Mostram-nos bocados de arte e dizem-nos:
Sente.
Imagens retorcidas, traços que unem pontos e perspectivas, homens esculpidos de mármore, de filamentos metálicos, de cabos de electricidade, de barro, homens de cera iguais a ti mas opacos e maciços.
Mostram-nos essas coisas e dizem-nos:
Sente.
Como se sentir fosse uma ordem ou desculpa.
Olhar - ou ver- fragmentos de vidro espalhados num soalho de madeira. Sentir? Ver, no mínimo. Explicarem-nos qualquer coisa, estragarem sempre tudo com explicações baratas.
Não perceberem que quanto mais se justificam, quanto mais nos pedem desculpa, menos mérito lhes damos.
Sentir? Absolutamente. Se nos der gozo. Sempre que nos der gozo. Enquanto nos der gozo.
Porque existirem obras de arte que não nos dizem nada não é novidade nem é fruto da arte contemporânea - e entender porquê é que cada obra nos faz um arrepio vai para além de qualquer reflexão.
(Como a cor de um batôm ou a forma das nuvens, nem todas nos fazem desviar o olhar pela segunda vez.)
Olhar para a criatividade (para alguns só se chama criatividade porque eles se consideram criadores), ver intervenções e instalações e pensar que "um enxame de mosquitos fazia melhor trabalho numa noite em que dormisse destapada do que estes gajos numa sala de 300 metros quadrados".
Ou ver cada coisa no seu lugar
o quadro no chão, a escultura no tecto, a instalação em nossa casa
e achar que se pertence ali, que se está em cada objecto, porque sabemos que viver num mundo como este e em tempos como estes, é também, por si só, uma forma de arte.
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