Irritam-me casaizinhos aos beijos sob as luzinhas da Rua Augusta. Iritam-me alfacinhas em romaria para ver a árvore do Millenium (sim, deixem-se de merdas, é a árvore de um banco, não a que decoraram com os vossos filhos ou assim).
Chateia-me de morte que o preço das castanhas asssadas aumente todos os anos. Poucas coisas me dão tanto prazer do que comer uma dúzia de castanhas sentada num banquinho. Estou-me bem nas tintas para quem me ache deprimente. Eu também me acho deprimente e não é por aí que fico triste. (Eu sou deprimente mas não sou triste.)
Outra coisa óptima para se fazer quando o frio aperta é comer um croissant com chocolate na Bénard. São tão bons! Fico toda lambuzada em chocolate, nos dedos, na boca, no queixo. algum nas bochechas, mas é tão bom! Nunca me lembro de lá ir quando estamos no Verão, mas mal o frio aperta ou começa a chuva, é poiso certo.
É engraçado sentar-se na esplanada da Bénard - ou da Brasileira, se bem que nesta não se comem croissants - e ver/observar/estudar a fauna e flora que por lá anda. Gosto da Baixa por muitas razões e esta é certamente uma delas: hippies, rastas, punks, betos, tiazonas, indies, mitras, malta-do-ghetto, ciganos, alunos-de-belas-artes (sim, é um grupo social), fashioneers, gays, por lá se encontra de tudo um pouco e sempre em salutar convivência. É interessante - e interessante é uma palavra que quer, na sua essência, dizer muito pouco.
É extremamente vaga a palavra interessante. É uma boa palavra de recurso, poder-se-ia dizer "acho interessante" seguido de um "mas não me interessa muito" que ninguém se surpreenderia. É raro qualquer coisa que seja verdadeiramente interessante nos fazer dizer "É interessante". Geralmente acabamos por mostrar mais entusiasmo, alguns gritos de satisfação, "espectacular" entoado com muitos pontos de exclamação. Agora ninguém diz "é interessante"!
Por exemplo, quando vi Animal Collective ao vivo há um ano e picos - excelente concerto, já agora - não usei nunca a palavra interessante para descrevê-los, apesar de efectivamente achar interessante a forma como distorcem a pop. Lembro-me de ter usado "genial", "brilhante", "sublime", mas nunca interessante!
Os Animal Collective já voltavam cá para mais um concerto. Ainda há dias pensei nisto e pensei também "fixe era virem cá os Death Cab for Cutie". Não era inusitado? Eu ia vê-los de certeza. Lembro-me que antes achava-os um guilty pleasure. Já me apercebi que there's no such thing. Ontem dancei Nelly Furtado, Kelis, Justin Timberlake, como se nada fosse. Pérolas indie era o que pareciam.
Desmistifique-se a pop - quando é bem-feita - tal como se desmistifica a pouco e pouco a moda de outros anos, revivendo-a - ou revisitando-a. A propósito, a pressão social sugere-me que compre umas galochas. Parece que são a grande tendência de calçado no Bairro Alto. Eu gosto, por mais que me lembrem botas de pisar uvas nas vindimas (porque de facto são botas de pisar uvas). Se calhar não vou comprar galochas nenhumas. Mas preciso de umas botas pretas. E de umas skinny jeans.
Gosto daqules casacos Adidas de há 30 anos atrás. São tão estilosos. E de calças Carhartt. Streetwear no seu melhor, sem nunca ficar desactualizada. Investimento, diria eu, para convencer a minha mãe.
Por falar em Adidas surgiu a hipótese de voltar a jogar andebol. Treinar três vezes por semana e ter um jogo por fim de semana, tudo no Liceu Camões. É uma hipótese que estou a considerar com carinho. Tenho muitas saudades de jogar. Julgo que os primeiros treinos correriam pessimamente mas depois o jeito voltaria - não que alguma vez tenha tido muito jeito. Não, não tive. Já não jogo há 5 anos.
Se calhar é do que preciso, mesmo. Rematar dos nove metros quatro vezes por semana para voltar a ser menos picuinhas. Organizar jogadas quatro vezes por semanas para deixar de andar a organizar a minha vida de cinco em cinco minutos. Gastar cerca de sete horas por semana com o andebol - serão menos sete horas a pensar na vida.
É, se calhar é disso que preciso. Acho que vou fazer um treino à experiência.
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