1.2.05

E se...

Eu fizesse as malas e começasse do zero noutro sítio (from scratch, dizem nos filmes)? Punha umas camisolas de lã (se calhar uma camisola de caxemira para nunca mais voltar a sentir frio na vida), umas t-shirts, uns casacões e lá ia eu de abalada para outra vida.

Como se mudar de vida fosse assim tão fácil.

(Já agora gostava de saber porque é que eu ando sempre tão farta de mim. Ou da minha vida.)

Se eu fizesse isso, ia ter que fazer novos amigos e a questão não é não gostar dos meus amigos actuais mas sim ser preconceituosa acerca de todos eles. E o preconceito de que falo não é aquele prejorativo. Por exemplo, se é para tomar café ligo àquele, se é para falar de roupa ligo àquela. Isso já é um preconceito, não é? Eu gosto muito dos meus amigos, em especial de um pequeno grupo de mulheres que nem se dão lá grande coisa umas com as outras.

Por exemplo, gostava de mudar isso.
Gostava de poder encenar o Sex and the City in Lisbon e ter mais três amigas com quem fosse almoçar, às festas, às compras, à livraria. Infelizmente, como as minhas amigas são diferentes uma das outras, já sei o que é que posso fazer com cada uma e nunca nos juntámos até porque elas rapidamente ficariam fartas umas das outras (é que não têm mesmo nada a ver, garanto-vos).

Noutra cidade arranjava um grupo de amigas e íamos para a boulangerie (não sei porquê mas nisto de mudar de cidade ocorre-me sempre Paris), comíamos umas baguetes a ver os homens que passavam, havia de ser divertido.

Arranjava uma discoteca pequenina onde pudesse dançar, dançar, dançar (lá está: umas amigas que gostassem de dançar o que eu gosto também ajudava), donde só saísse de madrugada a tempo de beber um chocolate quente antes de ir para a cama, enquanto o Sol nascia algures entre águas-furtadas e árvores nuas de Outono.

Na outra cidade (continua-me a ocorrer: Paris, Paris, Paris) eu iria à mercearia em vez de supermercados, onde as compras se guardavam em sacos de papel e um dia o meu saco ia estar muito pesado e algures numa rua Belle Époque rasgava-se e vinha alguém me ajudar a recolher as compras. Alguém a quem eu sorrisse, olhasse nos olhos, fosse tomar um café (nesta Lisboa enorme deviam usar sacos de papel porque, para além de ser bom para o ambiente, por serem recicláveis, ia haver sempre a hipótese de se criar um clima de romance entre duas pessoas que não se conhecem).

Nesta cidade, e apesar de nunca tentar mudar nada e viver num comodismo desmesurado, vou tentando ser feliz mesmo sem refeições estrangeirísticas. Venha a meia de leite e a carcaça com queijo, em vez do capuccino e da baguette. Também é divertido assim.

Talvez um dia faça as malas. Por enquanto, contento-me em tentar acabar o curso, que já muitas alegrias (e decepções também) me vai trazendo.

(Porque é que eu não consigo fazer posts curtos?)

2 comments:

Sonia Almeida said...

gostei de conhecer este teu cantinho. e posts compridos são bem interessantes. beijinhos

Anonymous said...

Quem sabe se não estaremos daqui a dez anos aux Champs Elysées com saudades de uma mini, ou até de uma carcaça, porque não?
Eu cá vou sonhando, torna as coisas muito mais perfeitas.