mais, de maneira que até parece uma nova canção mas afinal é "aquela" do disco, cheia de acrescentos, com uma introdução maior, ainda mais psicadélica.
De resto, é aquilo que se sabe: a puta da loucura em quatro rodas. A incapacidade em estar quieto. (Os indies britânicos, até eles, mexiam-se lá para o final e eu digo-vos: que plateia mais difícil!)

O alinhamento foi ligeiramente diferente do Alegranza:
Antillas
Kalise
Polca Mazurca
Fata Morgana
Palmitos Park
Prez Lagarto
Cuando Maravilla Fui
Costa Paraíso

(Acho que não houve Buenos Matrimonios Ahi Fuera.)

Claro que eu só descobri as letras no myspace dele a dois dias de ir para lá, então usava a minha macarrónica interpretação para acompanhar. Ainda assim, acho que a malta à minha volta pensou que eu sabia aquilo tudo de cor - e estavam parados, na grande maioria, visto que só eu, as minhas quatro amigas e dois espanhóis não relacionados connosco é que dançávamos.

Os Mystery Jets, que tocaram a seguir, são completamente naquela, mas têm um hype tremendo. Toda a gente, à excepção dos sete que dançavam, estava lá por causa deles - era o concerto de lançamento do novo álbum. Só tinham uma música de jeito "Hand me down" e até estou a ser simpática, mas são produzidos pelo Erol Alkan e já foram remisturados pelo Switch e todos os blogs falam neles. A Time Out britânica deu uma estrela ao álbum - e eu confio em tipos que conseguem compilar a vida cultural londrina numa revista. Claro que a malta indie estava em completa euforia. Não se compreende.

Blogs bonitos de gente bonita

O Rodrigo tem o Ladieslove há séculos (e antes disso já tinha tido o Clube de fãs do José Cid e e participado no Inimigo Musical - eram dele os posts que mais me faziam rir, como aquele dos gráficos do Jack Johnson e na altura não o conhecia e achava que ele devia ter para aí quase trinta anos). A Maria criou o Mariailoveyourtitties, porque é verdade, we all do love her titties e já era tempo de alguém ter um blog dedicado à mais delicada parte do corpo feminino e masculino sem ser ordinário mas sim witty como a Maria é. Entretanto fui a Londres (nunca será demais dizê-lo, meus caros) e quando voltei o Ilo também tinha o ///////////*(não sei se estão o número certo de barras) e o Mário acha que everything is fake.

Como a Maria achava que eu não tinha blog (porque nunca fiz share de posts meus) e eu até tenho este há 3 anos, pronto, não sei. A culpa de tudo isto é do Google Reader, tenho a certeza.

28.3.08

London's plain love.

Londres está viva, respira, recomenda-se e beija-se com ardor e paixão. Apesar de ter alguns defeitos que nunca pensei encontrar lá - pensei encontrar outros defeitos que acabei por não encontrar e andar mais de quinze minutos numa zona extremamente concorrida (a rua paralela ao Tamisa entre a Abadia de Westminster e as Houses of Parliament) e não encontrar um caixotinho de lixo onde deitar a minha caneca descartável de coffee with milk please é uma vergonha para uma cidade dita civilizada - é uma cidade pensada até ao milímetro e é isso que é tão bom que é cansativo. Tudo vale a pena ver ali, menos Stockwell que é onde estão os 'tugas emigrantes e é feio como qualquer bairro social e dá aquela sensação de que se está a passear na Cova da Moura, o que é sempre chato.
De resto, it's all plain love. Consigo perceber o fascínio. O meu próprio pai, que é um viajante assumido - só não é é caixeiro-viajante, é um caixeiro-sedentário, talvez, mais depressa - diz que Londres de tanta coisa que visitou continua a ter um lugar guardadinho no seu coração. E ele já esteve em quase todos os pontos do globo. Eu assino por baixo.
Londres cidade pulsátil, vibrante, frenética, mas com a educação e a elegância de outrora.
E vi neve, que é sempre uma coisa muito boa de se ver e sentir na ponta do nariz e ver acumular-se sobre as luvas e o casaco e a malha do cachecol, e torna qualquer passeio mais romântico e mais húmido. (Joana a enganar-se em Marble Arch ao ver o mapa "descemos esta" quando devíamos ter descido a perpendicular "oops é melhor apanhar o autocarro para não ficarmos um pingo").

Os autocarros! Double-deckers, people. Sempre a cantarolar "and if a double decker bus crushes into us" e depois procurava bem dentro de mim a ver se encontrava alguém que merecesse o "to die by your side is such a heavenly way to die" e por vezes encontrei, outras não. A propósito, mesmo sem lá estar "na falta de melhor, sim" foi a frase da viagem e passou a ser resposta para muita pergunta. E sim, tenho de confessar, aqueles 35 segundos de "oi tudo bem" que me souberam como um hot chocolate.

E as Tates! O reconhecimento do Turner como um homem de luz. O Duchamp como o maior artista dos nossos tempos. O British Museum como um lugar onde os ingleses mostram o resultado do seu saque de séculos (uma experiência valiosa).

Londres é uma idiossincrasia de si própria. Uma cidade moldada pela História, moldável pelo incrível cruzamento de povos, de gostos, de hábitos. Notting Hill, Camden, Covent Garden, Picadilly Circus, Oxford Street, tudo aquilo é amor.

Tudo isto é love, love.

22.3.08

Então até já

Vou a Londres e já venho.

"I still have a flame gun for the cute ones"

Não tenho nada de inteligente para dizer. Hoje estive a vegetar, apesar de ter tentado estudar durante parte da manhã, e até ter conseguido durante uma hora, mas depois só consegui pensar na viagem e na roupa que vou levar e naquilo que vou ver e nessas merdas todas que não interessariam se eu não fosse visitar Londres amanhã. De qualquer forma, nada disto seria relevante senão tivesse visto este vídeo

que me fez lembrar porque raio venero eu a Cat Power em primeiro lugar. Quanto mais ouço os álbuns pré-you are free mais entendo quem acha o the greatest "nada de especial", mas hey! quero que se fodam. Adoro todos, sem excepção. A moça nunca fez um álbum que eu não amasse, é a triste realidade com que tenho de viver, que triste que é.

Pergunto-me que raio terá o Bill Callahan para ter andado com esta moça. Há dias vi o Luís Costa Branco - Deus, não me lembro se é mesmo assim o nome dele, o da SIC Notícias - e perguntei-me que raio tinha ele para andar com tudo quanto é manequim deste país. Às tantas são gays, ambos. Não me admirava nada.

A questão é: não podendo ir ao Primavera, vou vê-la ao Coliseu, outra vez. Vou desenhar um coração com os indicadores e os polegares, outra vez. Vou chorar, outra vez.

(Lembro-me do dia do concerto dela na Aula Magna e de como nós, eu e coiso,ficámos a conversar a tarde inteira sobre o quanto a Chan era adorável e quais os melhores álbuns e as melhores canções. A conversa entreteve-nos a tarde toda. Estar nas Doutorais, olhar para trás e ele acenar-me - eu na segunda fila, ele na última da plateia, tão longe. Ligava-lhe muito pouco, nessa altura.)

Não é uma promessa, mas devo ver a Cat Power em maio.

20.3.08

Não sei se a beleza da canção vai ficar escondida sob o vídeo manhoso



Isto é particularmente sublime e extremamente recomendável.

Tunng :: Tale from black :: Mother's Daughter and Other Songs

18.3.08

Joana, look out (or you'll write about it all day)

Desconfio que não seja inocente o facto do Lookout Mountain, Lookout Sea começar com a What is not but could be if

What is not but could be if
We could be crossing this abridged abyss
Into beggining
Failure's got you in its grasp
And you're reaching for your very last
It's just beggining.
(...)
What is not but could be if
With all associated risk.

e acabar com a We could be looking for the same thing

We could be looking for the same thing
If you're looking for someone
We could be love to each other
If you're not seeing anyone.

Julgo que é apenas a vida e o Berman playing their little tricks on me.

(Ou então é coincidência. Ou não é nada disto que estou a pensar, que raio de mania de transpôr a Arte para nós próprios.)

Talvez esteja mesmo.

E sempre que ele diz "he dresses for success" na San Francisco B.C., penso que ele está a falar no Stephen Malkmus.

(Ainda se lembram "I was dressed for success, but success it never comes"? Ó, como se fosse possível esquecê-lo.)

A maneira como o Berman canta

"Now I'm here for good, I won't leave you anymore" é qualquer coisa. Quanta determinação.

P e r f e i t a .

Because the pillow that I dream on is the threshold of a kingdom
Is the threshold of a world where I'm with you
Is a darkened snowy secret
and it has to do with heaven
And what looks like sleep is really hard pursue.

(...)

Because the pillow that I dream on leads to some fantastic glory
Is the threshold of a world I can't ignore
Like time on school from heaven
Did you find me sleeping in your doorway?
Now I'm here for good, I won't leave you anymore.

Silver Jews :: My pillow is the threshold :: Lookout Mountain Lookout Sea

16.3.08

Blogging for dummies

Agora o blogger oferece a possibilidade de, para quem, como eu, nada entende de códigos html, ter um blog customizado à sua imagem e semelhança. Ou pelo menos, um blog diferente dos 500 mil blogs que visitava e que tinham o mesmíssimo esquema de cores, tipo de letra, etc etc.

Agora temos Trebuchet (o meu segundo tipo de letra favorito), verde e rosa (as minhas cores favoritas) e os títulos a preto (que eu sempre quis). Já gosto mais um bocadinho do Desumanos outra vez.

Para a Emma, por um tempo há muito tempo atrás

Aparentemente, ele ia só afastar-se do mundano. Recolher-se a meio do nada, envolvido por si mesmo, algures entre a neve e o vento e o calor de uma lareira. Depois, as canções nasceram: a sua voz, suave e magoada, primeiro, os falsettos, a subidas angustiadas de tom, as entradas suspiradas, e posteriormente adicionadas as camadas de orquestrações (percussões desalinhadas, coros etéreos), tudo muito simples e sem confusões, porque quando se está só, não há nada nem ninguém a quem a canção se tenha de sobrepôr.

Quase podia ser mais um enfastiante cantautor que ouviu demasiado Bob Dylan e Neil Young no gira-discos dos pais. Quase podia ser um disco igual a tantos outros, musiquinha que se trauteia no imediato e depois tão facilmente se esquece.



Mas é na distância desse quase que residem as canções, autênticas, honestas, pungentes.

Bon Iver é um misspelling propositado de Bon Hiver. Bom (fim de) Inverno.

Bon Iver :: For Emma, for a long time ago

13.3.08

We sure are cute for two ugly people.

"You're a part time lover and a full time friend.
The monkey on your back is the latest trend

I don't see what anyone can see in anyone else but you."


The Moldy Peaches :: Anyone else but you

Juno

Gostava de ser ainda mais indie que os indies e de ter, por isso, odiado o Juno.

Mas não, nada disso. É tão bonito, tão depressa se chora aos soluços como se ri à gargalhada, a Ellen Page faz um papel sarcástico-doce que lhe assenta como uma luva (ou ela assenta bem nele, c'est possible), o Michael Cera é adorável, o Jason Bateman é um o músico contido pela mulher perfeccionista (adoro-o). E tem uma banda sonora que meu Deus!

12.3.08

"My only weapon is my pen" *

"Sir! I've got a good mind to take you outside. Outside, outside."

Continuo a adorar o álbum novo dos Hot Chip. Cada vez mais, até. Tem uns seis ou sete momentos que são verdadeiros hinos, como esta Hold on, e que compensam em larga escala outros que são - confesso - verdadeiras xaropadas (mesmo que usar este termo seja um exagero, é preciso avisar os senhores do chip quente que ninguém consegue fazer uma Colours duas vezes na vida).

*Ou o meu teclado, neste caso.

Ah! E o Jamie Lidell é um senhor: o novo Jim está de lamber os beiços (como era, de resto, de esperar depois do Multiply.)

E estamos assim: dancemos!

*foge mesmo para a biblioteca*

As minhas várias dores de cabeça

P'o raio qu'o parta mais as obras do vizinho de cima, foda-se. É tão alto que mais parece que sou eu quem está a fazer a puta do buraco na parede. Para além do mais, apartamentos não são para parecer favos de mel (esta furadeira parece que já está há mais de uma semana, pergunto-me se ainda há parede p'a esta gente furar).

*foge para a biblioteca*

Advogados que me visitam, não há nenhuma lei que proíba isto? É que é mesmo muito alto, é insuportável e dura há tanto tempo - e ninguém me pediu autorização.

10.3.08

Sound of kuduro knocking at my door

2005: depois de afastada do hiphop por razões de variadíssima índole, oiço a Galang e rendo-me ao Arular da M.I.A. Vou por esses caminhos e regresso ao hiphop, torno-me então disponível, como nunca, para conhecer tudo o que lhe eram raízes e tudo o que lhe eram frutos.

2006: conheço os Buraka, via o-mais-energético-concerto-de-sempre no Mercado. Sai o From Buraka to the World, nesse Verão, que oiço exaustivamente. Assisto o tudo o que me é humanamemte possível em que os Buraka participem.

2007: os Buraka internacionalizam-se, a M.I.A. lança o Kala (discaço, ponto final). Danço ao som de Buraka no Alive com um jornalista da nossa praça (queria deixar isto registado, porque foi uma surpresa: diz que aprendeu com uma pretinha em festas kuduro hardcore em Odivelas.)

2008: a M.I.A. participa no single dos Buraka. Vicio-me: isto é como se os Buraka não quisessem agradar a ninguém (como quem diz, educaram o ouvido e a pista, ensaiaram o cu dos brancos, agora aguentem-se com esta).

Não há nada para concluir. Apeteceu-me fazer um apanhado biográfico em vez de apenas deixar por aqui o vídeo.



Isto é *****. AVÉ MARIA!

(Xé, dama! Não dá p'ra parar, não dá p'ra 'tar quieto.)

Os controlos do blogger (e a redenção virtual)

Sobreviveu mais uma vez, o blog. Tenho de deixar de o culpar sempre que algo de quase-cataclísmico me acontece.

(Estive, há coisa de duas semanas, a olhar fixamente para o Delete Blog. [Font = Georgia] Entretanto fui para o Alentejo e perdi a ideia que tinha para o meu post de closure (de apagar o blog passei a ter vontade de o deixar zombie, mais uma alma assombrada vagueando na blogosfera).

A ideia foi-se. E entretanto, tudo isto dentro de mim a querer sair sem ter maneira (a quantidade de leitura que faço é proporcional, na minha auto-avaliação, à má qualidade da minha escrita, isto é, quanto mais leio, pior julgo que escrevo). É difícil escrever um texto, depois de ter lido um capítulo do Roth, e achar que "sim, sim, está belíssimo, vou já dá-lo a ler."

Pressione Ctrl com P = Publicar. Estou viva, ao que parece.

E falar continua a ser uma coisa muitíssimo sobrevalorizada.

Rather Lovely Thing.

Tenho perfeita noção que os espaços entre as pedras da calçada são feitos de verdades negras e amorfas. Continuo a acreditar nisto, como talvez quem acredita que um dia houve uma explosão mesmo muito grande que rebentou com um ovo cósmico donde depois se soltaram montes de calhaus em forma de planetas e estrelas, e num deles a energia foi água e a água foi vida. É possível. É possível que os nossos passos pisem a verdade, às vezes indolentemente, outras tão depressa que quase nem a magoamos com o peso do corpo. É possível que passemos pela verdade vezes sem conta ao longo do dia, ao longo da vida, e nunca nos apercebamos dela, e ela depois doa (dói sempre). É possível que a verdade não seja verdade, ou não seja única, ou não seja só isso de não ser mentira. Só não chego a perceber porque raio se esconde a verdade no chão, quando estaria tão mais próxima de nós se andasse nas nossas mãos e fosse trocada todas as vezes que as nossas palmas tocassem outras. É que assim as verdades eram uma só, e se for mesmo verdade que cada um de nós está ligado a toda a gente do mundo, então um dia poderíamos ter tido como nossas tantas verdades quantas pessoas alcançássemos.

Um dia terei nas mãos mais verdades que mentiras e saberei distinguir as intenções das interjeições, e a estas duas poderei simplesmente marcá-las com a palavra lixo

(tenho uma caixa no quarto que serve para ir pondo lixo que não é bem lixo mas que um dia vai acabar por sê-lo, por enquanto é só um resto de coisas que foram ficando comigo e que, em abono da exactidão do discurso, nunca foram bem coisas, mas antes pessoas, emoções, receitas e bocados de músicas ou letras, algumas cartas de amor, aqui e ali, a maior parte delas nunca conheceram sequer viagem de ida)

guardá-las (às intenções e às interjeições) nessa caixa e deixá-las ali no canto do quarto, esquecidas por quem prefere sempre não esquecer.

Os bilhetes de concertos continuam fora da caixa. Como se os concertos - e a música, sempre a música - fossem mais verdade que tudo o que foi passando. Como se os concertos - e a música, outra vez - ficassem, enquanto o resto vai.