30.3.05

Todos erramos

Por favor não me odeies pelo que fiz. Por favor pensa duas vezes antes de dizeres que não me desculpas. Tu sabes que preciso da tua amizade. Eu não queria estragar nada. Tenho a mania da verdade e da honestidade e agora tenho meio mundo chateado comigo.

Preferia nunca ter sabido de nada, assim também não tinha nada para contar. Mas agora o erro está feito e todos nós erramos.Por isso, desculpa-me.

Desculpa.

29.3.05

Domingo de Páscoa

Ao almoço, em volta de um cabrito, reúne-se a família. Conversas e sorrisos, regados com um vinho tinto de boa casta.
Cada um fala mais alto que o outro, todos têm histórias por contar, gargalhadas por dar. Porque quando chega o silêncio, ou quando um assunto morre, morre também o sorriso e os olhos ficam enublados e turvos.

Tão felizes e cada um carrega a sua cruz. Quando uma conversa é interompida, todos olham para o alto, suspiram, limpam a primeira lágrima. São acorridos pelos seus fantasmas, aqueles que eles andam a ignorar sistematicamente enquanto riem e falam com a família.

Que a Páscoa tenha servido para nos libertarmos da nossas cruzes e proporcionado a nossa renovação. Porque todos nós podemos ressuscitar ao terceiro dia, basta termos vontade.

24.3.05

Se eu te encontrei...

...Deve haver mais alguém como tu algures no mundo. As pessoas serão únicas?

Se existe alguém como tu, então não perco a esperança: ainda hei-de encontrar a minha outra metade, a única pessoa que me poderá fazer feliz neste mundo de infelizes.

Porque tu existes e eu conheço-te bem e sei que te encontrei, mas és um amor impossível. Demasiadas barreiras, e tu conheces-me. Há coisas que prezo mais do que uma história de amor. A amizade, por exemplo.

Tenho medo de estragar tudo por tua causa. Sabes, a minha vida é feita de pedacinhos e tu és o maior fragmento que a poderia compor. Só que se eu te juntasse com todos os outros fragmentos, todos eles se afastariam, partiriam, descolavam. Eu não quero estragar aquilo que fui construindo ao longo do tempo por tua causa.

Se bem que eu tenha a certeza que tu vales a pena.

A inadaptada

Hoje não ia beber café. Nem tocar num cigarro que fosse.
Hoje ia sentir o vento frio da Primavera, os primeiros raios preguiçosos de Sol, ouvir os pardais cantar enquanto lia o Jornal (mesmo as letras pequeninas). Ia pedir um chá, se calhar uma torrada.

Sabia-se dona da sua vida, do seu nariz. Reconhecia-se em controlo do seu pequeno mundo, livre de interferências, de pressões externas. Mas não conseguia encontrar uma razão que desse sentido ao que ela própria sacrificava. Em nome de quê?

Admitia poder mudar fosse o que fosse no jogo: os peões, as regras, os dados. Eliminaria jogadores se achasse necessário, erraria na contagem dos pontos dos dados se assim o entendesse, interpretaria as leis, as condutas como desejasse. Todo o seu poder parecia-lhe, no entanto, obsoleto, porque nessa noite não dormira, passara-a a ouvir Rodrigo Leão e a reflectir sobre as súbitas mudanças a que se tinha imposto no último mês.

De repente tudo lhe pareceu vazio; ela própria era apenas um saco de pele, músculos e ossos sem conteúdo.

Levantou-se da cama nessa manhã como agora se levantava da mesa do café, com lágrimas nos olhos, com um aperto no estômago, um formigueiro nos membros, os dedos das mãos a tremer. Fazia o que queria e, até então, tinha achado que isso era ser livre, mas arriscara demasiado as vidas de outras pessoas e agora arrependia-se.

Tinha-se esquecido que a liberdade própria acaba quando interfere com a liberdade do outro. Ela interferira demasiado e, agindo assim, ferira.

Chegara ao momento de se redimir, mas como? Sempre fora a inadaptada dentro do seu próprio jogo, uma mulher ocupada, atraente e interessante mas que, no interior, não encaixava em qualquer contexto onde se inserisse.
Hoje ia ouvir as histórias, os casos, os factos da vida- todos desde que não fossem seus. Ia ter em atenção os sonhos das crianças, dos jovens, dos adultos e dos velhos e não ia dizer "Bah! Utopias!" porque sabia que a ela sempre lhe faltou o sonho.

Sem o sonho e sem a capacidade de receber, era uma inadaptada.

"Tell me your name, tell me your story 'cause I'm into it, runnin' through life like a misfit" Elefant

23.3.05

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22.3.05

Na televisão

O Sporting ajuda o meu Benfica a ser campeão. Obrigada Sporting!:)

BENFICAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!

21.3.05

A não perder

Grandes concertos a acontecer em Lisboa esta Primavera:

- Feist no Fórum Lisboa dia 9 de Maio;
- Rufus Wainright dia 24 de Abril no Coliseu dos Recreios.

Recebem-se ofertas de bilhetes claro. Ah, e se houver alguém que queira vender o seu bilhete para o Jack Johnson dia 21 de Maio também no Coliseu, o negócio será fechado com urgência.

Boas notícias para pessoas que adoram boa música

É o caso do álbum Good news for people who love bad news dos Modest Mouse. Tem um som de solidão feliz, que é como me ando a sentir ultimamente.

O single Float on é exactamente uma fonte de força, de energia, de dinamismo (por mais infinitamente preocupantes que pareçam os desfechos das nossas histórias, a verdade é que flutuaremos por eles e depois riremos do assunto- ao menos, eu espero que assim seja).

"Bad news comes-don't you worry even when it lands
Good news will work its way to all them plans
We both got fired on exactly the same day,
Well, we'll float on, good news is on the way
And we'll all float on OK And we'll all float on OK
And we'll all float on OK And we'll all float on

Alright already, we'll all float on
No, don't you worry, we'll all float on
Alright, already, we'll all float on
Alright, don't worry, we'll all float on and we'll all float on
Alright already, we'll all float on
Alright, don't worry even if things end up a bit too heavy
We'll all float on
Alright already, we'll all float on
Alright already, we'll all float on OK Don't worry, we'll all float on
Even if things get heavy, we'll all float on"

The good times are killing me aos poucos sem magoar, apenas asfixiando e absorvendo a vida.
"Jaws clenching tight we talked all night, oh but what the hell did we say? The good times are killing me."

A boa notícia é de facto existir ainda muito boa música. É preciso é saber procurá-la. (Ou mais simplesmente ouvir a Radar - 97.8).

Ou ir a casa dos primos.

11.3.05

Uma pequena lição

“Se vais para Paris para encontrar pessoas iguais a ti, mais vale ficares por cá a olhar para o espelho. É bem mais fácil.” Maria (colega do Crime Passional)

Para P.

Ao teu lado descobri o que era amar. Descobri o prazer de passar uma tarde de Sábado, quando está um dia espantoso do outro lado da janela, sentada no sofá a comer salame de chocolate e a namorar. Descobri a satisfação de conversar enroscada numa manta, a receber beijinhos no pescoço, e a contar todos os pormenores da minha vida, de trás para a frente, da frente para trás, repetir histórias, contar novidades, retribuir beijinhos.
Ao teu lado conheci plenitude, como se, estando contigo, não precisasse de mais nada nem de ninguém. Parece lugar-comum mas é verdade, quando estamos juntos não precisamos de nada, podemos isolarmo-nos e assim ficar, porque quando estamos os dois não há necessidades para além desta, enorme, de estarmos um com o outro, de aproveitarmos as potencialidades de cada corpo, de cada mente, de cada risada, de cada vida.
Sobretudo, ao teu lado, aprendi muito. Cresci contigo. Apareceste quando eu mais precisava de um amigo, de um namorado, olhei à volta e vi-te, também tu carente, de braços abertos em busca de alguém. Estava numa fase da adolescência em que temos a certeza de tudo, até mesmo de nos conhecer a nós mesmos! Pois eu afinal ainda não me conheço nem sei tudo sobre tudo e estou a anos-luz de atingir tais feitos. Foi contigo que descobri as minhas fragilidades (algumas, pois tantas outras estão por descobrir), que resolvi alguns problemas existenciais e deparei-me com outros piores ainda por decifrar, que amadureci e me tornei esta rapariga que muitos rapazes julgam não estar comprometida e acham interessante – mal sabem eles que, ao se interessarem por mim, estão no fundo a se interessarem por ti, porque nós somos um e um só, “eu sou tu, tu és eu” podia ser o refrão de um morna mas não, é a nossa relação: feita de bocadinhos unidos, de lágrimas, de dúvidas, de sorrisos, de amor.
Há uma canção dos Air que se chama Playground Love (I’m a high school lover and you’re my favourite flavour”). Contigo sinto-me criança, ando no baloiço da vida sem peso nem altura, tenho-te ao meu lado para me amparar nas quedas e para festejar comigo nos saltos bem-sucedidos. Mas, às vezes, acho que este amor para sempre adolescente impede-me de crescer e evoluir, de seguir determinados rumos e escolhas.
É assim que, mesmo gostando de ti como gosto, tantas vezes sinto as pernas fraquejarem e a não quererem seguir aquele caminho que escolheste, que te culpo por ser o mais fácil. Sabes?, as minhas pernas têm vários quilómetros em cima e gostam de caminhos tortuosos.

À primeira vista

Estava sentada num banco de jardim à espera de uma amiga quando ele passou e eu o vi pela primeira vez. Chamou-me a atenção o rosto agradável, o nariz perfeitamente desenhado, como numa escultura romana, a pele lisa, os olhos vivos, escuros como dois seixos mas muito brilhantes.
E o seu sorriso.
Tem um sorriso alegre, mas não pateta, ternurento, mas não ingénuo, traquinas, mas não demasiado infantil. Não é um sorriso de criança nem de adulto, talvez seja como o nosso devia ser quando nos manifestam carinho ou recebemos uma carta ou quando, depois de tantos dias de chuva, o Sol nasce inesperadamente e o céu fica azul. É isso. É um sorriso que me transporta para momentos bons, para lugares de felicidade.
Apanhou-me a olhar descaradamente e esboçou-me o seu sorriso, que eu retribuí, corando. E enquanto ele se afastava, eu, sem saber o seu nome ou idade, fiquei a construir castelos no ar, como o que aconteceria se ele tivesse deixado cair a carteira ou, pior!, tivesse sido atropelado ao passar a rua e eu fosse a única pessoa capaz e disponível para o ajudar (já viram o Closer?). A Teresa encontrou-me assim, absorta, e eu expliquei-lhe.
“Eu acho que acabou de passar por aqui a pessoa por quem me vou apaixonar.”
Ela já está mais que habituada a estes meus devaneios amorosos, por isso a resposta foi “’Tou cheia de sono… Vamos tomar café?”

Andámos até ao café de sempre de forma automática, quase sem falar. Quando nos sentámos, a pergunta: “E se ele for um psycho killer?”
“Com aquele sorriso? Nunca na vida. Ah! Eu quando vejo um sorriso vejo uma alma, minha cara. E aquele sorriso não engana ninguém. Era a minha alma gémea a passar e eu deixei-a ir.”
Ela riu e eu notei perfeitamente que ela não estava a acreditar numa palavra.
“Eu acredito, agora achei que essas coisas de alma gémea já te tivessem passado, francamente, já tens idade e experiência para teres aprendido que não acontecem cenas como ver um homem na rua e sermos felizes para sempre ao seu lado.”
“E se eu te dissesse que o homem da minha vida, o mesmo que passou por mim há pouco, está a entrar neste mesmo café? Acreditavas em amor à primeira vista?”
Ela de costas não o via, mas eu reconheci-o perfeitamente, ao seu sorriso sobretudo, mas também a todos os detalhes do rosto que ainda há pouco tinha achado giríssimo.
“Eu passava era a acreditar em pessoas que nascem com o rabo para a lua. Em coincidências enormes. Em sorte. Onde é que ele está?”
“Com casaco de cabedal castanho, atrás de ti às onze horas. Sê discreta que ele está a olhar para aqui.”

Foi quando a vi soltar uma gargalhada ruidosa “Disseste castanho? É o teu dia de sorte! Ele é meu amigo, Maria! Anda cá que eu já te vou apresentar ao homem da tua vida!”
“’Tás a brincar? Não faças isso, estou a ficar nervosa, isto vai correr pessimamente… Ah-oh! Ele está a vir para aqui, ele está a vir para aqui… Acalma-te Maria, respira fundo, é só um amigo da tua amiga, não é preciso ficares assim, respira Maria! Calma Maria!”
Eu queria acalmar-me mas ele dirigia-se cada vez mais rapidamente para a nossa mesa, com o mesmo sorriso, só um pouco mais triunfante, acenava à Teresa, acenava-me a mim, eu sentia suores frios por todo o corpo e a minha amiga gozava da minha aflição. Pareceu uma eternidade até ele chegar ao nosso pé.

“Olá Teresa, posso me sentar aqui convosco? Nunca tinha visto este café tão apinhado de gente… Desculpa, acho que nunca falámos, sou o Rodrigo.”
Fiquei com cara de parva a olhar para aquela mão branca estendida e não reagi. Acho que eu aí até envergonhei a Teresa.
“É a minha amiga, a Maria. Parece que perdeu a fala mas ela costuma ser uma pessoa normal.”
Acho que não vos disse que a Teresa é aquele tipo de amigas engraçadinhas que conversam muito e não se importam nada de ainda nos pôr mais envergonhadas em situações por si só embaraçosas.
“Pois sou, olá.”
“Boa tarde, Maria.”
Ao dizer isto, dissecou-me com o olhar (não preciso de vos repetir o quão vivos e brilhantes eram os seus olhos) e, de forma intensa, sorriu. Mas desta vez era um sorriso só para mim, não era para o mundo em geral.
Foi quando eu percebi que íamos mesmo ficar juntos para sempre. E ficámos.

“You are the only person who’s completely certain”*

Sabes, amigo: és a única pessoa que tem completa certeza das coisas que está a fazer. Acho que toda a gente olha para ti e fica com inveja da determinação com que encaras cada passo da tua vida. Logo eu que faço confusão com cada decisão minha: com as que já tomei, com as que vou tomar, com as que tomarei, olho para ti e orgulho-me de ser tua amiga.
Gostava de ser como tu e achar que é tudo óbvio; acho que o meu defeito é ver detalhes onde eles não existem, ver obstáculos onde eles não estão.
Cada escolha que faço é como fumar um cigarro: rouba-me anos de vida. Tu não, com os teus vinte e tal anos, andas pelo mundo sem fardos nem consciência; és a descontracção em pessoa.
Quando te digo que estou com um dilema nas mãos, ris alto e a bom som, sabes bem do que falo mas não porque lá tenhas andado. Quase quase às gargalhadas (só não as soltas da garganta por respeito), respondes “Em vez de ler escritores tão ou mais problemáticos que tu, devias era ler um livro que eu li sobre mudança “Quem mexeu no meu queijo?””. Eu fico a pensar se esse livro valerá mesmo a pena e, quando olho para ti, tranquilo e satisfeito, acho que esse livro é o tratado de psicologia mais avançado que existe. Acabo por nunca lê-lo e por voltar sempre à mesma história – também acho que isto de ser problemática, como tu dizes, já está entranhado na minha maneira de ver a vida.
Mas não penses que ando triste, não. Até tenho andado bastante feliz. E se te estou a dizer isto hoje é mesmo porque não estou com problema nenhum entre mãos.

De qualquer maneira, faz-me confusão ser assim confusa.

* (Interpol, “PDA”)

4.3.05

Não acham que...

...Se estou acordada a esta hora (6:30) devia estar na feira da Ladra a regatear objectos antigos, como pulseiras de latão (vintage é como lhes chama a Vogue)?
No leitor de DVDs continua a girar, tal como num gira-discos, o Padrinho II...O Padrinho I vimos mais cedo. Tencionamos ver o Padrinho III mas, pelo aspecto desta sala, com tantas desistências, não me cheira...

Sedução

Gosto da sensação vertiginosa que é termos um homem ao nosso lado e não saber bem o que vai acontecer depois. Gosto de sentir os seus toques a medo, primeiro a mão, depois o braço, depois o abdómen e a perna, suavemente, sem pressas. Gosto que ele me puxe contra o seu corpo sem força, contra o seu peito magro. Gosto que me prenda entre os seus braços. Gosto de adormecer encostada a um homem que me saiba embalar. Gosto que ele me dê um beijinho de boas-noites na cara.

3.3.05

Amigos

"Querido Gustavo,
entendo que a amizade não deva ser uma coisa que se peça assim e que se dê de forma impensada. Mas quando te pedi para continuarmos amigos não te queria ofender, nem isso me passou pela cabeça. Para mim era só uma forma de nos vermos, de conversarmos um com o outro, de irmos ao cinema juntos (mesmo longe, continuas a ser o meu cinéfilo preferido). Sem o pretexto de sermos amigos, irmos juntos conversar para o Parque Eduardo VII parece-me quase ridículo, Gustavo.
Eu quando acabei com a relação que tínhamos, não queria acabar com outras relações que pudéssemos vir a ter juntos. A minha mãe diz-me que tu precisas de tempo e de espaço, e que tens todo o direito a isso. É estranho, a minha mãe não é de frases feitas, mas em relação a ti, ela não consegue ser mais previsível; diz-me todos os dias que sente a tua falta lá em casa e que eu fui muito burra em te ter afastado.
Mas é por mim, não por ela, que te escrevo. Quero ser tua amiga, por isso garanto-te que vou lutar por isso. Ou a a amizade que tínhamos perdeu-se no momento em que te deixei?
Maria"

"Querida Maria,
sabes que eu detesto escrever mas como ainda não percebeste muito bem o que eu quis dizer (e se calhar eu também não percebi muito bem o que querias dizer), preferi explicar-te por carta.
Não vou ser cínico como me costumas acusar de ser, por isso vou directo ao assunto.
Para mim, amizade é uma relação que se contrói com tijolos pequenos mas muito fortes, inabaláveis. A amizade está no fim dessa construção e por isso não é uma coisa que se pede ou que se deseja, é-se simplemente.
O facto de eu não conseguir ser teu amigo não tem a ver contigo, mas eu conheci-te como minha namorada por isso não me ocorre ver-te de outra maneira. Como já não queres que eu olhe para ti dessa forma, nesse caso eu prefiro não te ver, Maria. O Filipe disse-me que isto era fugir ao problema, mas eu acho que ainda tenho direito de fazer o que me apetece.
Ser teu amigo para teres companhia para ires ao cinema ou para ires às lojas quando as tuas amigas não estão disponíveis, parece-me um pesadelo. O que eu quero com isto dizer também, é que tardes nos bancos do parque faziam sentido porque estávamos apaixonados um pelo outro, tu por mim, eu por ti.
Uma amizade neste ponto em que nos encontramos parece-me uma situação injusta, se pesares as vantagens de sermos amigos vais ver que a balança tende para o teu lado.
Ver-te quando te apetece me ver, voltar a ver-te, voltar a fazer as coisas que fazíamos como namorados será demasiado doloroso para mim, é como reviver; eu acho que se acabou, acabou, não vale a pena chover sobre o molhado.
É sem espírito vingativo que te digo, quando acabámos, Maria, para além do amor que achava que nos unia ter ido poço abaixo, foi com ele o que resultava desse amor: amizade, cumplicidade, cinema, companhia, jantares fora.
Sei que depende de mim vermo-nos amanhã ou para o ano. Por mim, via-te todos os dias, sabes disso muito bem, mas se as condições são a de sermos amigos, prefiro não te ver amanhã nem depois e deixar passar esta chuvada sentimental onde me encontro. Depois quem sabe.
"I guess it's up to me now - should I take the risk or just smile?"*
Gustavo

*(Misread, Kings of Convenience)