Para o Sebastian, ao som de Fleet Foxes.
Demora-se imenso tempo a ter um lugar, porque a vida não é a sala da Primária, com o nosso nome numa folha de cartolina tamanho A4 dobrada de forma a nos identificar. Mais depressa, nisto de se mudar, podemos comparar-nos com o jogo das cadeiras, em que um pobre cretino fica sempre de rabo no ar, atarantado, na busca vã de uma cadeira vazia para que não perca o jogo.
Quando pára a música.
Os outros riem-se, a música recomeça. O pobre cretino está fora do jogo.
Encontrar um lugar leva o seu tempo, isto quando se tem a sorte de encontrar um canto onde se pertença. É muito curioso isso no ser humano: querer descobrir-se e conhecer-se, pagar 200 euros por sessão de psicanálise, mais 100 por sessão de terapia de grupo e sair mais frustrado do que quando começara. Depois descobrir os seus pares, pessoas de percurso semelhante ou divergente do seu, mas que naquele momento estão como ele, algures sós, perdidas entre milhares de outros. Dão-se as mãos, sorri-se, confidencia-se. E quando pára a música está-se finalmente numa cadeira - está-se do outro lado, do lado de quem ri do pobre cretino que procura o seu assento.
Não é fácil ir embora sabendo que se tem de jogar o jogo das cadeiras noutro sítio qualquer. Impôr-se esse esforço colossal de ter onde encontrar conforto quando a música pára.
No silêncio aquilo que me vai safando é a alegria das partes de mim divididas entre todos os meus outros.