Estava perfeitamente combinado então, às 16 horas na porta do Monumental, sessenta euros na mão, na mão do anónimo dois bilhetes que garantiriam uma noite extremamente emocional na Aula Magna. Na cabeça, ideias dispersas que se centravam numa abordagem divertida mas também compenetrada, sobretudo empenho em esconder a timidez e o receio de desconhecidos. A alma, no sério compromisso de baralhar o corpo (como já é seu costume), sugeria ainda um convite para tomar café, caso o moço fosse simpático.
Aproximou-se da porta a medo, não conhecia o rapaz, ele também não a conhecia, não havia rosas na mão (que chamariam a atenção) mas sim dois bilhetes iguais a tantos outros papéis azulados com letras impressas a preto. De repente, reparou: só podia ser ele, que também olhava em redor, uma t-shirt verde que em tudo fazia sobressair o mesmo tom nos olhos. E houve qualquer coisa que a desarmou, deitando no saneamento básico lisboeta toda e qualquer hipótese de parecer uma pessoa normal. Palavras ditas para dentro como que engolidas cada vez que tentavam sair, quando o que mais apetecia era dizer qualquer coisa extremamente inoportuna como "ninguém me avisou que eras tão giro". E a falta de à-vontade que aquela surpresa causara fez com que o encontro demorasse 46 segundos, nem mais nem menos.
E por isso, não querendo ele confirmar o valor monetário em jogo, assim viraram costas e foi cada um à sua vida para sempre.
Para sempre?
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