21.9.06

I.

Há um lustre cheio de brilhos presunçosos suspenso ao centro da sala. Há sofás de veludo cor-de-sangue, a maior parte deles com marcas do tempo, outros clientes, outras seduções. Ao canto, um piano, empoeirado. Mas as colunas debitam canções e há funk e jazz e outras coisas que não percebe bem.

Ela dança e pensa

Dança comigo a primeira valsa da Primavera. Dança sem sonhos, esquece as promessas, ninguém nos espera

Notas soltas de piano que a abraçam, que sozinhas enchem a sala quente, despovoada como um cabaret abandonado. Não há janelas para a rua, ali ninguém os vê e ela dança. Desenha sonhos como bolhas de sabão que os envolvem,, alienando-os das conversas, dos degraus, dos espelhos. O único sítio onde se reflectem é nos olhos um do outro: olhares que se cruzam para logo se afastarem, cheios de timidez delicodoce.

Olhares que suspiram, embriagados

Com um pouco de sexo ou muita poesia ainda nos vamos casar.

*Quinteto Tati "Valsa Quase Antidepressiva"

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