4.12.07

The sacred night where we watched fireworks

Este ano, talvez pela primeira vez desde que penso nisso d' "os melhores discos do ano", tenho o primeiro, segundo e terceiro lugares bastante claros na minha cabeça (e em todo o lado do meu corpo que ouve música, que, desconfio, seja todo ele). Obviamente que, para manter o suspense (que até nem é muito, se o leitor se tratar de alguém das minhas lides quotidianas), não vou revelar os priveligiados desses lugares cimeiros.

A porca torce o rabo no que toca aos lugares seguintes - já pensei fazer uma lista com apenas três lugares e, desta forma simples, acabar com esta angústia. Doismilesete foi pródigo em óptimos discos (ou então eu é que ando a ouvir muita coisa boa - e pouca má, uma vez que o tempo é escasso e eu cada vez estou mais selectiva em relação àquilo a que sujeito os meus ouvidos).Como se o primeiro semestre do ano não tivesse sido suficientemente bom, também o fim do Verão/ início do Outono - considero-os coisas distintas, com o primeiro acabam as férias, com o segundo começa o frio - trouxe discos maravilhosos (ao meu computador e à minha estante). O frio, o aproximar desta melancolia que obriga a puxar dos casacos quentes, dos cachecóis (de cache - cou e pescoços que brincam às escondidas, surgindo de vez em quando para beijinhos e dentadas), do chocolate quente a qualquer hora do dia, do chá de menta à noite, toda a dolência que temperaturas inferiores a 20 graus Celsius implicam ao meu metabolismo (sou friorenta, e com muito gosto!) fazem-me ouvir música e querer - ainda mais - passar os dias envolta em mantinhas rodeada de discos atrás de discos.

Não há grande disco sem, pelo menos, uma grande canção. É o mínimo que se lhe exige: 2 a 10 minutos, ou coisa que o valha, de um clássico instantâneo. Não um otoverme nem um hit nem aquela canção que vamos ouvir na rádio até morrermos - não, não, nada disso. Clássico instantâneo, aqui, é a canção que mais nos toca, a que vai, como se de um passe livre trânsito se tratasse, da alma à mente aos pêlos dos braços para arrepiá-los e de volta ao coração, para lá ficar guardada. Muitas vezes, e isso acontece sobretudo nos discos maiores que a própria vida, nos discos que, durante um tempo indefinido, comandam a nossa biologia por fazerem coincidir os nossos ritmos com a sua própria cadência, o clássico instantâneo é flutuante e vai percorrendo todas as faixas (assim o foi - e o é - com o meu disco #1). Todos, todos os enormes, razoavelmente grandes, às-vezes-grandes-outras-vezes-mais-pequenos e médios discos de 2007 têm essa canção (a lista pode ficar para outra vez, pode?).

A canção que aqui interessa está alinhada no Strawberry Jam, dos Animal Collective - álbum que, por si, é talvez inferior à minha santíssima trindade da banda (registe-se, por ordem crescente de antiguidade: Feels, Sung Tongs e Here Comes the Indian). Deus sabe o quanto amo os Animal Collective - o quanto lhes estou grata, o quanto os admiro, o quanto eles fazem parte de mim como "musicalmente tolinha".

Fireworks pode ser incrivelmente desfeita em bocados, em vários momentos que fazem dos seus 6 minutos e 50 segundos os seis minutos e cinquenta segundos mais perfeitos do ano, como um coração que se parte ou uma história de amor feita de episódios vários - todos eles igualmente bonitos. Foi sempre isso que gostei nos Animal Collective: o facto de da decomposição, do recorte, da colagem, da edição resultar uma canção geralmente fascinante que é também dez canções mais pequeninas igualmente fantásticas.

Começa com um sample em loop do que me parece (e parecerá, para toda a eternidade) um comboio em rápida movimentação pelos carris. Diga-se que, mal isto se ouve, o coração começa a bater compassadamente com este comboio - que parte? que chega? que interessa? Sabe-se que este sample não abandona a canção em qualquer momento. Depois entra a pièce de resistance do primeiro episódio desta história de amor: os coros que cantam ú-ú-í-ú-ú-í-ú ou algo semelhante, como uivos de melancolia, de agonia, de sentimento de pertença- mas pertença a quem? - e isso, aqui, está por todo o lado: uma tristeza quase inacessível, mas ao mesmo tempo, a tristeza mais tranquila, mais segura de si, mais consciente, que algum dia dia vi numa canção. Instrumentalmente é ritmada, melódica, fluida ao longo de percussão gorda e repetitiva. As guitarras recortam-na, criam microclimas de êxtase, de desespero, de pacificação - os tais episódios da história de amor, os altos e baixos do romance, as mãos que se soltam e que se dão nas relações amorosas que nunca o foram.
O mais surpreendente na Fireworks não é tudo isto, porque a coisas assim boas já nos têm habituado os Animal Collective. O que é absolutamente novo aqui é como a beleza da música coincide tão perfeitamente com a beleza das vozes, entoando letras que significam precisamente o mesmo que aquilo que os instrumentos e os samples transmitem. Não, nunca liguei grande coisa aos Animal Collective pelas letras - nem é coisa para a qual eles vivam, muitas vezes nem dá para perceber que raio estão eles para lá dizer. Não era suposto, de todo, reparar nas palavras escondidas, nos versos estranhos das suas canções. Até agora.

Fireworks é uma lição de compromisso, de saudade, de insatisfação, de dúvida, de conformismo, de serenidade, de pertença. Um portentoso épico sobre a vida e a ternura - como amar (entre tantas outras coisas) pode ser, ao mesmo tempo, a melhor e a mais fodida coisa do mundo. Sobre a perenidade e a fragilidade dos instantes - como o fogo de artifício, que sobe céu acima para logo rebentar e fim!, tudo começa, tudo acaba, e estar por aqui é uma sucessão de inícios e de fins (e do que a meio fica, tantas vezes o melhor e o mais esquecido.) Sobre esquecer, sobre lembrar, sobre desistir, sobre tentar de novo. Sobre mim, sobre ti, sobre todos nós.



Now it's day and I've been trying to get that taste off my tongue.
I was dreaming of just you, now our cereal, it is warm.
Attractive day in the rubble of the night from before.
I can't walk in a vacuum, I feel ugly, feel my pores.
It's the trees of this day that I do battle with for the light.
Then I start to feel tragic, people greet me, I'm polite.

"What's the day?" "What are you doing?"
"How's Your Mood?" "How's that song?"

Man it passes right by me, it's behind me, now it's gone.

I can't lift you up cause my mind is tired.
It's family beaches that I desire.
A sacred night,
Where we'll watch the fireworks.
The frightened babies poo.
They've got two flashing eyes and they're colored why.
They make me feel that I'm only all I see sometimes.

I was eating with a good friend who said

"A Genii made me out of the earth's skin"

but in spite of her she is my birth kin,
she spits me out in her surly blood rivers.

All the people life lurking in
dominions of a hot Turk dish.
If elephants are reaching for our purses,

then meet me after the world with the shivers.

"What's the day?" "What are you doing?"
"How's your food?" "How's that song?"


Man it passes right by me
it's behind me now it's gone.
I can't lift you up cause my mind is tired,
it's family beaches that I desire.
That sacred night where we watched the fireworks.
They frightened the babies and you know
they've got two flashing eyes and
if they are color blind, they make me feel,
that you're only what I see sometimes.

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