1.2.06

Z1

Agarrei num pincel e pintei-te. Não me esqueci de nada, os teus lábios carnudos mas suaves, os teus olhos castanhos e grandes, o teu nariz genialmente esculpido na tua face ossuda, que também desenhei, aqueles dois sinais que tens mesmo ao lado do olho direito. Demorei algum tempo com o teu cabelo, sabes que é difícil desalinhá-lo e deixá-lo ao mesmo tempo penteado como tu fazes.

Confesso, não fui capaz de captar o teu sorriso, de roubar aquele brilho do olhar que me põe as pernas a tremer, de pintar aquelas madeixas grisalhas que tanto te preocupam ou de passar para o papel as tuas rugas de expressão enquanto sorris e fechas as pálpebras, por isso o meu desenho, que se exigia ser uma fiel representação de ti, não passa de rabiscos de criança ao lado da imensidão da tua beleza. Porque tu és bonito para além do teu aspecto físico, há mais qualquer coisa em ti que eu não consigo explicar nem, talvez por isso mesmo, consegui transmitir com o meu pincel.

Guardei os pincéis e os óleos e decidi procurar-te dentro de mim. E rapidamente descobri o que falta à minha pintura para se parecer contigo, são as tuas mãos a agarrarem-me na cintura enquanto a tua voz me pede "Não vás.".

No comments: