30.12.07

Ó caramba, porque estás tão longe?*

Se soubesse o que sei hoje, em vez de escolher uma faixa do Blue (foi a Case of you, não foi? também se adequa, ainda assim) como fiz (só porque era o meu álbum preferido da Joni), punha na compilação que te ofereci esta do Court and Spark, porque dá-me a ideia que, mesmo em 1974, ela escreveu-a a pensar em ti e em nós.

Joni Mitchell :: Help me

Help me.
I think I'm falling in love again.
When I get that crazy feeling, I know
I'm in trouble again.
I'm in trouble
cause you're a rambler and a gambler
And a sweet-talking-ladies man
And you love your lovin,
But not like you love your freedom.

Help me.
Help me.
I think I'm falling
In love too fast,
It's got me hoping for the future
And worrying about the past.
cause I've seen some hot hot blazes
Come down to smoke and ash.
We love our lovin',
But not like we love our freedom.

Didn't it feel good,
We were sitting there talking,
Or lying there not talking,
Didn't it feel good?
You dance with the lady,
With the hole in her stocking,
Didn't it feel good?
Didn't it feel good?

Help me,
I think I'm falling in love with you.
Are you going to let me go there by myself,
That's such a lonely thing to do.
Both of us flirting around,
Flirting and flirting,
Hurting too.
We love our lovin,
But not like we love our freedom.

*
O idiota que inventou o "longe da vista, longe do coração" devia ser torturado até à morte, de olhos vendados com um ferro com a ponta em brasa a queimar-lhe o peito, a ver se ele acha mesmo que o longe da vista significa realmente longe do coração.

Tenham calma, ando a educar-me.

Ando a ouvir A Tribe Called Quest (confesso: conhecia uma música aqui e acolá, de compilações ou assim), porque o Rodrigo me mostrou uma fonte para a discografia toda (sacar álbuns da net, eu? De todo!).

"Educa-te" disse ele. Ando a perceber o porquê a cada audição. Uma maravilha.


:: Electric Relaxation, Midnight Marauders, 1990.


:: Check the Rhyme, The Low End Theory, 1991.


:: Bonita Applebum, People's Instinctive Travels and the Paths of Rhythm, 1993.

Ah, que engraçado!

O post anterior não ia ser sobre os Wire e o Pink Flag e agora esqueci-me do que ia a dizer.

Fica para uma próxima. Os meus cumprimentos.

(O disco, foda-se, oiçam o disco.)

O youtube é uma invenção GENIAL.

Um dos meus discos preferidos de todo o sempre (há sempre um punk dentro de nós, e eu não sou excepção) está por lá disponível na íntegra em dois vídeos. Fica aqui, para quem não conhece.


O álbum é este

e macacos me mordam se os Wire não são pais e avós e tios afastados de todas as bandas rock deste século. Foda-se (Ó P'RA MIM BUÉ PUNK), É DOS MELHORES DISCOS DE SEMPRE E ESTÁ NO YOUTUBE.

Creio que no decorrer da História Universal haverá, à semelhança do nascimento de Cristo (a propósito, passaram bem as festas?) uma época pré-youtube e uma época pós-youtube. Já estou mesmo a ver as datas de lançamento de um álbum seguidas do epíteto aY ou dY (ou, em inglês, bY - b, de before - e aY - a, de after). O Tempo virá a seu tempo, como é costume, e dará como certo aquilo que prevejo. Cá estaremos, deslumbrados.

(Deslumbrem-se mas é com um dos melhores álbuns de sempre. É por estas e por outras que só arranjo namorados esquisitos. Eu adoro os Clash (rai's parta a minha punk interior) mas quando falo em punk rock - é raro, mas pode acontecer - com um gajo só quero que ele me responda com o seu punk interior "Foda-se, estás a brincar? O Pink Flag é um dos álbuns da minha vida. Só me apetece mandar toda a gente p'o cara*o [N. da A.: haja decoro, um palavrão por post, foda-se] e partir esta m*rda toda!". Depois de recuperar da emoção - de mãos transpiradas, olhos brilhantes de lágrimas contidas e o coração na boca, batendo depressa - eu perguntaria "Casamos onde?".)

22.12.07

10 + 7 momentos do ano

1. Sair da quase-depressão, ou lá o que aquilo foi. Conseguir desfrutar outra vez, aproveitar cada instante - o que torna este "momento" o mais importante de todos, porque sem ele nenhum dos momentos seguintes teria tido valor.

2. Ter cada vez mais certeza que quero fazer anestesiologia para o resto da minha vida. Relacionado com isto: o fim de semana em que fiz os cursos do INEM, que me recordaram porquê e para quê tinha ido eu estudar medicina.

3. Vir à Madeira matar saudades dos meus irmãos - e o Verão, em que eu e o André, após o nosso primeiro mês de contínua convivência, nos passámos a reconhecer como irmãos.

4. Namorar com o não-namorado: primeiro a surpresa do beijo, das trocas de olhares, das primeiras dores de barriga, dos entusiasmos de adolescente na expectativa do reencontro, depois a familiarização com os braços na minha cintura, o perfume no seu pescoço que se transferia para o meu antebraço, a cumplicidade sempre crescente e aqueles abraços serem as melhores horas da semana.

5. As tardes no Noobai, de olhos postos no rio e na paisagem industrial da margem sul, a receber os primeiros raios de sol da Primavera.

6. As noites, os concertos, as ruas do Bairro Alto e as entradas em grande no Left, em Santos, e os amigos que me iam acompanhando: Jenny, Dário, Catarina, Joana, Filipa. Todos os outros que iam lá ter depois.

7. O regresso da Lúcia de Berlim: a confirmação que não há machado que mate a raíz ao pensamento nem distância que aniquile uma amizade a valer.

8. Por falar em Left: os sets de CIMENTO., um atrás do outro, um pouco por todo o lado.

9. Por falar em CIMENTO.: eles os três, claro, e a amizade com o Rodrigo ("SEXO." em vez de "olá" e qualquer dia tenho de matá-lo por ele saber demais) e com o Ilo, a única pessoa com quem falo sobre amor e romance ao mesmo tempo que discutimos cortes de cabelo. Conhecer a Sara, a Joana Vooa. Dançar com o Ramos.

10. Encontrar-se com o Luís por tudo e por nada.

11. Por falar em sets: Bailarico Sofisticado (um pouco por todo o lado também, mas sobretudo em Sines). Uma hora de banghra. Born Slippy. A lua e o nascer do Sol. Estar presente e, melhor ainda, fazer parte daquilo tudo (acordar pela manhã a ouvi-los discutir o alinhamento).

12. Por falar em Sines: o FMM e, mais uma vez, os concertos e a famiglia. Carlos Bica, Azul e o DJ Illvibe. Trilok Gurtu. Descobrir o prazer de dançar ao som de big bands (l'Etruria Criminale Banda, Bellowhead). A famiglia - a partilha, os abraços, a felicidade conjunta, os copos, as danças, os pequenos almoços nos Galegos com o Vítor, a praia, os problemas postos de lado naquela semana abençoada.

14. Ver os The National na Sala Apollo. Ir a Barcelona passar o fim de semana do meu aniversário. Ficar rouca por saber as canções de cor, ir ao backstage confraternizar, chorar com a About Today sem conseguir recompôr-se. Passear, comer croissants, as Ramblas, o Barrí Gotic, o Born, o Passeig de Gracía, a Barceloneta. Dançar com o Diplo no Razz. A Tânia, a Ana. Rencontrar o André e a Isabel.

15.A semana no Porto Santo, com a família emprestada e o Pedro, o amigo de todas as horas, para o resto da vida.

16. Voltar a ler mais e melhor. Começar a ver cinema a sério, com o leitor de dvd novo. Comprar revistas, montes de revistas sobre tudo e mais alguma coisa, e devorá-las.

17. Rir. Sempre, sempre, sempre. Chorar. Sempre que preciso: a ver Grey's Anatomy, por exemplo.

E escadear: é o mesmo que desbastar?

"É para cortar direitinho atrás, sem este triângulo que aqui fica."

"E depois escadear?"

O pânico, o horror. Nâo sei a resposta. A minha mãe disse, depois de lhe mostrar quinhentas mil fotografias de cortes de cabelo, que eu queria desbastar. Será a mesma coisa?

"Sim.", respondo rapida e inconsequentemente. E então a cabeleireira escadeou (não que eu saiba, mas presumo que se ela disse que o faria, assim o fez).

Qual Sansão, tenho o cabelo, outrora pelo fim das omoplatas, pelos ombros. E uma faaaaaaaaaaaalta de forças.

17.12.07

Em grande, outra vez.



Hot Chip :: Ready for the floor


(Já anda aí o disco Made in the dark, com umas interrupções típicas de promo. Ainda não ouvi, mas ando viciadíssima nesta.)

16.12.07

The next best thing: just a band.

Impossível não adorar a ironia. (Melhor ainda, é isto dar na MTV 2 que é tudo aquilo que ele desdiz.) Apesar dos Smiths, dos Beach Boys, dos LZ e dos Pixies não serem just a band, há por aqui grandes conselhos.

Thou shalt not steal if there is direct victim.
Thou shalt not worship pop idols or follow lost prophets.
Thou shalt not take the names of Johnny Cash, Joe Strummer, Johnny Hartman, Desmond Decker, Jim Morrison, Jimi Hendrix or Syd Barrett in vain.
Thou shalt not think any male over the age of 30 that plays with a child that is not their own is a pedophile - Some people are just nice.
Thou shalt not read NME.
Thou shalt not stop likin' a band just 'cause they’ve 'come popular.
Thou shalt not question Stephen Fry.
Thou shalt not judge a book by its cover.
Thou shalt not judge Lethal Weapon by Danny Glover.
Thou shalt not buy Coca-Cola products, thou shalt not buy Nestle products.
Thou shalt not go into the woods with your boyfriend’s best friend, take drugs and cheat on him.
Thou shalt not fall in love so easily.
Thou shalt not use poetry, art or music to get into girls’ pants - use it to get into their heads.
Thou shalt not watch Hollyoaks.
Thou shalt not attend an open mic and leave as soon as you done your shitty little poem or song, you self-righteous prick.
Thou shalt not return to the same club or bar week in, week out, just ’cause you once saw a girl there that you fancied but you’re never gonna fucking talk to.

Thou shalt not put musicians and recording artists on ridiculous pedestals no matter how great they are or were.

The Beatles - Were just a band.
Led Zeppelin - Just a band.
The Beach Boys - Just a band.
The Sex Pistols - Just a band.
The Clash - Just a band.
Crass - Just a band.
Minor Threat - Just a band.
The Cure - Were just a band.
The Smiths - Just a band.
Nirvana - Just a band.
The Pixies - Just a band.
Oasis - Just a band.
Radiohead - They're just a band.
Bloc Party - Just a band.
The Arctic Monkeys - Just a band.
The Next Big Thing - Just a band!

Thou shalt give equal worth to tragedies that occur in non-English speaking countries as to those that occur in English speaking countries.
Thou shalt remember that guns, bitches and bling were never part of the four elements and never will be.
Thou shalt not make repetitive generic music, thou shalt not make repetitive generic music, thou shalt not make repetitive generic music, thou shalt not make repetitive generic music.
Thou shalt not pimp my ride.
Thou shalt not scream if you wanna go faster.
Thou shalt not move to the sound of the wickedness.
Thou shalt not make some noise for Detroit.
When I say “Hey” thou shalt not say “Ho.”
When I say “Hip” thou shalt not say “Hop.”
When I say, he say, she say, we say, make some noise - kill me.

[Ah, forgot where I was, hang on]

Thou shalt not quote Me Happy.
Thou shalt not shake it like a Polaroid picture.
Thou shalt not wish your girlfriend was a freak like me.
Thou shalt spell the word “Phoenix” P-H-E-O-N-I-X, not P-H-O-E-N-I-X, regardless of what the Oxford English Dictionary tells you.
Thou shalt not express your shock at the fact that Sharon got off with Brad at club last night by saying “Is it.”
Thou shalt think for yourselves.

And thou shalt always, thou shalt always kill.


Dan Le Sac vs Scroobius Pip :: Thou shalt always kill

ÉLÁ! UM INTERVALINHO NOS POSTS SEMI-DEPRESSIVOS

Uau, uau, uau. Pára tudo já! Não imaginam, meu Deus, vocês não fazem ideia:

O Francisco Rebelo (Cool Hipnoise, Spaceboys) fez um comentário no meu blog, a propósito disto. Está aqui.

Francisco, se algum dia se tornar premente a utilização de um sósia, conta com o Pedro! Não fundou uma banda tão cool como os Cool Hipnoise (por quem sinto profunda admiração e respeito desde os primórdios pela evolução, pelo assumir de riscos, pela boa onda) but he's got the looks.

(A propósito, vi-o nas Amoreiras sexta-feira e o meu amigo disse "olha lá vai o teu primo*".)

*primo = Pedro

Sempre que agora falar em ti, vou lembrar-me desta canção.

Porque é melhor pensar em reencontros que em despedidas.

The buildings aren't going anywhere.
But don't they look lonely from here,
Street lit twin domes.

Long time no see
And God you look better now.
Just my luck.

The Zephyrs :: The buildings aren't going anywhere*

*disponível neste link, por cortesia dos próprios Zephyrs.

15.12.07

Sempre que quero falar em ti, não me sai um texto estruturado.

Quando és condescendente comigo - quase paternalista - como se a nossa mísera diferença de idades fizesse diferença, ou como se fosses imune a saudade, a tremeliques dos joelhos, a almas irrequietas, a canções lamechas (logo tu!), tenho que confessar que me irritas.

Sempre que quero falar em ti, nunca sei por onde começar.

Se calhar o amor nunca nos apanhou em toda a sua propriedade por sermos mais fortes do que ele. Há a mania generalizada de que o amor é o sentimento mais poderoso, mais geograficamente instável - por se crer que move montanhas. Maior que o amor, julgo eu, é o ego - essa estranha habilidade humana em colocar-se no epicentro das emoções e dos factos. Convenhamos, tu e eu: egos demasiado grandes que, ou por isso ou por outra razão qualquer, se aproximaram. Nesse sentido, aquilo que tivemos foi e é um constante nutrir de auto-estima, um afagar de egos - eu o teu, tu o meu, eu o meu, tu o teu.

4.12.07

A pitchfork acha o mesmo

Estava a tentar perceber se é mesmo um comboio ou um helicóptero ou que diabo é aquele sample demoníaco e deparei-me com isto. Juro que ainda não tinha lido a crítica da Pitchfork ao Strawberry Jam.
"For Reverend Green" fades into the structurally similar but tonally different "Fireworks", arguably forming the greatest back-to-back in the Animal Collective's catalog. "Fireworks" is about the pleasure of simple things, but also about how hard they can be to appreciate: "A sacred night where we'll watch the fireworks/ The frightened babies poo/ They've got two flashing eyes and they're colored why/ They make me feel that I'm only all I see sometimes."

Animal Collective are never a band I listened to for lyrics-- on those early records, they were pretty hard to make out-- but the words in "Fireworks" match perfectly the song's complex mood: There's a romantic sense of longing, an air of celebration, but also tinges of doubt, loss, and acceptance. That it's all rendered so beautifully, with tempered banshee vocals, some spacey dub elements to kick off the middle break, and one of the band's best melodies-- and layered and varied enough to have had two or three good songs built from it-- reveals the band's mastery of complex, experimental pop songcraft.

The sacred night where we watched fireworks

Este ano, talvez pela primeira vez desde que penso nisso d' "os melhores discos do ano", tenho o primeiro, segundo e terceiro lugares bastante claros na minha cabeça (e em todo o lado do meu corpo que ouve música, que, desconfio, seja todo ele). Obviamente que, para manter o suspense (que até nem é muito, se o leitor se tratar de alguém das minhas lides quotidianas), não vou revelar os priveligiados desses lugares cimeiros.

A porca torce o rabo no que toca aos lugares seguintes - já pensei fazer uma lista com apenas três lugares e, desta forma simples, acabar com esta angústia. Doismilesete foi pródigo em óptimos discos (ou então eu é que ando a ouvir muita coisa boa - e pouca má, uma vez que o tempo é escasso e eu cada vez estou mais selectiva em relação àquilo a que sujeito os meus ouvidos).Como se o primeiro semestre do ano não tivesse sido suficientemente bom, também o fim do Verão/ início do Outono - considero-os coisas distintas, com o primeiro acabam as férias, com o segundo começa o frio - trouxe discos maravilhosos (ao meu computador e à minha estante). O frio, o aproximar desta melancolia que obriga a puxar dos casacos quentes, dos cachecóis (de cache - cou e pescoços que brincam às escondidas, surgindo de vez em quando para beijinhos e dentadas), do chocolate quente a qualquer hora do dia, do chá de menta à noite, toda a dolência que temperaturas inferiores a 20 graus Celsius implicam ao meu metabolismo (sou friorenta, e com muito gosto!) fazem-me ouvir música e querer - ainda mais - passar os dias envolta em mantinhas rodeada de discos atrás de discos.

Não há grande disco sem, pelo menos, uma grande canção. É o mínimo que se lhe exige: 2 a 10 minutos, ou coisa que o valha, de um clássico instantâneo. Não um otoverme nem um hit nem aquela canção que vamos ouvir na rádio até morrermos - não, não, nada disso. Clássico instantâneo, aqui, é a canção que mais nos toca, a que vai, como se de um passe livre trânsito se tratasse, da alma à mente aos pêlos dos braços para arrepiá-los e de volta ao coração, para lá ficar guardada. Muitas vezes, e isso acontece sobretudo nos discos maiores que a própria vida, nos discos que, durante um tempo indefinido, comandam a nossa biologia por fazerem coincidir os nossos ritmos com a sua própria cadência, o clássico instantâneo é flutuante e vai percorrendo todas as faixas (assim o foi - e o é - com o meu disco #1). Todos, todos os enormes, razoavelmente grandes, às-vezes-grandes-outras-vezes-mais-pequenos e médios discos de 2007 têm essa canção (a lista pode ficar para outra vez, pode?).

A canção que aqui interessa está alinhada no Strawberry Jam, dos Animal Collective - álbum que, por si, é talvez inferior à minha santíssima trindade da banda (registe-se, por ordem crescente de antiguidade: Feels, Sung Tongs e Here Comes the Indian). Deus sabe o quanto amo os Animal Collective - o quanto lhes estou grata, o quanto os admiro, o quanto eles fazem parte de mim como "musicalmente tolinha".

Fireworks pode ser incrivelmente desfeita em bocados, em vários momentos que fazem dos seus 6 minutos e 50 segundos os seis minutos e cinquenta segundos mais perfeitos do ano, como um coração que se parte ou uma história de amor feita de episódios vários - todos eles igualmente bonitos. Foi sempre isso que gostei nos Animal Collective: o facto de da decomposição, do recorte, da colagem, da edição resultar uma canção geralmente fascinante que é também dez canções mais pequeninas igualmente fantásticas.

Começa com um sample em loop do que me parece (e parecerá, para toda a eternidade) um comboio em rápida movimentação pelos carris. Diga-se que, mal isto se ouve, o coração começa a bater compassadamente com este comboio - que parte? que chega? que interessa? Sabe-se que este sample não abandona a canção em qualquer momento. Depois entra a pièce de resistance do primeiro episódio desta história de amor: os coros que cantam ú-ú-í-ú-ú-í-ú ou algo semelhante, como uivos de melancolia, de agonia, de sentimento de pertença- mas pertença a quem? - e isso, aqui, está por todo o lado: uma tristeza quase inacessível, mas ao mesmo tempo, a tristeza mais tranquila, mais segura de si, mais consciente, que algum dia dia vi numa canção. Instrumentalmente é ritmada, melódica, fluida ao longo de percussão gorda e repetitiva. As guitarras recortam-na, criam microclimas de êxtase, de desespero, de pacificação - os tais episódios da história de amor, os altos e baixos do romance, as mãos que se soltam e que se dão nas relações amorosas que nunca o foram.
O mais surpreendente na Fireworks não é tudo isto, porque a coisas assim boas já nos têm habituado os Animal Collective. O que é absolutamente novo aqui é como a beleza da música coincide tão perfeitamente com a beleza das vozes, entoando letras que significam precisamente o mesmo que aquilo que os instrumentos e os samples transmitem. Não, nunca liguei grande coisa aos Animal Collective pelas letras - nem é coisa para a qual eles vivam, muitas vezes nem dá para perceber que raio estão eles para lá dizer. Não era suposto, de todo, reparar nas palavras escondidas, nos versos estranhos das suas canções. Até agora.

Fireworks é uma lição de compromisso, de saudade, de insatisfação, de dúvida, de conformismo, de serenidade, de pertença. Um portentoso épico sobre a vida e a ternura - como amar (entre tantas outras coisas) pode ser, ao mesmo tempo, a melhor e a mais fodida coisa do mundo. Sobre a perenidade e a fragilidade dos instantes - como o fogo de artifício, que sobe céu acima para logo rebentar e fim!, tudo começa, tudo acaba, e estar por aqui é uma sucessão de inícios e de fins (e do que a meio fica, tantas vezes o melhor e o mais esquecido.) Sobre esquecer, sobre lembrar, sobre desistir, sobre tentar de novo. Sobre mim, sobre ti, sobre todos nós.



Now it's day and I've been trying to get that taste off my tongue.
I was dreaming of just you, now our cereal, it is warm.
Attractive day in the rubble of the night from before.
I can't walk in a vacuum, I feel ugly, feel my pores.
It's the trees of this day that I do battle with for the light.
Then I start to feel tragic, people greet me, I'm polite.

"What's the day?" "What are you doing?"
"How's Your Mood?" "How's that song?"

Man it passes right by me, it's behind me, now it's gone.

I can't lift you up cause my mind is tired.
It's family beaches that I desire.
A sacred night,
Where we'll watch the fireworks.
The frightened babies poo.
They've got two flashing eyes and they're colored why.
They make me feel that I'm only all I see sometimes.

I was eating with a good friend who said

"A Genii made me out of the earth's skin"

but in spite of her she is my birth kin,
she spits me out in her surly blood rivers.

All the people life lurking in
dominions of a hot Turk dish.
If elephants are reaching for our purses,

then meet me after the world with the shivers.

"What's the day?" "What are you doing?"
"How's your food?" "How's that song?"


Man it passes right by me
it's behind me now it's gone.
I can't lift you up cause my mind is tired,
it's family beaches that I desire.
That sacred night where we watched the fireworks.
They frightened the babies and you know
they've got two flashing eyes and
if they are color blind, they make me feel,
that you're only what I see sometimes.

1.12.07

Calendário do Advento

Chegou Dezembro e o Natal e o fim do ano. A Baixa fica intransitável - valha-nos a transladação da maior árvore de Natal do mundo para o Porto (é de transladação que se trata, não?, visto aquele mamarracho não constar da lista de seres vivos criados por Deus Nosso Senhor), os supermercados com filas que percorrem os corredores onde é suposto estar a escolher as compras (a sério, com quanta antecedência se pode comprar um peru, um mês? dois?), as pessoas saem à rua para ir ver as luzinhas e as iluminações (atenção, por favor: saem à rua para ir ver as luzinhas, não é que vão tomar café ou comer castanhas ou assim), os putos entram em túneis escuros que supostamente são a casinha do Pai Natal na Praça Central do Colombo, enquanto a mãe grita "Ó Zé Manel, despache-se que a mãe ainda tem de ir ali à Vista Alegre comprar presente para a Tia Tita" (a semelhança com factos reais não é coincidência, esta mãe e este filho e esta frase realmente aconteceram) e parece que todo o propósito do Natal é irritar-se e apressar-se e apanhar trânsito e esperar em filas e reclamar.

Comes with the business, I suppose.
E a verdade é que toda a gente se queixa invariavelmente: do dinheiro que gastam, do tempo que ocupam, da esperança de vida desperdiçada. E isso não os leva a nada, porque continuam a focar o seu Natal nas coisas de somenos importância (lindo, sempre quis usar a palavra somenos num texto). Não pretendo salvar o mundo nem agitar consciências nem tão pouco dizer que a minha família é diferente de todas as outras - há o mesmo stress, a mesma ansiedade, as mesmas discussões.

Mas é impressão minha ou o Natal não é, de todo, suposto ser isto? Ah, longe vão os tempos da fraternidade e do amor ao próximo. Ou então, toda esta guerra civil do advento é só uma forma feia de se atingir uma noite perfeita. Mas não, não é bem isto. Até porque, diz-nos a wikipedia:

O Advento (do latim Adventus: "chegada", do verbo Advenire: "chegar a") é o primeiro tempo do Ano litúrgico, o qual antecede o Natal. É um tempo de preparação e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o Nascimento de Jesus Cristo, vivem o arrependimento e promovem a fraternidade e a Paz. No calendário religioso este tempo corresponde às quatro semanas que antecedem o Natal.

Ora bem, não vejo aqui nenhuma referência a "ei, eu vi isso primeiro, dê cá!" ou *buzinadela* "veja por onde anda, seu filisteu!". Para já, porque ninguém usa a palavra filisteu para insultar outra pessoa. Mas deviam, o mundo seria um lugar mais bonito.