Queria conseguir fingir que sou forte, esconder-me sob esta máscara de segurança durante mais tempo, sem hesitações, sem dúvidas. Queria ter certezas, queria dizer o que sinto sem medos, sem armadilhas, dizer que sou assim, que não tenho culpa de o ser. Não me sentir culpada por querer o que quero, por estar sem força para chorar, para amar, para lutar.
Gostava que o mundo parasse num momento, que esse instante se eternizasse, que a minha vida fosse feita desse bocadinho, que ninguém me fizesse perguntas, apenas me deixasse vivê-lo como eu sempre o imaginei.
Pelo menos saber por onde vou, que direcção tomar, que passo dar.
Qual é o peso da morte? Eu gostava de ser cremada, para nunca apodrecer, e não queria que o meu pó ficasse debaixo da terra... Sete palmos de terra sobre mim seria demasiado asfixiante, logo eu que sinto claustrofobia na estação de metro do Chiado (que tem um pé-direito altíssimo). Eu quero sentir o sol quando estiver morta, saber como está o dia: se o vento está frio ou húmido, se as nuvens estão carregadas ou se são apenas tufos leves e brancos, se está chuva ou geada.
Qual é o peso da vida? Se for o peso que sinto no peito por me ter arriscado a vivê-la por umas horas, então a vida é extenuantemente maciça. Ninguém me avisou que isto ia ser assim; que se podia complicar desta maneira - que eu, um dia, iria hesitar entre o passar pela vida sem dar nada nem receber em troca ou que, para conseguir alguma coisa gratificante, teria que dar muito mais do que alguma vez irei receber.
Às vezes escrevo neste espaço vazio e os meus dedos levam-me para histórias de amor impossíveis ou pouco possíveis, para canções alegres sem sentido, para celebrações à vida e ao que ela contém. Se tudo fosse tão fácil quanto nos filmes em que as coisas ficam bem a meia hora do final, em que se roubam sorrisos e nos apaixonamos pela pessoa que mais odiamos, em que o mundo não acaba porque os americanos o salvam.
Na realidade há conflitos, há mesquinhez, há egoísmo e ninguém me vem salvar deste cataclismo em que me envolvi porque o meu coração me mandou (se tivesse sido a razão se calhar as coisas seriam bem diferentes). Ninguém quer saber do que se passa com as vinte e uma gramas que perdemos após a morte, olham para nós "Ai que gira que estás! Essa t-shirt é tão gira!" mas se pedimos ajuda para algo mais grave, viram costas e procuram um amigo com um fardo mais leve porque as coisas que realmente importam devem ser ignoradas, tratadas com despeito e é assim que toda a gente age perante um problema. Ou então tratam de espetar o dedo e apontar culpados, como se a culpa fosse solteira e houvesse apenas um réu em cada julgamento final.
Optamos sempre pela solução mais simples porque é exactamente aquela que não nos faz sentir como eu me sinto hoje, cansada, triste, sem motivo nem linha de orientação. Só não sabemos que sempre que escolhemos o caminho fácil, perdemos uma grama de alma, de amor-próprio e de amor pelos outros, que perdemos o sentido da vida até ela se reduzir a uma data de banalidades.
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