11.3.05

Para P.

Ao teu lado descobri o que era amar. Descobri o prazer de passar uma tarde de Sábado, quando está um dia espantoso do outro lado da janela, sentada no sofá a comer salame de chocolate e a namorar. Descobri a satisfação de conversar enroscada numa manta, a receber beijinhos no pescoço, e a contar todos os pormenores da minha vida, de trás para a frente, da frente para trás, repetir histórias, contar novidades, retribuir beijinhos.
Ao teu lado conheci plenitude, como se, estando contigo, não precisasse de mais nada nem de ninguém. Parece lugar-comum mas é verdade, quando estamos juntos não precisamos de nada, podemos isolarmo-nos e assim ficar, porque quando estamos os dois não há necessidades para além desta, enorme, de estarmos um com o outro, de aproveitarmos as potencialidades de cada corpo, de cada mente, de cada risada, de cada vida.
Sobretudo, ao teu lado, aprendi muito. Cresci contigo. Apareceste quando eu mais precisava de um amigo, de um namorado, olhei à volta e vi-te, também tu carente, de braços abertos em busca de alguém. Estava numa fase da adolescência em que temos a certeza de tudo, até mesmo de nos conhecer a nós mesmos! Pois eu afinal ainda não me conheço nem sei tudo sobre tudo e estou a anos-luz de atingir tais feitos. Foi contigo que descobri as minhas fragilidades (algumas, pois tantas outras estão por descobrir), que resolvi alguns problemas existenciais e deparei-me com outros piores ainda por decifrar, que amadureci e me tornei esta rapariga que muitos rapazes julgam não estar comprometida e acham interessante – mal sabem eles que, ao se interessarem por mim, estão no fundo a se interessarem por ti, porque nós somos um e um só, “eu sou tu, tu és eu” podia ser o refrão de um morna mas não, é a nossa relação: feita de bocadinhos unidos, de lágrimas, de dúvidas, de sorrisos, de amor.
Há uma canção dos Air que se chama Playground Love (I’m a high school lover and you’re my favourite flavour”). Contigo sinto-me criança, ando no baloiço da vida sem peso nem altura, tenho-te ao meu lado para me amparar nas quedas e para festejar comigo nos saltos bem-sucedidos. Mas, às vezes, acho que este amor para sempre adolescente impede-me de crescer e evoluir, de seguir determinados rumos e escolhas.
É assim que, mesmo gostando de ti como gosto, tantas vezes sinto as pernas fraquejarem e a não quererem seguir aquele caminho que escolheste, que te culpo por ser o mais fácil. Sabes?, as minhas pernas têm vários quilómetros em cima e gostam de caminhos tortuosos.

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