Perco palavras por não escrevê-las. Perco palavras porque não tas digo e olho-te em silêncio e reconheço em cada traço teu as palavras que perdi.
És tu, apesar de não o assumires, és tu em mim. É o teu sorriso no meu quando sorrio.
Sabes, podias voltar. Meter a chave à porta de casa (deixei de fechar a porta com a corrente para que possas sempre entrar), trazer na mão o saco do pão e dizer-me, sem mais delongas
Voltei.
e pousares o pão na mesa e lancharmos juntos como se tivesses ido embora só há cinco minutos para ir à padaria. Sem conversas desnecessárias, sem pedidos de desculpa, sem arrependimentos. Não te quero ouvir dizer o quanto sentiste a minha falta ou o quanto és estúpido por me ter deixado assim.
Por favor, não.
Por favor, finge que esteve sempre tudo bem.
Não quero que me mostres que mais uma vez estás comigo por carência. Foi por carência que nos juntámos, duas almas em perfeita sintonia, dois coraçães que batiam compassadamente, duas pessoas magoadas com o amor. Que perfeito que foi, ver-te em mim pela primeira vez, mal nos conhecemos: olhar para ti e seres a minha imagem em espelho, face simétrica de uma vida desalinhada e perdida.
Quero que me abraces porque nunca mais fui abraçada como tu me abraçavas, quero que apontes, quando estivermos a ler deitados sobre o tapete da sala, para aquele poema que te acabou de comover, que pouses os óculos e esfregues o nariz e digas
estou cansado, vou para a cama
e eu pergunte
já?
e tu respondas com risos e me pegues ao colo e transformes o cansaço em amor pela madrugada a dentro.
Desisto de chamar o teu nome mas nunca de ti porque desistir de ti seria desistir de mim. O meu corpo pede-me que te deixe ir mas todo o pouco que restou de mim depois do nosso amor não me deixa abandonar-te.
Perco palavras porque as digo em demasia. Sempre falei demais.
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