Há uma imagem algo vaga de duas pessoas correndo, uma ao lado da outra, respirando ruidosamente, ofegantes e afogueadas, de punhos fechados e passos simétricos e alinhados. Do outro lado do passeio, um casal arruma o saco do bebé na parte de trás do carrinho; ele olha para um dos corredores, adivinha-lhe o corpo esguio, os músculos esbatendo as curvas, é uma mulher e não desvia o olhar. Hoje não vai olhar assim nenhuma vez para a mãe do seu filho, embora reconheça naquela criança cada traço que o fez gostar dela da primeira vez que se viram tão igual à mãe tão perfeito.
Os dois retomam a marcha e ele empurra o carrito pelo passeio, desenha-se um sorriso em tubo de ensaio e o coração até se lhe enche de alegria quando levanta a roca de borracha do chão não deita ao chão senão perde o brinquedo! e ele adivinha o braço da mulher nas suas costas, é carregado e ansioso, aquele toque e ele suspira aliviando aquele peso com a ideia de que é o braço atlético da corredora que o abraça.
Há um sobressalto do carrinho que lhes estuca a marcha e, do outro lado onde passaram há pouco os corredores em grande velocidade, apoia-se um casal em bengalas, com o braço que está livre cruzado junto à cintura. Ele abraça a mulher sem olhá-la. Prevê-se naquela imagem; nunca correrá.
1 comment:
queria correr e não mais parar.
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