Naquele dia de que não me lembro de ter sido dia, o dia de noite eterna, o dia inerte, escuro, cinzento e frio, eu estava só. Consigo precisar onde andavam todos os outros e eu também, amolecida em tédio de viver no sofá, com a televisão desligada. O silêncio e a falta de luz e aquele instante exacto, nem antes nem depois, em que desejei morrer para nunca mais sentir uma dor tão grande como aquela, uma dor que não passava com analgésicos, uma dor que sangrava sem pingar o chão, só os meus sonhos por terra, um por um e depois todos juntos, troçando primeiro das minhas lágrimas, depois, à medida que iam secando, juntando-se nas cordas vocais, eu afónica, depois na traqueia, eu apneica, dispneica, e aquela dor que me batia e me empurrava. A dor cada vez maior e os olhos secos, e a dor de cabeça que me encostou a um canto do corredor, eu pequena, minúscula, ocupando um espaço de nada em casa, na cidade, na Terra, um grão de pó contra as paredes vazias, e a pancada que continuava e as gargalhadas que ouvia e eu, finalmente cansada, finalmente adormecida sobre o soalho, enrolada sobre mim mesma, gélida por dentro e por fora.
Mas viva.
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