Nen sempre se percebe porque gostamos à primeira de uma canção. Há quem fale em letra, há quem fale em melodia ou instrumentalizações, há quem fale em beats e pós-produção. No caso de quem escreve, costuma ser uma sensação de viagem, de identificação, ou para resumir e deixar-se de devaneios, aquela sensação boa de comer um gelado de nata com molho de chocolate quente e morangos frescos, sabem?, é essa sensação que me costuma prender a uma canção.
No caso de Cansei de ser sexy (CSS para facilitar), há também o humor. Que começa imediatamente com o nome escolhido pela banda [que eu vou mandar escrever numa t-shirt, by the way] e com o início da banda: quando se juntaram, quais trapezistas musicais sem rede, não sabiam tocar instrumentos nenhuns à excepção do baterista. É no mínimo inusitado, querer ter uma banda e não saber tocar, mas é visível em toneladas de objectos pop morangos-com-açúcar-band-totalmente-em-desrespeito-com-a-música; ainda mais inusitado se torna quando as pessoas que se juntam têm realmente paixão pela música, como eu ou tu, porque ainda mais do que inusitado torna-se sobretudo um acto de coragem e rebeldia. E o humor, ou a ironia, acontece também na distribuição do seu cd, que vinha com um CD virgem vazio para que se pudesse copiá-lo livremente (bela forma de combater a hipocrisia da suposta crise dos downloads ilegais). E o humor está também em cada título de EP, canção ou álbum (Em Rotterdam já é uma febre é o nome do primeiro EP, Let's make love and listen to Death from above, o nome do single).
Toda a gente sabe que o Brasil é um mundo, quem lá foi e quem pelo país se interessa mais do que ninguém o reconhece, se fosse para descrever o Brasil com uma cor, teríamos que usar uma paleta enorme, porque é um país de vários tons, não se fica pelo amarelo, também é cinzento, não se fica pelo azul, é também vermelho, não se fica pelo verde, é também laranja; nãoo se fica pelo branco, é também preto. E um dos factores inequívocos desta panóplia espectrofotométrica é, indiscutivelmente, a música. Estando toda a gente familiarizada com a bossa-nova, o samba, o pagode, o sertanejo, as dúvidas afloram um pouco quando se fala em baile funk, electrónica, hip-hop, reggae isto tudo cantado em português com um sotaque que lhe dá a graça toda. São Paulo, meus amigos, está no epicentro desta revolução (S. Paulo e as favelas, mas para o caso as favelas pouco interessam pois os moços de que vos falo são paulistas). E que cidade melhor que S. Paulo para fundir toda a música num só estilo? (uma cidade que, recordo-vos, tem tantos ou mais habitantes que Portugal todo junto) Em São Paulo, muito graças à editora Trama, nascem e renascem novos géneros musicais a toda a hora, novos hypes a cada minuto, novas bandas a cada segundo. E nós, deste lado do Atlântico, agradecemos. Porque esta música brasileira nova traz a boa-disposição e o sentimento da velha mas intemporal MPB, apenas torna-a mais bip-bop (seja o que isso for).
E é de bip-bop e de silly season que os CSS são feitos. Guitarras que misturam rock com electrónica desmesurada, beats provavelmente saídos de um órgão Casio (carrega-se-neste-botão-e-pronto), que se conjugam para fazer das coisas mais dançáveis (e sexys, há que dizê-lo) que já se ouviram este ano, letras provocantes e fáceis-de-decorar q.b., há The Kills e Yeah Yeah Yeahs mas há muito mais do que a fusão disto; os Cansei de ser sexy, sem o fazerem de propósito, conseguiram trazer muito mais às pistas de dança do que aquelas bandas de revivalismo 80s (que já me irritam): a evolução. Trouxeram mais, oferecem muito mais e é por isso que os devemos receber de braços abertos.
Na sua música há pura genuinidade (não confundir com ingenuinidade), há pôr-do-sol-depois-de-um-dia-de-praia, há caipirinhas, há bikinis e mini-saias e há corpos bronzeados. Mas, não fosse isto já bom o suficiente, não há só verão nestas canções, há também a cultura cosmopolita, há o Bairro Alto (ou a down-town NY), há o botellón (cada vez mais em voga na Praça Camões), há pontes sobre rios ( Brooklyn Bridge ou Vasco da Gama, not important), há imperiais fresquinhas em copos de plástico, há piercings e t-shirts (às riscas sempre) rasgadas.
E não sou só eu a dizê-lo.
Os Cansei de ser sexy começaram este mesmo mês uma tournée com o Diplo pelos Estados Unidos (boa sorte, amigos!) e eu temo que, para bem do nosso Verão, eles sejam the next big thing. Vão-no ser pelo menos no meu leitor de cd's.
[Não fosse a música suficientemente boa e os meninos ainda tiveram a audácia de ter um grande vídeo para mostrar]
"Let's make love and listen to Death From Above"
Cansei de ser sexy n'Os desumanos
Tempo para um conselho: se querem ser felizes, vão ao site da Trama, dos CSS e ao seu mypace e oiçam mais.
Tempo para um aviso: se não dançarem, é porque estão mortos.
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