6.2.08

Bloqueio sentimental

Não podes entrar e sair, ficar e ir embora, voar e pousar consoante a tua vontade, raio de espécie de pássaro livre e desprendido que me encontrou.

Que encontraste em mim?

Pergunto-me que tipo de conforto terás dos nossos encontros e - espero sinceramente não soar a Amy Winehouse agora - mas lembro-me sempre de quando ela canta

I knew I hadn't met my match but every moment we could snatch
I don't know why I got so attached

porque em cada momento que estamos juntos aquilo que trago para casa é o teu perfume no meu antebraço (sempre, sempre) e uma vontade gigante de amar o mundo - e é de tal maneira gigante que o mundo me parece pequeno e abraçável, se é que a palavra existe - e a ti.

Depois passa, como uma droga, e do sorriso inquebrável restam sempre dúvidas se é desta que pousaste ou se amanhã, como se nada fosse, me avisas que já vais e que até podias ficar por mim, mas tens de ir. E entretanto ficas e vais ficando e vamo-nos incluindo nos planos um do outro outra vez - porque isto de gostarmos de alguém cujos pés estão um palmo acima do chão e a cabeça um palmo abaixo das nuvens é também ter sapatinhos de veludo, como a barata, e dar passinhos lentos, sem ruídos nem ranger de soalhos, primeiro um em direcção do outro e finalmente um ao lado do outro.

É muito raro conseguir escrever sobre ti tal como é raro conseguir descrever-te sem parecer deslumbrada quando, na verdade, isto até nem é bem deslumbre mas vontade de decifrar o código, o teu código. E nós já vimos de longe juntos ou em ajuntamento e quando me puxas contra ti e fazes aquelas promessas todas, eu tenho dois anos de novo e estou a roubar Serenatas de amor da gaveta dos chocolates na casa da minha avó. Por isso é que te sorrio daquela maneira, fica já a saber.

Há coisa de um ano disse-te que não podíamos andar a nos beijar assim e tu deste uma daquelas tuas gargalhadas luminosas, daquelas que enchem uma sala. E perguntaste "Porquê?" e eu não soube responder, eu não gostava de ti o suficiente para ser tua namorada nem queria ainda acabar com os nossos momentos gulosos - e a gula é um dos sete pecados mortais - sem saber onde é que aquilo nos levava. Um ano depois, olho para trás e estou certa que nos demos dos melhores momentos da nossa vida e que isto tem sido divertido e giro e excitante, mas é também há um ano que não sei responder à pergunta "tens namorado?" - e é uma pergunta simples, de sim ou não - porque quer dê uma das duas respostas possíveis, estarei a mentir com os dentes todos que tenho na boca (incluindo os sisos que tirei o ano passado).

Sempre me pareceu cobardia escrever no Desumanos sobre ti, porque tu não vens aqui ler-me e seria injusto falar de ti nas tuas costas, mas ontem tivemos a conversar sobre estas coisas e correu bem, acho eu. Não sei como o fazes, mas dizes o que tens a dizer de forma tão convincente que eu volto a ganhar confiança em ti. Eu disse-te a verdade quando disse "já não acredito em ti" porque acredito mais no meu sexto sentido do que naquilo que prometes, mas macacos me mordam se ontem não foste, pela primeira vez (ou talvez segunda, não tenho a certeza), sincero comigo e - só por isso - voltei a acreditar em ti.

Isto está bastante mais auto-biográfico do que a maior parte dos posts que por aqui deixo e acabei de transformar o meu blog num daqueles blogs pessoais muito irritantes. A minha imaginação não tem sido grande parceira nestes últimos tempos porque só te imagina, só te crê, porque só nela te tornas presente. És desaconselhado por toda a gente, salvo raras excepções, e mesmo assim não me quero afastar de ti. "Tarde demais", diria.

Pois aqui estou.

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