11.2.07

Uma canção. De madrugada.

Há uma vontade de chorar, amarga, como todas as vontades de chorar. Vem pela madrugada a dentro e parece cortante como uma lâmina afiada há pouco a tempo. (Por um afiador. Que é feito dos afiadores, com o seu assobio triste?)

O coração jaz pequeno, num tórax que enche de ar e de dor a cada inspiração. O coração. Não sabe se bate ou se cessa a sua batida constante e pensa nisso com regularidade. Ou será ela quem pensa nisso? Sentir as extremidades do corpo frias e a alma dissociar-se da pele que a prende. Sem saber se corre sangue por todas as artérias - será circulação desnecessária?

Um corpo tão grande, que ocupa tanto espaço útil da superfície terrestre, e tão vazio. Retumbam imagens como fotografias antigas - e, ainda assim, não tão antigas quanto isso - pelas suas paredes; retumba a angústia que nunca o abandona. A ter alguma coisa, este corpo, será a sua angústia. A mágoa por todas as coisas serem efémeras. A mágoa por todas as coisas serem efémeras e se ter consciência disso. E isso a apoquentar.

Há uma vontade de chorar e uma alma cansada. Há uma canção que alguém lhe canta mentalmente, quando fecha os olhos. Já há muito tempo que não ouve, mas percorre a estante em busca daquele álbum. Tanta coisa nova que ouve todos os dias, mas só esta canção a aninha em seus braços, pelo menos hoje. Envolve-a num abraço e cada palavra faz sentido, mesmo após tê-la ouvido cinquenta vezes. Só este início calmo balança o seu corpo hoje; só esta ponte fá-la reconsiderar as alternativas; só este final subitamente agressivo fá-la libertar-se de alguma revolta. E hoje, só esta canção lhe beija o pescoço e suspira, melosa, "Está tudo bem." Porque está.



dEUS :: Instant Street

You're probably right, seen from your side, that I've been lucky
but I've been meaning to crack all week.
Yes I've been involved, it never resolved into anything shocking.
And pain's playing yoyo in my body as we speak.

And now I found something to look for, but I can't decide,
'Cause I might find that to stroll behind is better than to score.
Just like I did before.

It wouldn't be true, not towards you, to say that I'm staying.
When on every single impulse, on every other move I react.

'Cause in any old creek, with changing technique, you'll see me playing.
After any old motherfucking blow I'll be back.

We turned away from instant stuff
Our cracking codes were breaking up
Our words were sucked out, it made them clean.
And after lowness say it
And after more let it be known
Our codes are grown into something mean.

You're probably right, as for tonight, you're making me nervous.
What is it you want me to be thinking of?
I'll put on a movie, I'll play something groovy
as a matter of service
And I'll chuckle when you smile as a matter of love.
'Cause you know it's not my style to be giving up now.
And this pain in my side, I had enough.

This time I go for Instant Street
This life's a soulless excuse for all abuse and parenthesis.
The flyspecked windows and the stinking lobbies
they'll remain all the same, all the same.

This time I go. This time I go...

(Desta vez, a letra não é um fait-divers nem está aqui para propósitos de karaoke. Está aqui porque completa o texto. Por favor leiam, para que mais coisas façam sentido.)

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