"Hoje estava a andar a pé e reparei que sei de cor a Summertime do Gershwin." [entusiasmo]
"Qual é essa." [desinteresse]
"Aquela do Porgy and Bessy, "summertime and the wheather is easy"." [faz voz de cantora de jazz]
"Já sei. Sabes de cor?" [espanto]
"Sei. E no regresso apercebi-me que também já quase sei a Poetas do karaoke toda." [alegria]
"És uma pessoa muito desocupada, Joana." [sarcasmo]
27.12.06
Mundo Feminino, edição século XXI
Já não é a primeira vez que temas femininos são abordados neste blog. Não quero tornar isto uma versão barata de uma revista feminina (se bem que às vezes conto aqui coisas dignas de figurar nas páginas do consultório da Maria), mas há certas coisas de tal maneira intrincadas nisto de ser mulher (ou miúda, conforme o caso)que eu preciso de abordá-las aqui.
Uma dessas coisas é a depilação. A depilação é um acto íntimo. Há filosofia na depilação: sujeitar-se a dor, física, real, em prol de um bem estético. Aliás os noems das senhoras dizem isso mesmo: são esteticistas. Há também sociologia na depilação: a partilha daquele momento íntimo mas doloroso torna vítima e agressor cúmplices, uma espécie de síndrome de Estocolmo versão quanto-mais-te-bato-mais-gostas-de-mim.
Eu era já amiga da minha esteticista (e já vão perceber porque estou a usar o pretérito imperfeito). Chamava-se Cristina, tinha uma filha de 6 anos, um namorado que não era o pai da filha, morava numa casinha junto à casa da mãe. Eu também lhe contava parte da minha vida, aulas, amores, desamores, saídas à noite. Sobretudo expunha-lhe as minhas dúvidas "devia fazer as sobrancelhas?", "o que fazer perante uma borbulha" ou "como resolver pêlos encravados" eram temáticas profundamente debatidas entre mim e a minha esteticista.
Uma semana antes de vir para a Madeira os pêlos estavam a precisar de uma camada de cera mas aguentei para poder visitar a Cristina. Pois marquei a depilação e qual não é o meu espanto quando lá apareço e quem me recebe é uma menina loura, com mais de metro e meio e que nunca me viu mais gorda.
Com a pergunta "costumava vir aqui?" começou então uma série de constrangimentos entre mim e a que vim a saber chamar-se Daniela, passando pelo silêncio praticamente sepulcral. Pensei que ia seguir a Cristina onde quer que ela estivesse, várias vezes na depilação das pernas. Pensei que a Sónia não tinha nada que trocar a Cristina só porque ela não tinha curso de esteticista. Afinal o que ensinam no tal curso que uma mulher não saiba por instinto? Pensei que a Cristina não tinha o direito de me abandonar desta maneira.
Mas quando me apercebi que a coisa estava feita e que não me tinha doído nada de especial, limpinhas que estavam as virilhas e as axilas, percebi a utilidade de um curso de esteticismo ou de seja lá o que for que esta malta estuda. E a Daniela disse mesmo "isto se lhe doía asim tanto antes é porque a rapariga não sabia fazer isto." Meio cabra, a Daniela, apesar de jeitosa para o seu trabalho.
Uma dessas coisas é a depilação. A depilação é um acto íntimo. Há filosofia na depilação: sujeitar-se a dor, física, real, em prol de um bem estético. Aliás os noems das senhoras dizem isso mesmo: são esteticistas. Há também sociologia na depilação: a partilha daquele momento íntimo mas doloroso torna vítima e agressor cúmplices, uma espécie de síndrome de Estocolmo versão quanto-mais-te-bato-mais-gostas-de-mim.
Eu era já amiga da minha esteticista (e já vão perceber porque estou a usar o pretérito imperfeito). Chamava-se Cristina, tinha uma filha de 6 anos, um namorado que não era o pai da filha, morava numa casinha junto à casa da mãe. Eu também lhe contava parte da minha vida, aulas, amores, desamores, saídas à noite. Sobretudo expunha-lhe as minhas dúvidas "devia fazer as sobrancelhas?", "o que fazer perante uma borbulha" ou "como resolver pêlos encravados" eram temáticas profundamente debatidas entre mim e a minha esteticista.
Uma semana antes de vir para a Madeira os pêlos estavam a precisar de uma camada de cera mas aguentei para poder visitar a Cristina. Pois marquei a depilação e qual não é o meu espanto quando lá apareço e quem me recebe é uma menina loura, com mais de metro e meio e que nunca me viu mais gorda.
Com a pergunta "costumava vir aqui?" começou então uma série de constrangimentos entre mim e a que vim a saber chamar-se Daniela, passando pelo silêncio praticamente sepulcral. Pensei que ia seguir a Cristina onde quer que ela estivesse, várias vezes na depilação das pernas. Pensei que a Sónia não tinha nada que trocar a Cristina só porque ela não tinha curso de esteticista. Afinal o que ensinam no tal curso que uma mulher não saiba por instinto? Pensei que a Cristina não tinha o direito de me abandonar desta maneira.
Mas quando me apercebi que a coisa estava feita e que não me tinha doído nada de especial, limpinhas que estavam as virilhas e as axilas, percebi a utilidade de um curso de esteticismo ou de seja lá o que for que esta malta estuda. E a Daniela disse mesmo "isto se lhe doía asim tanto antes é porque a rapariga não sabia fazer isto." Meio cabra, a Daniela, apesar de jeitosa para o seu trabalho.
23.12.06
Natal, Christmas, Nöel, Navidad, Weinachten
Amazing Grace | Sufjan Stevens
Amazing grace, how sweet the sound,
That saved a wretch like me!
I once was lost, but now am found,
Was blind, but now I see.
'Twas grace that taught my heart to fear,
And grace my fears relieved;
How precious did that grace appear,
The hour I first believed!
Through many dangers, toils and snares,
We have already come;
'Tis grace has brought me safe thus far,
And grace will lead me home.
When we've been there ten thousand years,
Bright shining as the sun,
We've no less days to sing God's praise
Than when we'd first begun.
(Talvez das canções de Natal mais bonitas de sempre - são tantas que rejeito aqui títulos absolutos - porque canta o meu Natal: época de reflexão, de remissão, dias de benção e de encontro comigo mesma e em que a fé não se questiona pois é sentida em cada sorriso, em cada doçaria, em cada missa, em cada cumplicidade, em cada beijo.)
O meu presente. (clicar e seguir o link para download.)
FELIZ NATAL!
Amazing grace, how sweet the sound,
That saved a wretch like me!
I once was lost, but now am found,
Was blind, but now I see.
'Twas grace that taught my heart to fear,
And grace my fears relieved;
How precious did that grace appear,
The hour I first believed!
Through many dangers, toils and snares,
We have already come;
'Tis grace has brought me safe thus far,
And grace will lead me home.
When we've been there ten thousand years,
Bright shining as the sun,
We've no less days to sing God's praise
Than when we'd first begun.
(Talvez das canções de Natal mais bonitas de sempre - são tantas que rejeito aqui títulos absolutos - porque canta o meu Natal: época de reflexão, de remissão, dias de benção e de encontro comigo mesma e em que a fé não se questiona pois é sentida em cada sorriso, em cada doçaria, em cada missa, em cada cumplicidade, em cada beijo.)
O meu presente. (clicar e seguir o link para download.)
FELIZ NATAL!
22.12.06
Alquimia
Princípio um: a transformação de metais vulgares em ouro.
Seres um indivíduo absolutamente igual aos outros. E eu também.
Princípio dois: a descoberta - ou a chegada- a uma cura universal, a panaceia que cura todos os males.
Eu ser feita de mágoa e o sangue que corre em mim ser lágrimas e ter-te olhado triste, um rio a quem uma barragem roubou fulgor, e tu mesmo assim me teres dado a mão sem fazeres perguntas e como em cada vez que a palma da tua mão encontrou a minha, foste super-cola para fragmentos de mim, que são de nada.
Princípio três: a criação de vida humana artificial.
Uma vida que já não era vida e é vivida apenas quando te despediste de mim com um beijo. E esse brilho no olhar ser mais eficaz que mil ventiladores no que toca à minha ressuscitação.
Seres um indivíduo absolutamente igual aos outros. E eu também.
Princípio dois: a descoberta - ou a chegada- a uma cura universal, a panaceia que cura todos os males.
Eu ser feita de mágoa e o sangue que corre em mim ser lágrimas e ter-te olhado triste, um rio a quem uma barragem roubou fulgor, e tu mesmo assim me teres dado a mão sem fazeres perguntas e como em cada vez que a palma da tua mão encontrou a minha, foste super-cola para fragmentos de mim, que são de nada.
Princípio três: a criação de vida humana artificial.
Uma vida que já não era vida e é vivida apenas quando te despediste de mim com um beijo. E esse brilho no olhar ser mais eficaz que mil ventiladores no que toca à minha ressuscitação.
Perco palavras
Perco palavras por não escrevê-las. Perco palavras porque não tas digo e olho-te em silêncio e reconheço em cada traço teu as palavras que perdi.
És tu, apesar de não o assumires, és tu em mim. É o teu sorriso no meu quando sorrio.
Sabes, podias voltar. Meter a chave à porta de casa (deixei de fechar a porta com a corrente para que possas sempre entrar), trazer na mão o saco do pão e dizer-me, sem mais delongas
Voltei.
e pousares o pão na mesa e lancharmos juntos como se tivesses ido embora só há cinco minutos para ir à padaria. Sem conversas desnecessárias, sem pedidos de desculpa, sem arrependimentos. Não te quero ouvir dizer o quanto sentiste a minha falta ou o quanto és estúpido por me ter deixado assim.
Por favor, não.
Por favor, finge que esteve sempre tudo bem.
Não quero que me mostres que mais uma vez estás comigo por carência. Foi por carência que nos juntámos, duas almas em perfeita sintonia, dois coraçães que batiam compassadamente, duas pessoas magoadas com o amor. Que perfeito que foi, ver-te em mim pela primeira vez, mal nos conhecemos: olhar para ti e seres a minha imagem em espelho, face simétrica de uma vida desalinhada e perdida.
Quero que me abraces porque nunca mais fui abraçada como tu me abraçavas, quero que apontes, quando estivermos a ler deitados sobre o tapete da sala, para aquele poema que te acabou de comover, que pouses os óculos e esfregues o nariz e digas
estou cansado, vou para a cama
e eu pergunte
já?
e tu respondas com risos e me pegues ao colo e transformes o cansaço em amor pela madrugada a dentro.
Desisto de chamar o teu nome mas nunca de ti porque desistir de ti seria desistir de mim. O meu corpo pede-me que te deixe ir mas todo o pouco que restou de mim depois do nosso amor não me deixa abandonar-te.
Perco palavras porque as digo em demasia. Sempre falei demais.
És tu, apesar de não o assumires, és tu em mim. É o teu sorriso no meu quando sorrio.
Sabes, podias voltar. Meter a chave à porta de casa (deixei de fechar a porta com a corrente para que possas sempre entrar), trazer na mão o saco do pão e dizer-me, sem mais delongas
Voltei.
e pousares o pão na mesa e lancharmos juntos como se tivesses ido embora só há cinco minutos para ir à padaria. Sem conversas desnecessárias, sem pedidos de desculpa, sem arrependimentos. Não te quero ouvir dizer o quanto sentiste a minha falta ou o quanto és estúpido por me ter deixado assim.
Por favor, não.
Por favor, finge que esteve sempre tudo bem.
Não quero que me mostres que mais uma vez estás comigo por carência. Foi por carência que nos juntámos, duas almas em perfeita sintonia, dois coraçães que batiam compassadamente, duas pessoas magoadas com o amor. Que perfeito que foi, ver-te em mim pela primeira vez, mal nos conhecemos: olhar para ti e seres a minha imagem em espelho, face simétrica de uma vida desalinhada e perdida.
Quero que me abraces porque nunca mais fui abraçada como tu me abraçavas, quero que apontes, quando estivermos a ler deitados sobre o tapete da sala, para aquele poema que te acabou de comover, que pouses os óculos e esfregues o nariz e digas
estou cansado, vou para a cama
e eu pergunte
já?
e tu respondas com risos e me pegues ao colo e transformes o cansaço em amor pela madrugada a dentro.
Desisto de chamar o teu nome mas nunca de ti porque desistir de ti seria desistir de mim. O meu corpo pede-me que te deixe ir mas todo o pouco que restou de mim depois do nosso amor não me deixa abandonar-te.
Perco palavras porque as digo em demasia. Sempre falei demais.
20.12.06
Prevendo já a melancolia de 2007
Eles voltaram com mais canções delicodoces. Encostem-se ao sofá, de chocolate quente na mão e sorriam - mesmo que às vezes saia uma lagrimita ou outra.
The Shins | Phantom Limb
(Wincing the night away)
The Shins | Phantom Limb
(Wincing the night away)
19.12.06
Melancolia recuperada ao ano 2001
The Shins > New slang
"Turn me back into the pet I was when we met.
I was happier then with no mind-set. "
13.12.06
E já agora, um pedido de desculpas
Lamento nunca mais ter escrito histórias sobre vidas paralelas à minha. Como imaginam, a maior parte dessas histórias acaba por beber da minha realidade, o que exige de mim um esforço suplementar - um quase sacrifício - e eu ando a dar férias às emoções demasiado fortes.
Inspirada no meu velho amigo Ricardo Reis, deixo os sentimentos à flor da pele para outros e passo pela vida silenciosamente e sem desasossegos grandes, de mãos desenlaçadas.
Não sinto vontade de abrir a arca dos desejos e das frustrações e encontro o prazer em cada coisa que me é apresentada. Talvez estes últimos meses tenham sido, apesar de tudo, aqueles em que mais disfrutei de mim própria como ser único, individual e independente.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
E como são prazeirosas as coisas mínimas! Libertar-se - aos poucos, é certo - do caos modernista álvaro-camposiano em que a minha vida se tinha tornado, em que as sensações se sobrepunham aos medos, em que o ruído se sobrepunha à música, e ser Lídia, à beira do charco sentada vendo as rosas, deixando que corra vida pelo riacho invés de ser ela a correr pela vida.
Parece desistir, mas não o é na verdade: desistir seria demasiado fácil e acessível. Leio Ricardo Reis - que sempre foi o meu heterónimo preferido - e aprendo a existir, isso sim. E existir está nos antípodas de desistir.
Existo de forma perfeitamente lúcida. Recuso-me a ser mais uma na carneirada dos vazios, mas também rejeito um lugar no grupo dos que sentem demasiado acabando por desperdiçar também demasiado. Come what may.
Ah a ataraxia: como uma forma de vida resumida numa palavra vai evitar que recorra a anti-depressivos e coisas que tais. Imperturbável e estóica, assim sigo, conduzida por linhas tranquilas.
Lembro-me de Epicuro e de como Reis escreveu
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Andava a exagerar e a excluir. Mas com o frio e estes dias de luz intensa, chegou esta paz morna e esta nova percepção de ser eu toda, por inteiro, nada a mais nem a menos, eu. Porque só na ilusão da liberdade / A liberdade existe.
Inspirada no meu velho amigo Ricardo Reis, deixo os sentimentos à flor da pele para outros e passo pela vida silenciosamente e sem desasossegos grandes, de mãos desenlaçadas.
Não sinto vontade de abrir a arca dos desejos e das frustrações e encontro o prazer em cada coisa que me é apresentada. Talvez estes últimos meses tenham sido, apesar de tudo, aqueles em que mais disfrutei de mim própria como ser único, individual e independente.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
E como são prazeirosas as coisas mínimas! Libertar-se - aos poucos, é certo - do caos modernista álvaro-camposiano em que a minha vida se tinha tornado, em que as sensações se sobrepunham aos medos, em que o ruído se sobrepunha à música, e ser Lídia, à beira do charco sentada vendo as rosas, deixando que corra vida pelo riacho invés de ser ela a correr pela vida.
Parece desistir, mas não o é na verdade: desistir seria demasiado fácil e acessível. Leio Ricardo Reis - que sempre foi o meu heterónimo preferido - e aprendo a existir, isso sim. E existir está nos antípodas de desistir.
Existo de forma perfeitamente lúcida. Recuso-me a ser mais uma na carneirada dos vazios, mas também rejeito um lugar no grupo dos que sentem demasiado acabando por desperdiçar também demasiado. Come what may.
Ah a ataraxia: como uma forma de vida resumida numa palavra vai evitar que recorra a anti-depressivos e coisas que tais. Imperturbável e estóica, assim sigo, conduzida por linhas tranquilas.
Lembro-me de Epicuro e de como Reis escreveu
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Andava a exagerar e a excluir. Mas com o frio e estes dias de luz intensa, chegou esta paz morna e esta nova percepção de ser eu toda, por inteiro, nada a mais nem a menos, eu. Porque só na ilusão da liberdade / A liberdade existe.
"I'm better than fine"
O shuffle do iTunes levou-me a ouvir isto - já não ouvia a Fiona há uns tempos - enquanto bebia um chá de menta (personal fave) e recuperava do Monte Velho bebido no jantar de turma. E é isto mesmo: aproveitar cada potencialidade, cada instante, cada dom, porque por mais que se peçam outras coisas no sapatinho (ah a graçola natalícia!) aquilo que já temos pode e deve ser usufruido.
"If you don't have a song to sing you're okay
You know how to get along
Humming
(Hmmm)
If you don't have a date,
Celebrate
Go out and sit on the lawn
And do nothing
'Cause it's just what you must do
And nobody does it anymore.
No, I don't believe in the wasting of time,
But I don't believe that I'm wasting mine.
If you don't have a point to make
Don't sweat it
You'll make a sharp one being so kind
And I'd sure appreciate it
Everyone else's goal's to get big headed
Why should I follow that beat being that
I'm better than fine."
Fiona Apple Waltz (Better than fine)
E sim, para variar, I'm better than fine. Meeeesmo bem. E quis que isso ficasse aqui registado porque sim.
"If you don't have a song to sing you're okay
You know how to get along
Humming
(Hmmm)
If you don't have a date,
Celebrate
Go out and sit on the lawn
And do nothing
'Cause it's just what you must do
And nobody does it anymore.
No, I don't believe in the wasting of time,
But I don't believe that I'm wasting mine.
If you don't have a point to make
Don't sweat it
You'll make a sharp one being so kind
And I'd sure appreciate it
Everyone else's goal's to get big headed
Why should I follow that beat being that
I'm better than fine."
Fiona Apple Waltz (Better than fine)
E sim, para variar, I'm better than fine. Meeeesmo bem. E quis que isso ficasse aqui registado porque sim.
5.12.06
Cat Power @ Aula Magna, 04.12.2006
Não se lembra de quando começou a beber. Nem porquê. Sabe, isso sim, que primeiro achou graça ao facto de toda a gente a abraçar e socorrer quando estava bêbeda. Gosta de ser o centro de atenções desde que nasceu, já em miúda tinha as atenções todas do pai.
I go to some bar room
And drink with my friends
If women and men would come to follow
To see what I might spend God bless them handsome men
I wish they was mine
É bonita. Magra, longilínea, lábios carnudos. Pinta os olhos com sombra negra esfumada e os olhos quase que parecem (ou serão?) verdes.
Depois chegaram as ressacas: e toda a gente sabe que a melhor maneira de combater a ressaca é bebendo um grande gole do que se bebeu na noite anterior. Quando deu por si, sem saber como, bebia a toda a hora. Deixou de ter fome ou sono. Nas festas também já não se divertia.
I spent all my money on whisky and beer
Ainda por cima o outro sacana deixou-a. Foi-se embora. Não porque gostasse de outra pessoa, não, afirmou mesmo que ainda a amava. Simplesmente foi. Ele e outros.
All that is left is an empty shell
Of my heart that is crushed
I don't never wanna see
What my mind has seen
When you loved me
Every night every night alone with you
Every night alone now
Noutras vezes foi ela quem partiu. Relações que adulteram as pessoas, tal como os sofrimentos. Sentir-se uma pessoa pior porque ama outra. Ou mais ainda do que sentir, ser-se. O coração ganhar calo cicatricial e já não bater como batia.
I don’t want be a bad woman
And I can’t stand to see you be a bad man
I will miss your heart so tender
And I will love
This love forever
And this is why I am leaving
And this is why I can’t see you no more
This is why I am lying when I say
That I don’t love you no more
Por isso quando o conheceu achou que a sua vida mudaria. Não se lembra do primeiro copo mas lembra-se do sorriso dele, ocupando a cara toda, enchendo Nova Iorque de uma esperança suave. Lembra-se de como os seus olhos fechavam e de como a língua humedecia os lábios, isto tudo antes de sorrir. De como ele não párava de sorrir. Ou dos seus olhos, profundamente verdes, melancólicos, naquele tom pantanoso do musgo. Só que nada disso lhe interessava realmente, porque o que a fez perder a cabeça foi aquele seu jeito miúdo de cantar as palavras enquanto falava, aquela traquinice - apesar de tudo - madura de encarar o mundo, de lhe mostrar caminhos e trajectos sem imposições.
It's not your face
Or the color of your hair
Or the sound of your voice my dear
That's got me dragged in here
It's the ice in the seam, the scheme of you
You're supposed to have the answer
You're supposed to have living proof
Deixou-se afundar no pântano dos seus olhos. Sabe que foi feliz. Ainda hoje o é, quando se recorda de cada passeio no Central Park, de cada concerto na Blue Note (ali entre a 6ª Ave. e a MacDougal St.) , de cada amanhecer sobre a Brooklyn Bridge erigido sobre conversas e risos.
Could we
Take a walk
Could we
Have us a talk alone
In the afternoon
(...)
What a dream
In the grass
We kissed
Fell in love too fast too soon
Love full bloom
Os encontros sucederam-se na proporção do amor que sentia. Na proporção dos copos de whisky que bebia. Ele não resolvera o problema dela com o alcoól. Ele não resolvia problemas, ele apenas podia ajudar no que ela quisesse mudar. Ela tinha que querer a mudança.
Enquanto se afundava no pantâno dele, afundava-se também em bebida, todos os dias mais um copo do que a conta do dia anterior. Ele não pedira aquilo. Nem tão pouco o prevera. Ele também queria mais, todos os dias mais descontente.
When you give half of you
I want all of you
Acabou por deixá-la como todos os anteriores tinham feito. E ela caíu na dormência fácil de quem perdeu a vontade para dar um passo em frente. A bebida era um óptimo aliado, os anti-depressivos, os ansiolíticos, as misturas explosivas, a cabeça que pesava mais que o corpo, que acabava por se manter recolhido em concha.
I don't want no heavy diamonds
And pearls crush my teeth
I just want my sailor
To sail back to me
(...)
But if you're not coming back
I will sleep eternally
Ninguém dorme para sempre sem morrer primeiro. E ela acabou por acordar um dia e percebeu que até ali era apenas argila moldada por quem a rodeava - os mesmos que pacientemente esperavam que ela acabasse por adormecer. Que a única vontade que era realmente sua era a de ser mais do que a própria vida, mesmo que isso significasse sacrificá-la.
Once I wanted to be the greatest
No wind or waterfall could stall me
And then came the rush of the flood
Stars of night turned deep to dust
(...)
Once I wanted to be the greatest
Two fists of solid rock
With brains that could explain
Any feeling
E porque uma ponte suspensa, por melhores que sejam os cabos que a sustentam ou os nós que a seguram, nunca deixa de ser desequilibrada, também ela ainda o é. Mas está mais feliz e gosta de si, por isso sorri enquanto dança. Pelo palco, pela vida, passos pequenos em passeios largos que lhe ensinam que para ser mulher não precisa de um homem, para ser mulher precisa de uma mulher dentro de si.
I go to some bar room
And drink with my friends
If women and men would come to follow
To see what I might spend God bless them handsome men
I wish they was mine
É bonita. Magra, longilínea, lábios carnudos. Pinta os olhos com sombra negra esfumada e os olhos quase que parecem (ou serão?) verdes.
Depois chegaram as ressacas: e toda a gente sabe que a melhor maneira de combater a ressaca é bebendo um grande gole do que se bebeu na noite anterior. Quando deu por si, sem saber como, bebia a toda a hora. Deixou de ter fome ou sono. Nas festas também já não se divertia.
I spent all my money on whisky and beer
Ainda por cima o outro sacana deixou-a. Foi-se embora. Não porque gostasse de outra pessoa, não, afirmou mesmo que ainda a amava. Simplesmente foi. Ele e outros.
All that is left is an empty shell
Of my heart that is crushed
I don't never wanna see
What my mind has seen
When you loved me
Every night every night alone with you
Every night alone now
Noutras vezes foi ela quem partiu. Relações que adulteram as pessoas, tal como os sofrimentos. Sentir-se uma pessoa pior porque ama outra. Ou mais ainda do que sentir, ser-se. O coração ganhar calo cicatricial e já não bater como batia.
I don’t want be a bad woman
And I can’t stand to see you be a bad man
I will miss your heart so tender
And I will love
This love forever
And this is why I am leaving
And this is why I can’t see you no more
This is why I am lying when I say
That I don’t love you no more
Por isso quando o conheceu achou que a sua vida mudaria. Não se lembra do primeiro copo mas lembra-se do sorriso dele, ocupando a cara toda, enchendo Nova Iorque de uma esperança suave. Lembra-se de como os seus olhos fechavam e de como a língua humedecia os lábios, isto tudo antes de sorrir. De como ele não párava de sorrir. Ou dos seus olhos, profundamente verdes, melancólicos, naquele tom pantanoso do musgo. Só que nada disso lhe interessava realmente, porque o que a fez perder a cabeça foi aquele seu jeito miúdo de cantar as palavras enquanto falava, aquela traquinice - apesar de tudo - madura de encarar o mundo, de lhe mostrar caminhos e trajectos sem imposições.
It's not your face
Or the color of your hair
Or the sound of your voice my dear
That's got me dragged in here
It's the ice in the seam, the scheme of you
You're supposed to have the answer
You're supposed to have living proof
Deixou-se afundar no pântano dos seus olhos. Sabe que foi feliz. Ainda hoje o é, quando se recorda de cada passeio no Central Park, de cada concerto na Blue Note (ali entre a 6ª Ave. e a MacDougal St.) , de cada amanhecer sobre a Brooklyn Bridge erigido sobre conversas e risos.
Could we
Take a walk
Could we
Have us a talk alone
In the afternoon
(...)
What a dream
In the grass
We kissed
Fell in love too fast too soon
Love full bloom
Os encontros sucederam-se na proporção do amor que sentia. Na proporção dos copos de whisky que bebia. Ele não resolvera o problema dela com o alcoól. Ele não resolvia problemas, ele apenas podia ajudar no que ela quisesse mudar. Ela tinha que querer a mudança.
Enquanto se afundava no pantâno dele, afundava-se também em bebida, todos os dias mais um copo do que a conta do dia anterior. Ele não pedira aquilo. Nem tão pouco o prevera. Ele também queria mais, todos os dias mais descontente.
When you give half of you
I want all of you
Acabou por deixá-la como todos os anteriores tinham feito. E ela caíu na dormência fácil de quem perdeu a vontade para dar um passo em frente. A bebida era um óptimo aliado, os anti-depressivos, os ansiolíticos, as misturas explosivas, a cabeça que pesava mais que o corpo, que acabava por se manter recolhido em concha.
I don't want no heavy diamonds
And pearls crush my teeth
I just want my sailor
To sail back to me
(...)
But if you're not coming back
I will sleep eternally
Ninguém dorme para sempre sem morrer primeiro. E ela acabou por acordar um dia e percebeu que até ali era apenas argila moldada por quem a rodeava - os mesmos que pacientemente esperavam que ela acabasse por adormecer. Que a única vontade que era realmente sua era a de ser mais do que a própria vida, mesmo que isso significasse sacrificá-la.
Once I wanted to be the greatest
No wind or waterfall could stall me
And then came the rush of the flood
Stars of night turned deep to dust
(...)
Once I wanted to be the greatest
Two fists of solid rock
With brains that could explain
Any feeling
E porque uma ponte suspensa, por melhores que sejam os cabos que a sustentam ou os nós que a seguram, nunca deixa de ser desequilibrada, também ela ainda o é. Mas está mais feliz e gosta de si, por isso sorri enquanto dança. Pelo palco, pela vida, passos pequenos em passeios largos que lhe ensinam que para ser mulher não precisa de um homem, para ser mulher precisa de uma mulher dentro de si.
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