9.7.07

A Versão do Mark Ronson (ou como viajar no tempo usando a pop dos últimos anos)

Decidi actualizar o meu blogue enquanto ouvia, pela primeira vez, o álbum de versões do Mark Ronson. Para quem não sabe, o Mark Ronson é responsável pelas melhores faixas (quase todas, diga-se) do álbum maravilhoso da Amy Winehouse, Back to Black, e fez um disco só com versões soul, funk and groove de canções que, aparentemente, nada ou pouco têm a ver com esse universo. Como é a primeira vez que o oiço na íntegra (confesso que já ouvi faixas aqui e acolá e isto tem versões adoráveis de canções inesperadas - ultimamente tudo é adorável para mim, é o meu novo adjectivo favorito), não faço a mais pálida ideia do que poderá vir a sair deste post, o que não é necessariamente mau.

O disco começa com uma versão da God put a smile upon your face dos Coldplay, numa versão que não faria remexer na cova nenhum falecido da Motown. É um instrumental com uns tais de The Daptones Horns (não devem ser os Daptone Kings que acompanham a Sharon Jones, logo a pesquisa que faria pelo google sobre os senhores também vocês a podem fazer, MOVE YOUR LAZY ASSES!). Ora, começando pelo princípio: sim, Deus pôs um sorriso na tua cara. E na minha. Se bem me lembro - já vos disse que esta versão é um instrumental absolutamente groovy mas sem vocais, logo sem letra - esta canção, do segundo álbum dos Coldplay, dizia "oh when you work it out I'm worse than you" e "god gave me style and gave me grace, god put a smile upon my face". Em relação aos Coldplay, eu gosto deles - geralmente confessava isto em surdina e digo para guardarem o segredo a sete chaves, mas isso era uma mania parva. Ultimamente, tão recentemente quanto o meu uso da palavra adorável, quero lá saber de julgamentos acerca do meu gosto musical. Que'lá saber. A quem fizer comichão, coce-se, use Fenistil, ponha unguentos - é para o lado que eu durmo melhor (já agora, é o esquerdo). (Entretanto já ouvi sete vezes a canção, cinco das quais levantei-me para ir dançar para cima da cama, qual palco improvisado). Mas é por ser-me completamente cagativo que hoje vou escrever aqui que gosto de uma canção do mais lamechas-RFM-só-grandes-músicas possível. É de um moço de seu nome James Morrison e chama-se "You give me something" e, em princípio, toda a gente conhece porque até já esteve nos ecrãs das estações de metro. A canção diz qualquer coisa como "this could be something, so I might just give it a try", o que, em linhas simples, resume a minha vida nos últimos tempos - e deve ser por aí que gosto tanto do diabo da faixa. Em relação aos Coldplay, o primeiro álbum, Parachutes, é simplesmente óptimo e depois foram por aí abaixo em linha descendente. Não que X&Y seja um péssimo disco, que não é, até porque tem a Talk, cuja guitarrada foi inspirada numa faixa dos Kraftwerk, e a Fix you (*weeps* "Lights will guide you home (...) I will try...[pausa] to fix you" - se esta frase não se adequa a nenhum momento da vossa vida, meu Deus, façam um favor a vocês mesmos e apaixonem-se.). Para além disto, eu casava-me com o baixista Guy Berryman (meninas, google him para saberem de que estou eu a falar) , os Coldplay dão excelentes concertos e o Chris Martin é um frontman imparável.

Quem também é um frontman imparável - homem da frente, em português - é o Paul Smith dos Maximo Park. Tive oportunidade de vê-los pela segunda vez no Super Bock Super Rock e, longe de terem dado o melhor concerto do festival, dão um concerto energético, viciante, muito don't stop me now 'cause I'm having such a good time. A Apply some pressure está no disco do Mark Ronson, cantada pelo próprio Paul Smith: o ritmo manteve-se, adicionando-se uma secção de sopros onde antes estava uma guitarrada. Razoável.

Versão fraca, fraca é a LSF dos Kasabian, banda que, sinceramente, nunca levei muito a sério ( e ainda menos depois de vê-los ao vivo, no Sudoeste, curiosamente no mesmo dia que vi Maximo Park). A LSF aparece aqui cantada pelo vocalista dos Kasabian (não sei o nome, nem quero saber, só não tenho raiva de quem sabe). Está fraquíssima como versão (como canção já o era, apesar daquele início oto-viciante do "come on in, get on in" ou assim, o que provavelmente não ajuda). Mas o Mark Ronson também fez alguns milagres.

Dentro desses milagres está a Toxic da Britney Spears, cantada, neste disco, por um homem, com partes de rap, por outro homem, que não correspondem ao original. Pela vossa saúde vos digo, está óptima. Sou suspeita porque nunca odiei a Britney com todas as minhas forças e sempre achei esta Toxic muuuuito sexy:

With a taste of your lips I’m on a ride
You're toxic I'm slipping under
With a taste of a poison paradise
I’m addicted to you
Don’t you know that you’re toxic
And I love what you do
Don’t you know that you’re toxic.

Mesmo assim, esta versão dá dez a zero ao original: uma voz quase dorida pela toxicidade desse veneno que é um homem/ mulher viciante (raios.). O trompete no lugar certo, no momento certo, quando no original isto era um efeito digital qualquer. E há "uh-uuuh" por trás, exacerbando a dor que é este vício (raios. vezes dois). O pior desta versão é o seu efeito prático, porque em vez de fazer-nos afastar da languidez dos beijos envenenados faz-nos desejá-los ainda mais ardentemente (raios. vezes três). Óptima.

[mais versões já a seguir.]

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