Que eu gosto do Kanye West é uma fava contada, portanto é com alegria que recebo a notícia das vendas do Graduation terem sido maiores do que as do Curtis, álbum do gajo-que-foi-baleado-nove-vezes-e-sobreviveu. Polémicas (e necessidade de protagonismo) à parte, ambos têm mais em comum do que a cor da pele e a secção da loja de discos onde se encontram os seus álbuns.
Não consigo deixar de fazer-vos notar que "I'm tired of using technology, won't you come sit on top of me", versos de AYO Technology, um dos singles que 50 Cent lançou, e em que partilha o papel principal com o Justin Timberlake, e "I need you to hurry up now 'cause I can't wait much longer", do single Stronger, do Kanye, têm em comum a temática - autoritarismo e desejo sexual, mas partilham também oportunismo. 50 aproveitou-se do Justin Timberlake, cantor pop de quem tem sido permitido gostar e comprar disco (o que o deve, não só ao seu falsete, mas também a Timbaland - ó-ó, devo falar de oportunismo outra vez?). Kanye aproveitou a onda French Kiss, com os Justice a pôrem o nome Daft Punk na boca do mundo mesmo que estes nem tenham lançado nada de novo - ok, a ver se me faço compreender agora: os Daft Punk não precisam que ninguém fale neles, bastou-lhes fazerem discos memoráveis e terem um dos melhores vídeos de sempre (Around the World, do Gondry) para jamais serem olvidados, mas já os Justice precisam de ter um nome como os Daft Punk por trás para que alguém fale neles (hm, e um bom vídeo também). Stronger sampla a Harder, better, faster, stronger, num ano em que anda toda a gente com saudades dos Daft Punk, e segue, criteriosa e detalhadamente, a linha estética gaulesa da Ed Banger.
Nada de novo, portanto. O Graduation é um disco bom, apenas bom. O Curtis não ouvi, mas aposto que é pior.
23.9.07
[Lisbowood]
Poderia começar: Imagino um filme em transe e por trás música trance, luzes, efeitos de luzes e fumos, o corpo descontrolado num corredor onde pessoas, homens e mulheres, mulheres e mulheres, homens e homens se beijam. Beijos molhados à la Shortbus, beijos com o corpo todo - as mãos, as víseceras, os pénis e clítoris, roupas que caem pelo chão, uma por uma, peça a peça, depressa.
Poucas expressões me irritam tanto como à la. Acabei de usá-la, bem sei. É um estrangeirismo incomodativo: ó sim, a crítica de estrangeirismos que passa metade da vida a falar em francês, inglês ou castelhano. Não posso criticar ninguém porque eu própria faço tudo aquilo que me irrita. E continuo a criticar, o que é surpreendente.
VOltando ao filme. Afinal não passa música trance, mas passa Von Südenfed na discoteca de paredes sujas. A rapariga que circula - um autêntico lugar-comum, numa má trip, aliás, numa péssima trip, a miúda de franja e cabelo castanho claro, cortado a direito nos ombros, o corpo ossudo e longilíneo - dá encontrões aos casais encostados à parede (alguns nem casais são, são grupos de três ou quatro pessoas, de afectos misturados). Falta-lhe nitidamente alguém - como se tivesse alimentado o corpo e faltasse alimentar o espírito. Um rapaz agarra-a, tem grande parte dos dentes podres mas uns olhos extremamente profundos e tenta beijá-la. Ela nem o vê nem o sente imediatamente, quando o faz, só a boca está ao alcance do olhar - os dentes negros, a halitose, os buracos pela falta de peças dentárias. Ela contrai-se num espasmo - primeiro pensa-se que é a dançar, como que a provocá-lo, depois não, é um espasmo emético, um vómito biliar, de dentro de si para o chão [agora ainda mais] imundo, para logo ser pisado por pés e espalhar-se pelo pavimento, em pegadas progressivamente mais finas, até se diluir com o visco que cobre a alcatifa.
Poderia começar assim, e continuar, com um olho nos últimos filmes que vi, e os dedos no últimos livros que li. Os ouvidos certamente presos às Tromatic Reflexxions, que me fazem pensar em sub-woofers e na necessidade imperiosa de ter, em Lisboa, um sistema de som decente, onde se oiça cada som, cada vibração, para que as paredes dancem, estalem e caiam objectos ao chão e toda a casa me persiga e, em vez de uma discoteca suja, onde há suor e droga a mais, por onde passeio o corpo e abano os membros - também eu longilínea e ossuda, embora sem franja e com o cabelo escadeado. A casa cada vez mais estreita contraindo-se em meu redor, para logo asfixiar-me em tinta branca e betão armado. A casa impecavelmente limpa, arrumada, numa organização sem par em qualquer outra área da minha vida - o resto é sempre o caos, com as ideias por arrumar, os amores por perceber, os laços por atar.
Os posts grandes onde alinho ideias que só fazem sentido agora - as ideias, boas ou más, só aparecem uma vez. Também é assim com tudo o resto: a vida é uma metáfora de si mesma; o simbolismo dos exemplos são sentidos práticos de factos acontecidos ou por acontecer. Uma má trip - ou um mau dia, se é que eles existem. Tromatic Reflexxions: faz-me sorrir, parece que hoje tudo encaixa, tudo se encadeia. Finalmente. Não há coisas más, nem acontecimentos maus nem más trips, nem nada. Há lugares traumáticos (lugares, num sentido lato, de tive este momento, estive ali, com tal pessoa, a fazer tal coisa) e lugares agradáveis, a que- nem que seja com a memória - queremos voltar.
Poderia acabar: ela deitou-se, ou caíu, e acabou por adormecer (ou ficar inconsciente). Foi um final feliz.
Poucas expressões me irritam tanto como à la. Acabei de usá-la, bem sei. É um estrangeirismo incomodativo: ó sim, a crítica de estrangeirismos que passa metade da vida a falar em francês, inglês ou castelhano. Não posso criticar ninguém porque eu própria faço tudo aquilo que me irrita. E continuo a criticar, o que é surpreendente.
VOltando ao filme. Afinal não passa música trance, mas passa Von Südenfed na discoteca de paredes sujas. A rapariga que circula - um autêntico lugar-comum, numa má trip, aliás, numa péssima trip, a miúda de franja e cabelo castanho claro, cortado a direito nos ombros, o corpo ossudo e longilíneo - dá encontrões aos casais encostados à parede (alguns nem casais são, são grupos de três ou quatro pessoas, de afectos misturados). Falta-lhe nitidamente alguém - como se tivesse alimentado o corpo e faltasse alimentar o espírito. Um rapaz agarra-a, tem grande parte dos dentes podres mas uns olhos extremamente profundos e tenta beijá-la. Ela nem o vê nem o sente imediatamente, quando o faz, só a boca está ao alcance do olhar - os dentes negros, a halitose, os buracos pela falta de peças dentárias. Ela contrai-se num espasmo - primeiro pensa-se que é a dançar, como que a provocá-lo, depois não, é um espasmo emético, um vómito biliar, de dentro de si para o chão [agora ainda mais] imundo, para logo ser pisado por pés e espalhar-se pelo pavimento, em pegadas progressivamente mais finas, até se diluir com o visco que cobre a alcatifa.
Poderia começar assim, e continuar, com um olho nos últimos filmes que vi, e os dedos no últimos livros que li. Os ouvidos certamente presos às Tromatic Reflexxions, que me fazem pensar em sub-woofers e na necessidade imperiosa de ter, em Lisboa, um sistema de som decente, onde se oiça cada som, cada vibração, para que as paredes dancem, estalem e caiam objectos ao chão e toda a casa me persiga e, em vez de uma discoteca suja, onde há suor e droga a mais, por onde passeio o corpo e abano os membros - também eu longilínea e ossuda, embora sem franja e com o cabelo escadeado. A casa cada vez mais estreita contraindo-se em meu redor, para logo asfixiar-me em tinta branca e betão armado. A casa impecavelmente limpa, arrumada, numa organização sem par em qualquer outra área da minha vida - o resto é sempre o caos, com as ideias por arrumar, os amores por perceber, os laços por atar.
Os posts grandes onde alinho ideias que só fazem sentido agora - as ideias, boas ou más, só aparecem uma vez. Também é assim com tudo o resto: a vida é uma metáfora de si mesma; o simbolismo dos exemplos são sentidos práticos de factos acontecidos ou por acontecer. Uma má trip - ou um mau dia, se é que eles existem. Tromatic Reflexxions: faz-me sorrir, parece que hoje tudo encaixa, tudo se encadeia. Finalmente. Não há coisas más, nem acontecimentos maus nem más trips, nem nada. Há lugares traumáticos (lugares, num sentido lato, de tive este momento, estive ali, com tal pessoa, a fazer tal coisa) e lugares agradáveis, a que- nem que seja com a memória - queremos voltar.
Poderia acabar: ela deitou-se, ou caíu, e acabou por adormecer (ou ficar inconsciente). Foi um final feliz.
6.9.07
A roupa da Kate Moss
Este Verão andei completamente desligada do computador (uma benção, digo eu), mas sempre que vinha ver os mails tinha um mail da Topshop, porque estou inscrita na mailing list. A Topshop é uma cadeia de lojas inglesa, com lojas por muito lado excepto Portugal e com colecções do melhor que existe - roupas com carisma, distintas e cheias de estilo.
Como era a minha correspondente virtual mais assídua, acho que posso considerar a Topshop a minha melhor amiga virtual de Agosto de 2007. Entretanto, chegou a colecção da Kate Moss para o frio que se avizinha - honestamente, e pondo de parte o que ela usa no nariz, a Kate Moss é uma czar dos trapinhos.
A ver aqui!!!
Quem me dera: o cachecol às riscas, o vestido azul, a camisola às riscas rosa e preta com remates cinzento.
E saibam que o meu apreciado cinzento é a cor da estação.
P.S. Desumanos goes Vogue.
Como era a minha correspondente virtual mais assídua, acho que posso considerar a Topshop a minha melhor amiga virtual de Agosto de 2007. Entretanto, chegou a colecção da Kate Moss para o frio que se avizinha - honestamente, e pondo de parte o que ela usa no nariz, a Kate Moss é uma czar dos trapinhos.
A ver aqui!!!
Quem me dera: o cachecol às riscas, o vestido azul, a camisola às riscas rosa e preta com remates cinzento.
E saibam que o meu apreciado cinzento é a cor da estação.
P.S. Desumanos goes Vogue.
Subscribe to:
Posts (Atom)