Já não é a primeira vez que temas femininos são abordados neste blog. Não quero tornar isto uma versão barata de uma revista feminina (se bem que às vezes conto aqui coisas dignas de figurar nas páginas do consultório da Maria), mas há certas coisas de tal maneira intrincadas nisto de ser mulher (ou miúda, conforme o caso)que eu preciso de abordá-las aqui.
Uma dessas coisas é a depilação. A depilação é um acto íntimo. Há filosofia na depilação: sujeitar-se a dor, física, real, em prol de um bem estético. Aliás os noems das senhoras dizem isso mesmo: são esteticistas. Há também sociologia na depilação: a partilha daquele momento íntimo mas doloroso torna vítima e agressor cúmplices, uma espécie de síndrome de Estocolmo versão quanto-mais-te-bato-mais-gostas-de-mim.
Eu era já amiga da minha esteticista (e já vão perceber porque estou a usar o pretérito imperfeito). Chamava-se Cristina, tinha uma filha de 6 anos, um namorado que não era o pai da filha, morava numa casinha junto à casa da mãe. Eu também lhe contava parte da minha vida, aulas, amores, desamores, saídas à noite. Sobretudo expunha-lhe as minhas dúvidas "devia fazer as sobrancelhas?", "o que fazer perante uma borbulha" ou "como resolver pêlos encravados" eram temáticas profundamente debatidas entre mim e a minha esteticista.
Uma semana antes de vir para a Madeira os pêlos estavam a precisar de uma camada de cera mas aguentei para poder visitar a Cristina. Pois marquei a depilação e qual não é o meu espanto quando lá apareço e quem me recebe é uma menina loura, com mais de metro e meio e que nunca me viu mais gorda.
Com a pergunta "costumava vir aqui?" começou então uma série de constrangimentos entre mim e a que vim a saber chamar-se Daniela, passando pelo silêncio praticamente sepulcral. Pensei que ia seguir a Cristina onde quer que ela estivesse, várias vezes na depilação das pernas. Pensei que a Sónia não tinha nada que trocar a Cristina só porque ela não tinha curso de esteticista. Afinal o que ensinam no tal curso que uma mulher não saiba por instinto? Pensei que a Cristina não tinha o direito de me abandonar desta maneira.
Mas quando me apercebi que a coisa estava feita e que não me tinha doído nada de especial, limpinhas que estavam as virilhas e as axilas, percebi a utilidade de um curso de esteticismo ou de seja lá o que for que esta malta estuda. E a Daniela disse mesmo "isto se lhe doía asim tanto antes é porque a rapariga não sabia fazer isto." Meio cabra, a Daniela, apesar de jeitosa para o seu trabalho.
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