31.7.07

O aquecimento global é um mito urbano.

Está uma carrinha daquelas Volkswagen pão de forma parada em frente ao portão da casa. Não há nada de poético nisto, é apenas uma velha carroça cuja pintura está desbotada pelo sol, apesar de estar agora na moda fazer road-trips dentro de uma coisa destas, e a casa é feia, tem um friso de azulejos castanhos, a tinta dos tapa-sóis está a descascar-se, o jardim está descuidado - as plantas que deveriam viver morrem e as intrusas e penetras sobrevivem e invadem os caminhos curtos de calçada.

Não há, portanto, nada de poético nisto. É apenas mais uma casa feia, mais um jardim desarranjado, mais um carro a cair de podre.

Está um calor de amolecer ossos. Não há uma singela brisa que sopre e quebre a moleza deste calor - há, isso sim, insectos que se deixam ficar no ar, também eles com preguiça de voar, mexendo as asas com a calma de quem não tem nada para fazer. Dentro da casa está quase tanto calor quanto lá fora, é um calor horrível, que ultrapassa a dor ou a euforia.

Sente-se, aliás, como um cheiro nauseabundo, um vazio emocional muito grande - como se o calor impedisse que se sentisse ou, simplesmente, se sobrepusesse a qualquer sentimento possível.

É neste estado apoplético que partimos dentro da velha carrinha, agradavelmente surpreendidos pela corrente de ar que entra pelas janelas da pão de forma quando a pomos em movimento.

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