Os pés levaram-me para o sofá e os dedos, encostados à borracha dos botões do comando, levaram-me até à RTP Memória, onde estava a ser transmitido o Parabéns, com Herman José.
Há várias considerações a tecer quando se vê o Parabéns com Herman José (nunca tinham reparado que o nome é assim mesmo? é para isso que aqui estou). Uma delas é francamente óbvia: o Herman José nesta altura não era loiro. E afinal nesta altura também já não tinha assim tanta piada quanto isso - recordo-me que o humor voltou aos programas do Herman com as rábulas da Maria Rueff no Herman'98, não com o próprio Herman. O Parabéns com Herman José era, já nesta altura, um chorrilho de amizades e de queridas e queridos e de grandes amigos para todo o lado. Talvez com menos pompa do que o actual Herman SIC (programa que não assisto há coisa de dois anos e meio ou mesmo mais), mas ainda assim uma chatice.
A roupa das criaturas que aparecem no programa é digna de nota. O Parabéns com Herman José é dos anos noventa, meodeos. Eu já estava minimamente acordada para a vida nesta década e não me lembro de n i n g u é m na minha família se vestir assim - God forbid! No jogo das idades, em que os dois concorrentes seleccionados para jogar com o Herman escolhem aniversariantes do público, uma miúda tinha a minha idade actual - 22 anos, para os poucos que não sabem - e eu dava-lhe, na boa, 30 anos ou mais. Ou mais. Que ar tão pesadão. Que coisa é aquela de vestir um tailleur cinzento escuro para ir a um programa de televisão de entretenimento? Se ainda fosse falar sobre microeconomia, aceitava-se o ar - literalmente - cinzentão. Agora ali há dados que rebolam sobre as cabeças do público, chaves com cores berrantes em que só uma abre o cofre do banco Fonsecas e Burnay (que é feito do banco Fonsecas e Burnay, anyway?), há a Ana Bola e o Vítor de Sousa para o momento humorístico da noite. E no programa que assisti (apenas parcialmente, confesso), o aniversariante VIP era o Artur Albarran. (E a mulher por quem estava apaixonado na altura - e casado, acho - não era a Lisa que alegadamente levou pancada, para verem como o mundo dá voltas.) Não é programa para alguém ir vestido daquela maneira. Adiante.
Claro que assistir a este programa, Parabéns com Herman José, deixou-me um pouco nostálgica. Os meus sábados à noite em miúda eram exactamente a ver aquilo: a aguardar ansiosamente que acabasse o Telejornal, depois de comer creme de ervilhas e ovo estrelado com arroz, em casa da minha avó - para que começasse o Parabéns com Herman José. Eu vibrava com aquilo. Sonhava com o dia em que eu pudesse participar para ir ali, na semana do dia 18 de Novembro, pôr as mãos naqueles dados que me pareciam tão fofinhos. (Ainda hoje quando vejo dados grandes, daqueles de esponja para as crianças brincarem, agarro-me a eles com convicção e faço-os rolar com um rufar de tambores - Joana, the human beatbox - , tal como no Parabéns com Herman José.) Escolhia as cores das chaves com fervor para abrir o tal cofre do banco Fonsecas e Burnay, que continha setecentos e cinquenta mil escudos, os presentes com pistas muito idênticas - mas em que os pequenos detalhes distinguiam um micro-ondas de um simples púcaro. E havia a banda. E eu gostava daquilo tudo e lembro-me que toda a gente lá em casa via aquele programa comigo.
Bem vistas as coisas, faz falta um programa assim à actual televisão-floribella-morangos-related. Apesar de tudo, a entrevista com o Albarran estava a aborrecer-me desliguei a televisão. Já há muito tempo que não via tanto tempo de televisão de seguida, ainda assim.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment