"Hoje estava a andar a pé e reparei que sei de cor a Summertime do Gershwin." [entusiasmo]
"Qual é essa." [desinteresse]
"Aquela do Porgy and Bessy, "summertime and the wheather is easy"." [faz voz de cantora de jazz]
"Já sei. Sabes de cor?" [espanto]
"Sei. E no regresso apercebi-me que também já quase sei a Poetas do karaoke toda." [alegria]
"És uma pessoa muito desocupada, Joana." [sarcasmo]
27.12.06
Mundo Feminino, edição século XXI
Já não é a primeira vez que temas femininos são abordados neste blog. Não quero tornar isto uma versão barata de uma revista feminina (se bem que às vezes conto aqui coisas dignas de figurar nas páginas do consultório da Maria), mas há certas coisas de tal maneira intrincadas nisto de ser mulher (ou miúda, conforme o caso)que eu preciso de abordá-las aqui.
Uma dessas coisas é a depilação. A depilação é um acto íntimo. Há filosofia na depilação: sujeitar-se a dor, física, real, em prol de um bem estético. Aliás os noems das senhoras dizem isso mesmo: são esteticistas. Há também sociologia na depilação: a partilha daquele momento íntimo mas doloroso torna vítima e agressor cúmplices, uma espécie de síndrome de Estocolmo versão quanto-mais-te-bato-mais-gostas-de-mim.
Eu era já amiga da minha esteticista (e já vão perceber porque estou a usar o pretérito imperfeito). Chamava-se Cristina, tinha uma filha de 6 anos, um namorado que não era o pai da filha, morava numa casinha junto à casa da mãe. Eu também lhe contava parte da minha vida, aulas, amores, desamores, saídas à noite. Sobretudo expunha-lhe as minhas dúvidas "devia fazer as sobrancelhas?", "o que fazer perante uma borbulha" ou "como resolver pêlos encravados" eram temáticas profundamente debatidas entre mim e a minha esteticista.
Uma semana antes de vir para a Madeira os pêlos estavam a precisar de uma camada de cera mas aguentei para poder visitar a Cristina. Pois marquei a depilação e qual não é o meu espanto quando lá apareço e quem me recebe é uma menina loura, com mais de metro e meio e que nunca me viu mais gorda.
Com a pergunta "costumava vir aqui?" começou então uma série de constrangimentos entre mim e a que vim a saber chamar-se Daniela, passando pelo silêncio praticamente sepulcral. Pensei que ia seguir a Cristina onde quer que ela estivesse, várias vezes na depilação das pernas. Pensei que a Sónia não tinha nada que trocar a Cristina só porque ela não tinha curso de esteticista. Afinal o que ensinam no tal curso que uma mulher não saiba por instinto? Pensei que a Cristina não tinha o direito de me abandonar desta maneira.
Mas quando me apercebi que a coisa estava feita e que não me tinha doído nada de especial, limpinhas que estavam as virilhas e as axilas, percebi a utilidade de um curso de esteticismo ou de seja lá o que for que esta malta estuda. E a Daniela disse mesmo "isto se lhe doía asim tanto antes é porque a rapariga não sabia fazer isto." Meio cabra, a Daniela, apesar de jeitosa para o seu trabalho.
Uma dessas coisas é a depilação. A depilação é um acto íntimo. Há filosofia na depilação: sujeitar-se a dor, física, real, em prol de um bem estético. Aliás os noems das senhoras dizem isso mesmo: são esteticistas. Há também sociologia na depilação: a partilha daquele momento íntimo mas doloroso torna vítima e agressor cúmplices, uma espécie de síndrome de Estocolmo versão quanto-mais-te-bato-mais-gostas-de-mim.
Eu era já amiga da minha esteticista (e já vão perceber porque estou a usar o pretérito imperfeito). Chamava-se Cristina, tinha uma filha de 6 anos, um namorado que não era o pai da filha, morava numa casinha junto à casa da mãe. Eu também lhe contava parte da minha vida, aulas, amores, desamores, saídas à noite. Sobretudo expunha-lhe as minhas dúvidas "devia fazer as sobrancelhas?", "o que fazer perante uma borbulha" ou "como resolver pêlos encravados" eram temáticas profundamente debatidas entre mim e a minha esteticista.
Uma semana antes de vir para a Madeira os pêlos estavam a precisar de uma camada de cera mas aguentei para poder visitar a Cristina. Pois marquei a depilação e qual não é o meu espanto quando lá apareço e quem me recebe é uma menina loura, com mais de metro e meio e que nunca me viu mais gorda.
Com a pergunta "costumava vir aqui?" começou então uma série de constrangimentos entre mim e a que vim a saber chamar-se Daniela, passando pelo silêncio praticamente sepulcral. Pensei que ia seguir a Cristina onde quer que ela estivesse, várias vezes na depilação das pernas. Pensei que a Sónia não tinha nada que trocar a Cristina só porque ela não tinha curso de esteticista. Afinal o que ensinam no tal curso que uma mulher não saiba por instinto? Pensei que a Cristina não tinha o direito de me abandonar desta maneira.
Mas quando me apercebi que a coisa estava feita e que não me tinha doído nada de especial, limpinhas que estavam as virilhas e as axilas, percebi a utilidade de um curso de esteticismo ou de seja lá o que for que esta malta estuda. E a Daniela disse mesmo "isto se lhe doía asim tanto antes é porque a rapariga não sabia fazer isto." Meio cabra, a Daniela, apesar de jeitosa para o seu trabalho.
23.12.06
Natal, Christmas, Nöel, Navidad, Weinachten
Amazing Grace | Sufjan Stevens
Amazing grace, how sweet the sound,
That saved a wretch like me!
I once was lost, but now am found,
Was blind, but now I see.
'Twas grace that taught my heart to fear,
And grace my fears relieved;
How precious did that grace appear,
The hour I first believed!
Through many dangers, toils and snares,
We have already come;
'Tis grace has brought me safe thus far,
And grace will lead me home.
When we've been there ten thousand years,
Bright shining as the sun,
We've no less days to sing God's praise
Than when we'd first begun.
(Talvez das canções de Natal mais bonitas de sempre - são tantas que rejeito aqui títulos absolutos - porque canta o meu Natal: época de reflexão, de remissão, dias de benção e de encontro comigo mesma e em que a fé não se questiona pois é sentida em cada sorriso, em cada doçaria, em cada missa, em cada cumplicidade, em cada beijo.)
O meu presente. (clicar e seguir o link para download.)
FELIZ NATAL!
Amazing grace, how sweet the sound,
That saved a wretch like me!
I once was lost, but now am found,
Was blind, but now I see.
'Twas grace that taught my heart to fear,
And grace my fears relieved;
How precious did that grace appear,
The hour I first believed!
Through many dangers, toils and snares,
We have already come;
'Tis grace has brought me safe thus far,
And grace will lead me home.
When we've been there ten thousand years,
Bright shining as the sun,
We've no less days to sing God's praise
Than when we'd first begun.
(Talvez das canções de Natal mais bonitas de sempre - são tantas que rejeito aqui títulos absolutos - porque canta o meu Natal: época de reflexão, de remissão, dias de benção e de encontro comigo mesma e em que a fé não se questiona pois é sentida em cada sorriso, em cada doçaria, em cada missa, em cada cumplicidade, em cada beijo.)
O meu presente. (clicar e seguir o link para download.)
FELIZ NATAL!
22.12.06
Alquimia
Princípio um: a transformação de metais vulgares em ouro.
Seres um indivíduo absolutamente igual aos outros. E eu também.
Princípio dois: a descoberta - ou a chegada- a uma cura universal, a panaceia que cura todos os males.
Eu ser feita de mágoa e o sangue que corre em mim ser lágrimas e ter-te olhado triste, um rio a quem uma barragem roubou fulgor, e tu mesmo assim me teres dado a mão sem fazeres perguntas e como em cada vez que a palma da tua mão encontrou a minha, foste super-cola para fragmentos de mim, que são de nada.
Princípio três: a criação de vida humana artificial.
Uma vida que já não era vida e é vivida apenas quando te despediste de mim com um beijo. E esse brilho no olhar ser mais eficaz que mil ventiladores no que toca à minha ressuscitação.
Seres um indivíduo absolutamente igual aos outros. E eu também.
Princípio dois: a descoberta - ou a chegada- a uma cura universal, a panaceia que cura todos os males.
Eu ser feita de mágoa e o sangue que corre em mim ser lágrimas e ter-te olhado triste, um rio a quem uma barragem roubou fulgor, e tu mesmo assim me teres dado a mão sem fazeres perguntas e como em cada vez que a palma da tua mão encontrou a minha, foste super-cola para fragmentos de mim, que são de nada.
Princípio três: a criação de vida humana artificial.
Uma vida que já não era vida e é vivida apenas quando te despediste de mim com um beijo. E esse brilho no olhar ser mais eficaz que mil ventiladores no que toca à minha ressuscitação.
Perco palavras
Perco palavras por não escrevê-las. Perco palavras porque não tas digo e olho-te em silêncio e reconheço em cada traço teu as palavras que perdi.
És tu, apesar de não o assumires, és tu em mim. É o teu sorriso no meu quando sorrio.
Sabes, podias voltar. Meter a chave à porta de casa (deixei de fechar a porta com a corrente para que possas sempre entrar), trazer na mão o saco do pão e dizer-me, sem mais delongas
Voltei.
e pousares o pão na mesa e lancharmos juntos como se tivesses ido embora só há cinco minutos para ir à padaria. Sem conversas desnecessárias, sem pedidos de desculpa, sem arrependimentos. Não te quero ouvir dizer o quanto sentiste a minha falta ou o quanto és estúpido por me ter deixado assim.
Por favor, não.
Por favor, finge que esteve sempre tudo bem.
Não quero que me mostres que mais uma vez estás comigo por carência. Foi por carência que nos juntámos, duas almas em perfeita sintonia, dois coraçães que batiam compassadamente, duas pessoas magoadas com o amor. Que perfeito que foi, ver-te em mim pela primeira vez, mal nos conhecemos: olhar para ti e seres a minha imagem em espelho, face simétrica de uma vida desalinhada e perdida.
Quero que me abraces porque nunca mais fui abraçada como tu me abraçavas, quero que apontes, quando estivermos a ler deitados sobre o tapete da sala, para aquele poema que te acabou de comover, que pouses os óculos e esfregues o nariz e digas
estou cansado, vou para a cama
e eu pergunte
já?
e tu respondas com risos e me pegues ao colo e transformes o cansaço em amor pela madrugada a dentro.
Desisto de chamar o teu nome mas nunca de ti porque desistir de ti seria desistir de mim. O meu corpo pede-me que te deixe ir mas todo o pouco que restou de mim depois do nosso amor não me deixa abandonar-te.
Perco palavras porque as digo em demasia. Sempre falei demais.
És tu, apesar de não o assumires, és tu em mim. É o teu sorriso no meu quando sorrio.
Sabes, podias voltar. Meter a chave à porta de casa (deixei de fechar a porta com a corrente para que possas sempre entrar), trazer na mão o saco do pão e dizer-me, sem mais delongas
Voltei.
e pousares o pão na mesa e lancharmos juntos como se tivesses ido embora só há cinco minutos para ir à padaria. Sem conversas desnecessárias, sem pedidos de desculpa, sem arrependimentos. Não te quero ouvir dizer o quanto sentiste a minha falta ou o quanto és estúpido por me ter deixado assim.
Por favor, não.
Por favor, finge que esteve sempre tudo bem.
Não quero que me mostres que mais uma vez estás comigo por carência. Foi por carência que nos juntámos, duas almas em perfeita sintonia, dois coraçães que batiam compassadamente, duas pessoas magoadas com o amor. Que perfeito que foi, ver-te em mim pela primeira vez, mal nos conhecemos: olhar para ti e seres a minha imagem em espelho, face simétrica de uma vida desalinhada e perdida.
Quero que me abraces porque nunca mais fui abraçada como tu me abraçavas, quero que apontes, quando estivermos a ler deitados sobre o tapete da sala, para aquele poema que te acabou de comover, que pouses os óculos e esfregues o nariz e digas
estou cansado, vou para a cama
e eu pergunte
já?
e tu respondas com risos e me pegues ao colo e transformes o cansaço em amor pela madrugada a dentro.
Desisto de chamar o teu nome mas nunca de ti porque desistir de ti seria desistir de mim. O meu corpo pede-me que te deixe ir mas todo o pouco que restou de mim depois do nosso amor não me deixa abandonar-te.
Perco palavras porque as digo em demasia. Sempre falei demais.
20.12.06
Prevendo já a melancolia de 2007
Eles voltaram com mais canções delicodoces. Encostem-se ao sofá, de chocolate quente na mão e sorriam - mesmo que às vezes saia uma lagrimita ou outra.
The Shins | Phantom Limb
(Wincing the night away)
The Shins | Phantom Limb
(Wincing the night away)
19.12.06
Melancolia recuperada ao ano 2001
The Shins > New slang
"Turn me back into the pet I was when we met.
I was happier then with no mind-set. "
13.12.06
E já agora, um pedido de desculpas
Lamento nunca mais ter escrito histórias sobre vidas paralelas à minha. Como imaginam, a maior parte dessas histórias acaba por beber da minha realidade, o que exige de mim um esforço suplementar - um quase sacrifício - e eu ando a dar férias às emoções demasiado fortes.
Inspirada no meu velho amigo Ricardo Reis, deixo os sentimentos à flor da pele para outros e passo pela vida silenciosamente e sem desasossegos grandes, de mãos desenlaçadas.
Não sinto vontade de abrir a arca dos desejos e das frustrações e encontro o prazer em cada coisa que me é apresentada. Talvez estes últimos meses tenham sido, apesar de tudo, aqueles em que mais disfrutei de mim própria como ser único, individual e independente.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
E como são prazeirosas as coisas mínimas! Libertar-se - aos poucos, é certo - do caos modernista álvaro-camposiano em que a minha vida se tinha tornado, em que as sensações se sobrepunham aos medos, em que o ruído se sobrepunha à música, e ser Lídia, à beira do charco sentada vendo as rosas, deixando que corra vida pelo riacho invés de ser ela a correr pela vida.
Parece desistir, mas não o é na verdade: desistir seria demasiado fácil e acessível. Leio Ricardo Reis - que sempre foi o meu heterónimo preferido - e aprendo a existir, isso sim. E existir está nos antípodas de desistir.
Existo de forma perfeitamente lúcida. Recuso-me a ser mais uma na carneirada dos vazios, mas também rejeito um lugar no grupo dos que sentem demasiado acabando por desperdiçar também demasiado. Come what may.
Ah a ataraxia: como uma forma de vida resumida numa palavra vai evitar que recorra a anti-depressivos e coisas que tais. Imperturbável e estóica, assim sigo, conduzida por linhas tranquilas.
Lembro-me de Epicuro e de como Reis escreveu
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Andava a exagerar e a excluir. Mas com o frio e estes dias de luz intensa, chegou esta paz morna e esta nova percepção de ser eu toda, por inteiro, nada a mais nem a menos, eu. Porque só na ilusão da liberdade / A liberdade existe.
Inspirada no meu velho amigo Ricardo Reis, deixo os sentimentos à flor da pele para outros e passo pela vida silenciosamente e sem desasossegos grandes, de mãos desenlaçadas.
Não sinto vontade de abrir a arca dos desejos e das frustrações e encontro o prazer em cada coisa que me é apresentada. Talvez estes últimos meses tenham sido, apesar de tudo, aqueles em que mais disfrutei de mim própria como ser único, individual e independente.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
E como são prazeirosas as coisas mínimas! Libertar-se - aos poucos, é certo - do caos modernista álvaro-camposiano em que a minha vida se tinha tornado, em que as sensações se sobrepunham aos medos, em que o ruído se sobrepunha à música, e ser Lídia, à beira do charco sentada vendo as rosas, deixando que corra vida pelo riacho invés de ser ela a correr pela vida.
Parece desistir, mas não o é na verdade: desistir seria demasiado fácil e acessível. Leio Ricardo Reis - que sempre foi o meu heterónimo preferido - e aprendo a existir, isso sim. E existir está nos antípodas de desistir.
Existo de forma perfeitamente lúcida. Recuso-me a ser mais uma na carneirada dos vazios, mas também rejeito um lugar no grupo dos que sentem demasiado acabando por desperdiçar também demasiado. Come what may.
Ah a ataraxia: como uma forma de vida resumida numa palavra vai evitar que recorra a anti-depressivos e coisas que tais. Imperturbável e estóica, assim sigo, conduzida por linhas tranquilas.
Lembro-me de Epicuro e de como Reis escreveu
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Andava a exagerar e a excluir. Mas com o frio e estes dias de luz intensa, chegou esta paz morna e esta nova percepção de ser eu toda, por inteiro, nada a mais nem a menos, eu. Porque só na ilusão da liberdade / A liberdade existe.
"I'm better than fine"
O shuffle do iTunes levou-me a ouvir isto - já não ouvia a Fiona há uns tempos - enquanto bebia um chá de menta (personal fave) e recuperava do Monte Velho bebido no jantar de turma. E é isto mesmo: aproveitar cada potencialidade, cada instante, cada dom, porque por mais que se peçam outras coisas no sapatinho (ah a graçola natalícia!) aquilo que já temos pode e deve ser usufruido.
"If you don't have a song to sing you're okay
You know how to get along
Humming
(Hmmm)
If you don't have a date,
Celebrate
Go out and sit on the lawn
And do nothing
'Cause it's just what you must do
And nobody does it anymore.
No, I don't believe in the wasting of time,
But I don't believe that I'm wasting mine.
If you don't have a point to make
Don't sweat it
You'll make a sharp one being so kind
And I'd sure appreciate it
Everyone else's goal's to get big headed
Why should I follow that beat being that
I'm better than fine."
Fiona Apple Waltz (Better than fine)
E sim, para variar, I'm better than fine. Meeeesmo bem. E quis que isso ficasse aqui registado porque sim.
"If you don't have a song to sing you're okay
You know how to get along
Humming
(Hmmm)
If you don't have a date,
Celebrate
Go out and sit on the lawn
And do nothing
'Cause it's just what you must do
And nobody does it anymore.
No, I don't believe in the wasting of time,
But I don't believe that I'm wasting mine.
If you don't have a point to make
Don't sweat it
You'll make a sharp one being so kind
And I'd sure appreciate it
Everyone else's goal's to get big headed
Why should I follow that beat being that
I'm better than fine."
Fiona Apple Waltz (Better than fine)
E sim, para variar, I'm better than fine. Meeeesmo bem. E quis que isso ficasse aqui registado porque sim.
5.12.06
Cat Power @ Aula Magna, 04.12.2006
Não se lembra de quando começou a beber. Nem porquê. Sabe, isso sim, que primeiro achou graça ao facto de toda a gente a abraçar e socorrer quando estava bêbeda. Gosta de ser o centro de atenções desde que nasceu, já em miúda tinha as atenções todas do pai.
I go to some bar room
And drink with my friends
If women and men would come to follow
To see what I might spend God bless them handsome men
I wish they was mine
É bonita. Magra, longilínea, lábios carnudos. Pinta os olhos com sombra negra esfumada e os olhos quase que parecem (ou serão?) verdes.
Depois chegaram as ressacas: e toda a gente sabe que a melhor maneira de combater a ressaca é bebendo um grande gole do que se bebeu na noite anterior. Quando deu por si, sem saber como, bebia a toda a hora. Deixou de ter fome ou sono. Nas festas também já não se divertia.
I spent all my money on whisky and beer
Ainda por cima o outro sacana deixou-a. Foi-se embora. Não porque gostasse de outra pessoa, não, afirmou mesmo que ainda a amava. Simplesmente foi. Ele e outros.
All that is left is an empty shell
Of my heart that is crushed
I don't never wanna see
What my mind has seen
When you loved me
Every night every night alone with you
Every night alone now
Noutras vezes foi ela quem partiu. Relações que adulteram as pessoas, tal como os sofrimentos. Sentir-se uma pessoa pior porque ama outra. Ou mais ainda do que sentir, ser-se. O coração ganhar calo cicatricial e já não bater como batia.
I don’t want be a bad woman
And I can’t stand to see you be a bad man
I will miss your heart so tender
And I will love
This love forever
And this is why I am leaving
And this is why I can’t see you no more
This is why I am lying when I say
That I don’t love you no more
Por isso quando o conheceu achou que a sua vida mudaria. Não se lembra do primeiro copo mas lembra-se do sorriso dele, ocupando a cara toda, enchendo Nova Iorque de uma esperança suave. Lembra-se de como os seus olhos fechavam e de como a língua humedecia os lábios, isto tudo antes de sorrir. De como ele não párava de sorrir. Ou dos seus olhos, profundamente verdes, melancólicos, naquele tom pantanoso do musgo. Só que nada disso lhe interessava realmente, porque o que a fez perder a cabeça foi aquele seu jeito miúdo de cantar as palavras enquanto falava, aquela traquinice - apesar de tudo - madura de encarar o mundo, de lhe mostrar caminhos e trajectos sem imposições.
It's not your face
Or the color of your hair
Or the sound of your voice my dear
That's got me dragged in here
It's the ice in the seam, the scheme of you
You're supposed to have the answer
You're supposed to have living proof
Deixou-se afundar no pântano dos seus olhos. Sabe que foi feliz. Ainda hoje o é, quando se recorda de cada passeio no Central Park, de cada concerto na Blue Note (ali entre a 6ª Ave. e a MacDougal St.) , de cada amanhecer sobre a Brooklyn Bridge erigido sobre conversas e risos.
Could we
Take a walk
Could we
Have us a talk alone
In the afternoon
(...)
What a dream
In the grass
We kissed
Fell in love too fast too soon
Love full bloom
Os encontros sucederam-se na proporção do amor que sentia. Na proporção dos copos de whisky que bebia. Ele não resolvera o problema dela com o alcoól. Ele não resolvia problemas, ele apenas podia ajudar no que ela quisesse mudar. Ela tinha que querer a mudança.
Enquanto se afundava no pantâno dele, afundava-se também em bebida, todos os dias mais um copo do que a conta do dia anterior. Ele não pedira aquilo. Nem tão pouco o prevera. Ele também queria mais, todos os dias mais descontente.
When you give half of you
I want all of you
Acabou por deixá-la como todos os anteriores tinham feito. E ela caíu na dormência fácil de quem perdeu a vontade para dar um passo em frente. A bebida era um óptimo aliado, os anti-depressivos, os ansiolíticos, as misturas explosivas, a cabeça que pesava mais que o corpo, que acabava por se manter recolhido em concha.
I don't want no heavy diamonds
And pearls crush my teeth
I just want my sailor
To sail back to me
(...)
But if you're not coming back
I will sleep eternally
Ninguém dorme para sempre sem morrer primeiro. E ela acabou por acordar um dia e percebeu que até ali era apenas argila moldada por quem a rodeava - os mesmos que pacientemente esperavam que ela acabasse por adormecer. Que a única vontade que era realmente sua era a de ser mais do que a própria vida, mesmo que isso significasse sacrificá-la.
Once I wanted to be the greatest
No wind or waterfall could stall me
And then came the rush of the flood
Stars of night turned deep to dust
(...)
Once I wanted to be the greatest
Two fists of solid rock
With brains that could explain
Any feeling
E porque uma ponte suspensa, por melhores que sejam os cabos que a sustentam ou os nós que a seguram, nunca deixa de ser desequilibrada, também ela ainda o é. Mas está mais feliz e gosta de si, por isso sorri enquanto dança. Pelo palco, pela vida, passos pequenos em passeios largos que lhe ensinam que para ser mulher não precisa de um homem, para ser mulher precisa de uma mulher dentro de si.
I go to some bar room
And drink with my friends
If women and men would come to follow
To see what I might spend God bless them handsome men
I wish they was mine
É bonita. Magra, longilínea, lábios carnudos. Pinta os olhos com sombra negra esfumada e os olhos quase que parecem (ou serão?) verdes.
Depois chegaram as ressacas: e toda a gente sabe que a melhor maneira de combater a ressaca é bebendo um grande gole do que se bebeu na noite anterior. Quando deu por si, sem saber como, bebia a toda a hora. Deixou de ter fome ou sono. Nas festas também já não se divertia.
I spent all my money on whisky and beer
Ainda por cima o outro sacana deixou-a. Foi-se embora. Não porque gostasse de outra pessoa, não, afirmou mesmo que ainda a amava. Simplesmente foi. Ele e outros.
All that is left is an empty shell
Of my heart that is crushed
I don't never wanna see
What my mind has seen
When you loved me
Every night every night alone with you
Every night alone now
Noutras vezes foi ela quem partiu. Relações que adulteram as pessoas, tal como os sofrimentos. Sentir-se uma pessoa pior porque ama outra. Ou mais ainda do que sentir, ser-se. O coração ganhar calo cicatricial e já não bater como batia.
I don’t want be a bad woman
And I can’t stand to see you be a bad man
I will miss your heart so tender
And I will love
This love forever
And this is why I am leaving
And this is why I can’t see you no more
This is why I am lying when I say
That I don’t love you no more
Por isso quando o conheceu achou que a sua vida mudaria. Não se lembra do primeiro copo mas lembra-se do sorriso dele, ocupando a cara toda, enchendo Nova Iorque de uma esperança suave. Lembra-se de como os seus olhos fechavam e de como a língua humedecia os lábios, isto tudo antes de sorrir. De como ele não párava de sorrir. Ou dos seus olhos, profundamente verdes, melancólicos, naquele tom pantanoso do musgo. Só que nada disso lhe interessava realmente, porque o que a fez perder a cabeça foi aquele seu jeito miúdo de cantar as palavras enquanto falava, aquela traquinice - apesar de tudo - madura de encarar o mundo, de lhe mostrar caminhos e trajectos sem imposições.
It's not your face
Or the color of your hair
Or the sound of your voice my dear
That's got me dragged in here
It's the ice in the seam, the scheme of you
You're supposed to have the answer
You're supposed to have living proof
Deixou-se afundar no pântano dos seus olhos. Sabe que foi feliz. Ainda hoje o é, quando se recorda de cada passeio no Central Park, de cada concerto na Blue Note (ali entre a 6ª Ave. e a MacDougal St.) , de cada amanhecer sobre a Brooklyn Bridge erigido sobre conversas e risos.
Could we
Take a walk
Could we
Have us a talk alone
In the afternoon
(...)
What a dream
In the grass
We kissed
Fell in love too fast too soon
Love full bloom
Os encontros sucederam-se na proporção do amor que sentia. Na proporção dos copos de whisky que bebia. Ele não resolvera o problema dela com o alcoól. Ele não resolvia problemas, ele apenas podia ajudar no que ela quisesse mudar. Ela tinha que querer a mudança.
Enquanto se afundava no pantâno dele, afundava-se também em bebida, todos os dias mais um copo do que a conta do dia anterior. Ele não pedira aquilo. Nem tão pouco o prevera. Ele também queria mais, todos os dias mais descontente.
When you give half of you
I want all of you
Acabou por deixá-la como todos os anteriores tinham feito. E ela caíu na dormência fácil de quem perdeu a vontade para dar um passo em frente. A bebida era um óptimo aliado, os anti-depressivos, os ansiolíticos, as misturas explosivas, a cabeça que pesava mais que o corpo, que acabava por se manter recolhido em concha.
I don't want no heavy diamonds
And pearls crush my teeth
I just want my sailor
To sail back to me
(...)
But if you're not coming back
I will sleep eternally
Ninguém dorme para sempre sem morrer primeiro. E ela acabou por acordar um dia e percebeu que até ali era apenas argila moldada por quem a rodeava - os mesmos que pacientemente esperavam que ela acabasse por adormecer. Que a única vontade que era realmente sua era a de ser mais do que a própria vida, mesmo que isso significasse sacrificá-la.
Once I wanted to be the greatest
No wind or waterfall could stall me
And then came the rush of the flood
Stars of night turned deep to dust
(...)
Once I wanted to be the greatest
Two fists of solid rock
With brains that could explain
Any feeling
E porque uma ponte suspensa, por melhores que sejam os cabos que a sustentam ou os nós que a seguram, nunca deixa de ser desequilibrada, também ela ainda o é. Mas está mais feliz e gosta de si, por isso sorri enquanto dança. Pelo palco, pela vida, passos pequenos em passeios largos que lhe ensinam que para ser mulher não precisa de um homem, para ser mulher precisa de uma mulher dentro de si.
30.11.06
"Devias ouvir stephen malkmus, em vez de gostares da vida"*
"go back to those gold soundz
and keep my advent to your self
because it's nothing i don't like
is it a crisis or a boring change?
when it's central, so essential,
it has a nice ring when you laugh
at the low life opinions
and they're coming to the chorus now...
i keep your address to myself
'cause we need secrets
we need secrets (crets crets crets crets crets) back right now
(...)
so drunk in the august sun
and you're the kind of girl i like
because you're empty
and i'm empty
and you can never quarantine the past
did you remember in december
that i won''t eat you when i'm gone
and if i go there, i won't stay there
because i'm sitting here too long
i've been sitting here too long
and i've been wasted
advocating that word for the last word
last words come up all you've got to waste"
*conselho com direitos de autor
and keep my advent to your self
because it's nothing i don't like
is it a crisis or a boring change?
when it's central, so essential,
it has a nice ring when you laugh
at the low life opinions
and they're coming to the chorus now...
i keep your address to myself
'cause we need secrets
we need secrets (crets crets crets crets crets) back right now
(...)
so drunk in the august sun
and you're the kind of girl i like
because you're empty
and i'm empty
and you can never quarantine the past
did you remember in december
that i won''t eat you when i'm gone
and if i go there, i won't stay there
because i'm sitting here too long
i've been sitting here too long
and i've been wasted
advocating that word for the last word
last words come up all you've got to waste"
*conselho com direitos de autor
29.11.06
A verdadeira cicatriz da infância é esta
[volta ao infantário]
"OLHA OS NAMORADOS, PRIMOS E CASAAAADOS!!!!!"
*corre atrás do tolinho que está a dizer isso, de seu nome joão maria*
*ele corre mais depressa*
"eu não sou namorada dele!" grita, ofendida.
*correm ainda mais depressa*
"és, és que estavam a dar beijinhos!"
"não estávamos nada! és mentiroso! vai-te crescer o nariz!"
*mais depressa*
"Tu é que és porque vocês são namorados que eu vi e eu vou dizer à Eugénia [a educadora]!"
*muuuuito mais depressa*
"Vou-te apanhar!"
*tropeça em mini-degrau*
Faz ferida gigante no cotovelo com cicatriz que se mantém aos 22 anos.
[/volta ao infantário]
"OLHA OS NAMORADOS, PRIMOS E CASAAAADOS!!!!!"
*corre atrás do tolinho que está a dizer isso, de seu nome joão maria*
*ele corre mais depressa*
"eu não sou namorada dele!" grita, ofendida.
*correm ainda mais depressa*
"és, és que estavam a dar beijinhos!"
"não estávamos nada! és mentiroso! vai-te crescer o nariz!"
*mais depressa*
"Tu é que és porque vocês são namorados que eu vi e eu vou dizer à Eugénia [a educadora]!"
*muuuuito mais depressa*
"Vou-te apanhar!"
*tropeça em mini-degrau*
Faz ferida gigante no cotovelo com cicatriz que se mantém aos 22 anos.
[/volta ao infantário]
26.11.06
Árvores de Natal, galochas e croissants de chocolate (e mais, muito mais)
Irritam-me casaizinhos aos beijos sob as luzinhas da Rua Augusta. Iritam-me alfacinhas em romaria para ver a árvore do Millenium (sim, deixem-se de merdas, é a árvore de um banco, não a que decoraram com os vossos filhos ou assim).
Chateia-me de morte que o preço das castanhas asssadas aumente todos os anos. Poucas coisas me dão tanto prazer do que comer uma dúzia de castanhas sentada num banquinho. Estou-me bem nas tintas para quem me ache deprimente. Eu também me acho deprimente e não é por aí que fico triste. (Eu sou deprimente mas não sou triste.)
Outra coisa óptima para se fazer quando o frio aperta é comer um croissant com chocolate na Bénard. São tão bons! Fico toda lambuzada em chocolate, nos dedos, na boca, no queixo. algum nas bochechas, mas é tão bom! Nunca me lembro de lá ir quando estamos no Verão, mas mal o frio aperta ou começa a chuva, é poiso certo.
É engraçado sentar-se na esplanada da Bénard - ou da Brasileira, se bem que nesta não se comem croissants - e ver/observar/estudar a fauna e flora que por lá anda. Gosto da Baixa por muitas razões e esta é certamente uma delas: hippies, rastas, punks, betos, tiazonas, indies, mitras, malta-do-ghetto, ciganos, alunos-de-belas-artes (sim, é um grupo social), fashioneers, gays, por lá se encontra de tudo um pouco e sempre em salutar convivência. É interessante - e interessante é uma palavra que quer, na sua essência, dizer muito pouco.
É extremamente vaga a palavra interessante. É uma boa palavra de recurso, poder-se-ia dizer "acho interessante" seguido de um "mas não me interessa muito" que ninguém se surpreenderia. É raro qualquer coisa que seja verdadeiramente interessante nos fazer dizer "É interessante". Geralmente acabamos por mostrar mais entusiasmo, alguns gritos de satisfação, "espectacular" entoado com muitos pontos de exclamação. Agora ninguém diz "é interessante"!
Por exemplo, quando vi Animal Collective ao vivo há um ano e picos - excelente concerto, já agora - não usei nunca a palavra interessante para descrevê-los, apesar de efectivamente achar interessante a forma como distorcem a pop. Lembro-me de ter usado "genial", "brilhante", "sublime", mas nunca interessante!
Os Animal Collective já voltavam cá para mais um concerto. Ainda há dias pensei nisto e pensei também "fixe era virem cá os Death Cab for Cutie". Não era inusitado? Eu ia vê-los de certeza. Lembro-me que antes achava-os um guilty pleasure. Já me apercebi que there's no such thing. Ontem dancei Nelly Furtado, Kelis, Justin Timberlake, como se nada fosse. Pérolas indie era o que pareciam.
Desmistifique-se a pop - quando é bem-feita - tal como se desmistifica a pouco e pouco a moda de outros anos, revivendo-a - ou revisitando-a. A propósito, a pressão social sugere-me que compre umas galochas. Parece que são a grande tendência de calçado no Bairro Alto. Eu gosto, por mais que me lembrem botas de pisar uvas nas vindimas (porque de facto são botas de pisar uvas). Se calhar não vou comprar galochas nenhumas. Mas preciso de umas botas pretas. E de umas skinny jeans.
Gosto daqules casacos Adidas de há 30 anos atrás. São tão estilosos. E de calças Carhartt. Streetwear no seu melhor, sem nunca ficar desactualizada. Investimento, diria eu, para convencer a minha mãe.
Por falar em Adidas surgiu a hipótese de voltar a jogar andebol. Treinar três vezes por semana e ter um jogo por fim de semana, tudo no Liceu Camões. É uma hipótese que estou a considerar com carinho. Tenho muitas saudades de jogar. Julgo que os primeiros treinos correriam pessimamente mas depois o jeito voltaria - não que alguma vez tenha tido muito jeito. Não, não tive. Já não jogo há 5 anos.
Se calhar é do que preciso, mesmo. Rematar dos nove metros quatro vezes por semana para voltar a ser menos picuinhas. Organizar jogadas quatro vezes por semanas para deixar de andar a organizar a minha vida de cinco em cinco minutos. Gastar cerca de sete horas por semana com o andebol - serão menos sete horas a pensar na vida.
É, se calhar é disso que preciso. Acho que vou fazer um treino à experiência.
Chateia-me de morte que o preço das castanhas asssadas aumente todos os anos. Poucas coisas me dão tanto prazer do que comer uma dúzia de castanhas sentada num banquinho. Estou-me bem nas tintas para quem me ache deprimente. Eu também me acho deprimente e não é por aí que fico triste. (Eu sou deprimente mas não sou triste.)
Outra coisa óptima para se fazer quando o frio aperta é comer um croissant com chocolate na Bénard. São tão bons! Fico toda lambuzada em chocolate, nos dedos, na boca, no queixo. algum nas bochechas, mas é tão bom! Nunca me lembro de lá ir quando estamos no Verão, mas mal o frio aperta ou começa a chuva, é poiso certo.
É engraçado sentar-se na esplanada da Bénard - ou da Brasileira, se bem que nesta não se comem croissants - e ver/observar/estudar a fauna e flora que por lá anda. Gosto da Baixa por muitas razões e esta é certamente uma delas: hippies, rastas, punks, betos, tiazonas, indies, mitras, malta-do-ghetto, ciganos, alunos-de-belas-artes (sim, é um grupo social), fashioneers, gays, por lá se encontra de tudo um pouco e sempre em salutar convivência. É interessante - e interessante é uma palavra que quer, na sua essência, dizer muito pouco.
É extremamente vaga a palavra interessante. É uma boa palavra de recurso, poder-se-ia dizer "acho interessante" seguido de um "mas não me interessa muito" que ninguém se surpreenderia. É raro qualquer coisa que seja verdadeiramente interessante nos fazer dizer "É interessante". Geralmente acabamos por mostrar mais entusiasmo, alguns gritos de satisfação, "espectacular" entoado com muitos pontos de exclamação. Agora ninguém diz "é interessante"!
Por exemplo, quando vi Animal Collective ao vivo há um ano e picos - excelente concerto, já agora - não usei nunca a palavra interessante para descrevê-los, apesar de efectivamente achar interessante a forma como distorcem a pop. Lembro-me de ter usado "genial", "brilhante", "sublime", mas nunca interessante!
Os Animal Collective já voltavam cá para mais um concerto. Ainda há dias pensei nisto e pensei também "fixe era virem cá os Death Cab for Cutie". Não era inusitado? Eu ia vê-los de certeza. Lembro-me que antes achava-os um guilty pleasure. Já me apercebi que there's no such thing. Ontem dancei Nelly Furtado, Kelis, Justin Timberlake, como se nada fosse. Pérolas indie era o que pareciam.
Desmistifique-se a pop - quando é bem-feita - tal como se desmistifica a pouco e pouco a moda de outros anos, revivendo-a - ou revisitando-a. A propósito, a pressão social sugere-me que compre umas galochas. Parece que são a grande tendência de calçado no Bairro Alto. Eu gosto, por mais que me lembrem botas de pisar uvas nas vindimas (porque de facto são botas de pisar uvas). Se calhar não vou comprar galochas nenhumas. Mas preciso de umas botas pretas. E de umas skinny jeans.
Gosto daqules casacos Adidas de há 30 anos atrás. São tão estilosos. E de calças Carhartt. Streetwear no seu melhor, sem nunca ficar desactualizada. Investimento, diria eu, para convencer a minha mãe.
Por falar em Adidas surgiu a hipótese de voltar a jogar andebol. Treinar três vezes por semana e ter um jogo por fim de semana, tudo no Liceu Camões. É uma hipótese que estou a considerar com carinho. Tenho muitas saudades de jogar. Julgo que os primeiros treinos correriam pessimamente mas depois o jeito voltaria - não que alguma vez tenha tido muito jeito. Não, não tive. Já não jogo há 5 anos.
Se calhar é do que preciso, mesmo. Rematar dos nove metros quatro vezes por semana para voltar a ser menos picuinhas. Organizar jogadas quatro vezes por semanas para deixar de andar a organizar a minha vida de cinco em cinco minutos. Gastar cerca de sete horas por semana com o andebol - serão menos sete horas a pensar na vida.
É, se calhar é disso que preciso. Acho que vou fazer um treino à experiência.
25.11.06
[A beleza nem sempre é relativa]
Quando se vêem mulheres assim, em que os astros, o magma e as marés se juntaram para criar a perfeição:
Conseguimos abstrair-nos por segundos do senhor com hemorragia digestiva alta a quem temos de fazer um diagnóstico provisório para a faculdade para ficar de Havaiana no pé a passear por Búzios, como ela, há quarenta anos.
Disseram -me há dias que eu era parecida com ela. Só se for pelo espaço entre os dentes.
19.11.06
Manias (muito pensei e de uma vasta selecção escolhi estas)
"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."
1. Não consigo adormecer se a minha almofada estiver quente.
Isto é mesmo verdade. Seja Inverno ou Verão, só consigo adormecer se a minha almofada estiver geladinha. Tenho sérios problemas em hotéis com fronhas de algodão manhoso porque não arrefecem como deve ser.
2. Não consigo ver um papel sem o dobrar até ficar mais pequeno que um selo, ter uma caneta e não escrevinhar em algum lado, uma tesoura e não fazer trabalho de recorte.
Ou seja, não consigo estar quieta. Quando estou numa mesa de café com amigos, o mais natural é que o cinzeiro esteja cheio de papelinhos, a mesa cheia de papelinhos, haja guardanapos com assinaturas, bonecada, mais assinaturas. Se houver caricas, também faço pequenas esculturas. Aceito encomendas pelos contactos do costume. :D
3. Escolho fios de cabelo com texturas esquisitas e passo os dedos por eles até alguém me mandar parar.
A mania mais estranha e também a mais irritante para as outras pessoas, sem dúvida. E para mim também. Mas é um vício do caramba. Começou quando deixei de roer as unhas e fiquei a precisar de ter alguma coisa para ocupar as mãos quando as manias enunciadas em 2 não fossem possíveis. Esta minha mania é levada ao extremo em horas de estudo e a conduzir. Irritante p'ra cacete, a sério.
4. Conto o número de doses de vegetais e frutas que ingiro por dia.
A OMS recomenda que sejam no mínimo 5 para reduzir o risco cardiovascular. E eu cumpro. Às vezes também conto o número de doses de hidratos de carbono ou lacticínios. Não tenho tendência a achar-me gorda porque a minha constituição física é mesmo muito próxima da magreza, mas tenho a mania da alimentação saudável. Detesto pratos sem vestígios de vegetais. Adoro sopa. Como fruta depois da refeição. Bebo chá a rodos.
5. Quando conheço as músicas que passam na rádio enquanto estou a conduzir, apresento-as como se fosse locutora de rádio.
Sonho desde miúda com ter um programa meu numa estação. Um espaço onde mostrasse as canções que gosto. O que eu faço habitualmente é qualquer coisa como "São 14 horas e dz minutos, o meu nome é joana batista e vou estar convosco até às 16 aqui na Oxigénio. A música que vai passar a seguir é I'm thankful, da Spanky Wilson com a Quantic Soul Orchestra. Vamos poder ver esta pandilha deliciosa no Arena Lounge do Casino Lisboa em breve. I'm thankful, na Oxigénio. Boa tarde."
Decidi não incluir a mania dos discos e dos concertos e de andar à cata de música ou a mania de escrever no Desumanos, porque essas são óbvias para quem lê o meu blogue.
Conclusão: sou doida, pois.
E agora, vítimas *esfregas as mãos com malícia*:
Raras vezes
Horas negras
Balão d'Ar
Inominável
Cuspo com bolor
1. Não consigo adormecer se a minha almofada estiver quente.
Isto é mesmo verdade. Seja Inverno ou Verão, só consigo adormecer se a minha almofada estiver geladinha. Tenho sérios problemas em hotéis com fronhas de algodão manhoso porque não arrefecem como deve ser.
2. Não consigo ver um papel sem o dobrar até ficar mais pequeno que um selo, ter uma caneta e não escrevinhar em algum lado, uma tesoura e não fazer trabalho de recorte.
Ou seja, não consigo estar quieta. Quando estou numa mesa de café com amigos, o mais natural é que o cinzeiro esteja cheio de papelinhos, a mesa cheia de papelinhos, haja guardanapos com assinaturas, bonecada, mais assinaturas. Se houver caricas, também faço pequenas esculturas. Aceito encomendas pelos contactos do costume. :D
3. Escolho fios de cabelo com texturas esquisitas e passo os dedos por eles até alguém me mandar parar.
A mania mais estranha e também a mais irritante para as outras pessoas, sem dúvida. E para mim também. Mas é um vício do caramba. Começou quando deixei de roer as unhas e fiquei a precisar de ter alguma coisa para ocupar as mãos quando as manias enunciadas em 2 não fossem possíveis. Esta minha mania é levada ao extremo em horas de estudo e a conduzir. Irritante p'ra cacete, a sério.
4. Conto o número de doses de vegetais e frutas que ingiro por dia.
A OMS recomenda que sejam no mínimo 5 para reduzir o risco cardiovascular. E eu cumpro. Às vezes também conto o número de doses de hidratos de carbono ou lacticínios. Não tenho tendência a achar-me gorda porque a minha constituição física é mesmo muito próxima da magreza, mas tenho a mania da alimentação saudável. Detesto pratos sem vestígios de vegetais. Adoro sopa. Como fruta depois da refeição. Bebo chá a rodos.
5. Quando conheço as músicas que passam na rádio enquanto estou a conduzir, apresento-as como se fosse locutora de rádio.
Sonho desde miúda com ter um programa meu numa estação. Um espaço onde mostrasse as canções que gosto. O que eu faço habitualmente é qualquer coisa como "São 14 horas e dz minutos, o meu nome é joana batista e vou estar convosco até às 16 aqui na Oxigénio. A música que vai passar a seguir é I'm thankful, da Spanky Wilson com a Quantic Soul Orchestra. Vamos poder ver esta pandilha deliciosa no Arena Lounge do Casino Lisboa em breve. I'm thankful, na Oxigénio. Boa tarde."
Decidi não incluir a mania dos discos e dos concertos e de andar à cata de música ou a mania de escrever no Desumanos, porque essas são óbvias para quem lê o meu blogue.
Conclusão: sou doida, pois.
E agora, vítimas *esfregas as mãos com malícia*:
Raras vezes
Horas negras
Balão d'Ar
Inominável
Cuspo com bolor
Há dois anos atrás, era este o espírito
"Pois não tem! Acabei de entrar na terceira década... Tenho 20 anos. Queria ter vindo escrever sobre isto mais cedo (no dia de anos teria sido giro), mas honestamente não há nada a dizer. Como há para aí dez anos toda a gente pergunta "Então, como é ter x anos?", sendo x a idade que celebro nesse ano, há muito que me habituei a dizer "Bom, é igual a ter x-1 anos", sendo x-1, claro, a idade que teria feito no ano anterior.
Ora, isso faz-me pensar. Se ter a idade que tenho é sempre igual a ter a anterior e há dez anos que isto é assim, será que eu ainda não mudei???
Sinto-me grande. Cheia de vontade de viver. De morar alguns meses na Europa- pelo menos a candidatura para Erasmus começa a ser uma realidade. De ser uma óptima médica, cheia de conhecimentos e de cuidado com o doente. De sair, beber e dançar ao som da música do Incógnito durante a noite inteira. De conversar com a Vitória. De ler mais e melhor. De escrever mais e melhor. De saber dizer não ao que não quero. De ir à procura daquilo que acho que mereço. De ouvir música até que os ouvidos me doam. De conhecer mais países, mais teatro, mais museus, mais músicas. De não desperdiçar pessoas, acordes, gargalhadas, raios de Sol, estados de espírito. De não desperdiçar nada. De reciclar: companhias, papéis, sentimentos, ocupações, vidros, hábitos. De reciclar tudo. De ler poesia. De não ter a prepotência que sei tudo sobre tudo. De aprender a ouvir opiniões totalmente diferentes, um pouco diferentes, mais ou menos idênticas ou totalmente iguais à minha. De não julgar as pessoas à primeira. De encontrar satisfação. De viver insatisfeita.
Cristina"
In Crime Passional
Ora, isso faz-me pensar. Se ter a idade que tenho é sempre igual a ter a anterior e há dez anos que isto é assim, será que eu ainda não mudei???
Sinto-me grande. Cheia de vontade de viver. De morar alguns meses na Europa- pelo menos a candidatura para Erasmus começa a ser uma realidade. De ser uma óptima médica, cheia de conhecimentos e de cuidado com o doente. De sair, beber e dançar ao som da música do Incógnito durante a noite inteira. De conversar com a Vitória. De ler mais e melhor. De escrever mais e melhor. De saber dizer não ao que não quero. De ir à procura daquilo que acho que mereço. De ouvir música até que os ouvidos me doam. De conhecer mais países, mais teatro, mais museus, mais músicas. De não desperdiçar pessoas, acordes, gargalhadas, raios de Sol, estados de espírito. De não desperdiçar nada. De reciclar: companhias, papéis, sentimentos, ocupações, vidros, hábitos. De reciclar tudo. De ler poesia. De não ter a prepotência que sei tudo sobre tudo. De aprender a ouvir opiniões totalmente diferentes, um pouco diferentes, mais ou menos idênticas ou totalmente iguais à minha. De não julgar as pessoas à primeira. De encontrar satisfação. De viver insatisfeita.
Cristina"
In Crime Passional
18.11.06
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos.
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos.
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
Álvaro de Campos
22 anos, hoje. Ainda estou no tempo em que festejam os meus anos. :)
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos.
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos.
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
Álvaro de Campos
22 anos, hoje. Ainda estou no tempo em que festejam os meus anos. :)
17.11.06
O concerto do Chico continua a fazer mossa
Palavra de Mulher (com a letra já aqui em baixo), Chico no Coliseu dos Recreios, Lisboa 2006
12.11.06
Prometo-te que volto, não sei se o desejas mas volto (canções em forma de lágrimas nº 2)
Palavra de Mulher
Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olhar para trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até
Sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar
Com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar
Vou chegar
A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor eu, vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar
Pode ser
Que a nossa história
Seja mais uma quimera
E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera
Espera
Me espera
Eu vou voltar
Chico Buarque
Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olhar para trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até
Sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar
Com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar
Vou chegar
A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor eu, vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar
Pode ser
Que a nossa história
Seja mais uma quimera
E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera
Espera
Me espera
Eu vou voltar
Chico Buarque
Lágrimas em forma de canções
Futuros Amantes
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Chico Buarque
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Chico Buarque
7.11.06
E naquele dia tu foste João, e eu Maria
Outros Sonhos
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar
E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se impiriquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia
Belo e sereno era o som
Qual lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris mertes no chão
Falavam de astronomia
E a polícia já não batia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava
Na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhor o impossível, ai
Sonhei que tu me querias
Soñé que el fuego heló
Soñé que la nieve ardia
Y por soñar lo impossible, ay, ay
Soñe que tu me querias.
Chico Buarque @ Coliseu dos Recreios, 06.11.06
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar
E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se impiriquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia
Belo e sereno era o som
Qual lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris mertes no chão
Falavam de astronomia
E a polícia já não batia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava
Na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhor o impossível, ai
Sonhei que tu me querias
Soñé que el fuego heló
Soñé que la nieve ardia
Y por soñar lo impossible, ay, ay
Soñe que tu me querias.
Chico Buarque @ Coliseu dos Recreios, 06.11.06
6.11.06
Recuperação
[Tenho alguns textos guardados, coisas que escrevi e eram demasiado francas, falsas, falaciosas - ai como eu gosto de aliterações-, pretensiosas, ou simplesmente mal-escritas para publicá-las aqui. Hoje reli este texto, de Julho deste ano, e decidi que era publicável. Cá vai.]
Queria explicar-te
olhos nos olhos
o que se passa comigo, queria dizer-te
as minhas mãos nas tuas
que sinto, que dentro de mim pulsa, enquanto cresce, uma vontade enorme de te abraçar e de te levar para longe.
Mas não sei definir bem onde começa e onde acaba, se é que o faz, nem sei se é bom ou mau, se é que tem de ser alguma coisa. E sou incapaz de impôr o meu ritmo, de estabelecer as tuas prioridades baseando-me nas minhas, que tipo de egoísmo seria esse?
Reconhecer as tuas necessidades e compreendê-las parece-me às vezes tão difícil, mas quando tento olhar para dentro de ti,
tenho uma só certeza
que simplesmente não estás disponível,
tens pó e teias por limpar no teu sótão emocional
e apetece-me estar por perto para garantir-te que estou ao teu lado e é uma faca de dois gumes, sabes? porque ao mesmo tempo quero garantir a mim mesma que ainda não preciso de ti
quando tenho a certeza que preciso.
Queria explicar-te
olhos nos olhos
o que se passa comigo, queria dizer-te
as minhas mãos nas tuas
que sinto, que dentro de mim pulsa, enquanto cresce, uma vontade enorme de te abraçar e de te levar para longe.
Mas não sei definir bem onde começa e onde acaba, se é que o faz, nem sei se é bom ou mau, se é que tem de ser alguma coisa. E sou incapaz de impôr o meu ritmo, de estabelecer as tuas prioridades baseando-me nas minhas, que tipo de egoísmo seria esse?
Reconhecer as tuas necessidades e compreendê-las parece-me às vezes tão difícil, mas quando tento olhar para dentro de ti,
tenho uma só certeza
que simplesmente não estás disponível,
tens pó e teias por limpar no teu sótão emocional
e apetece-me estar por perto para garantir-te que estou ao teu lado e é uma faca de dois gumes, sabes? porque ao mesmo tempo quero garantir a mim mesma que ainda não preciso de ti
quando tenho a certeza que preciso.
5.11.06
[ II ]
"I want to be
The one to make you feel okay right now
Some way, some how
So when I fall short
I sink so low that I even blame the clouds
For blocking out the sun
And the shadows on the wall
That’s why you feel alone"
The one to make you feel okay right now
Some way, some how
So when I fall short
I sink so low that I even blame the clouds
For blocking out the sun
And the shadows on the wall
That’s why you feel alone"
"Last Sunday I went to see a jam session downtown"
'Whatever' he nodded with a sigh, his eyes surprisingly turning grey. He exhaled the smoke of the cigarrette, looking down, collecting the ashes.
'I don't want to make you sad' she said while her hand aproached his cheek. Each noise in the room stopped. The bassist stopped playing that sad song and no more Martinis were shaken. Everybody in the room quietly stared at the bottom of their glasses.
Everything STOPS.
Everything but their hearts, beating like never before.
'I don't want to make you sad' she said while her hand aproached his cheek. Each noise in the room stopped. The bassist stopped playing that sad song and no more Martinis were shaken. Everybody in the room quietly stared at the bottom of their glasses.
Everything STOPS.
Everything but their hearts, beating like never before.
31.10.06
Ensaio sobre o amor - parte I
Há uma criança que brinca apesar da chuva em seu redor. Tem um camião de folha - folha apesar de estarmos em 2006- vermelho e azul e um auto-tanque dos bombeiros. No canteiro da borracheira, o camião despistou-se e o auto-tanque dirige-se ao local a alta velocidade, uivando "uú uú uú", a boca do menino desenhando um beicinho "uú uú uú".
Qem o vê, ali a brincar, ama-o subitamente. Deixa de ser uma criança que brinca com os seus carrinhos para ser um rasgo de luz na vida de alguém. E esse alguém, sem dar conta, é preenchido por um calor intenso, aquele calor que nos surpreende num dia frio de Inverno em que o céu está absolutamente azul.
Não consigo perceber o que nos faz amar alguém. E hoje, este verbo tão determinante, "amar", é usado de forma bem mais abrangente do que o amor por outra pessoa, de sexo igual ou diferente, que visa juntar duas vidas numa só. Hoje "amar" é bem mais do que isso.
Amar é um verbo imperativo independentemente da forma verbal em que está conjugado. Há uma necessidade - e estou a ser bem limitativa quando escrevo necessidade -, há mesmo uma qualquer vontade intrínseca em amar.
Nascemos e já amamos alguém. Ou somos, no mínimo, amados. Mas eu acredito que amamos. O meu irmão reconhece a minha mãe, o seu peito, a sua voz, o seu cheiro, mesmo que a única coisa que os seus olhos reconheçam seja um jogo de sombra e luminosidade.
Depois a cada dia que passa da vida que a cada dia se torna maior, vamos abrindo o coração a mais e mais pessoas. E é isto que me põe pensativa. "Vamos abrindo o coração"? Nós vamos abrindo o coração? Ou vão-nos abrindo o coração?
Se de alguma maneira é praticamente unânime que amar faz parte do nosso código e é independente de pressões exteriores, o que é que determina que amemos alguém?
Já não via o meu irmão há quase um mês. Esquecera-me (?) do quanto gostei dele a primeira vez que o vi. Mas desta vez foi completamente diferente. Ontem quando acordei, ouvi-o gemer de satisfação enquanto tomava banho, fui vê-lo sentado/ encostado na banheira e toda eu fui ternura. Ternura como a que sentimos pela criança que brinca com o camião numa calçada. E não é isso que se sente por um irmão. É mais do que ternura. E esse mais veio depois. "Joana, seca-o." E eu peguei nele, no meu irmão e ele acomodou-se aos meus braços e, por entre toda aquela paz, mergulhou o seu olhar miúdo dentro do meu. Eu senti amor, o que foi marcante porque noutras relações não conseguimos determinar quando é que o sentimos. Mas ali foi bem claro- o amor, na sua forma mais genuína, porque desprovido de interesse ou intolerância.
Como um amigo meu que foi recentemente pai me disse: "de repente olhei para o miúdo e pensei 'sou pai dele' e agora amo-o mais do que à própria vida".
(continua)
Qem o vê, ali a brincar, ama-o subitamente. Deixa de ser uma criança que brinca com os seus carrinhos para ser um rasgo de luz na vida de alguém. E esse alguém, sem dar conta, é preenchido por um calor intenso, aquele calor que nos surpreende num dia frio de Inverno em que o céu está absolutamente azul.
Não consigo perceber o que nos faz amar alguém. E hoje, este verbo tão determinante, "amar", é usado de forma bem mais abrangente do que o amor por outra pessoa, de sexo igual ou diferente, que visa juntar duas vidas numa só. Hoje "amar" é bem mais do que isso.
Amar é um verbo imperativo independentemente da forma verbal em que está conjugado. Há uma necessidade - e estou a ser bem limitativa quando escrevo necessidade -, há mesmo uma qualquer vontade intrínseca em amar.
Nascemos e já amamos alguém. Ou somos, no mínimo, amados. Mas eu acredito que amamos. O meu irmão reconhece a minha mãe, o seu peito, a sua voz, o seu cheiro, mesmo que a única coisa que os seus olhos reconheçam seja um jogo de sombra e luminosidade.
Depois a cada dia que passa da vida que a cada dia se torna maior, vamos abrindo o coração a mais e mais pessoas. E é isto que me põe pensativa. "Vamos abrindo o coração"? Nós vamos abrindo o coração? Ou vão-nos abrindo o coração?
Se de alguma maneira é praticamente unânime que amar faz parte do nosso código e é independente de pressões exteriores, o que é que determina que amemos alguém?
Já não via o meu irmão há quase um mês. Esquecera-me (?) do quanto gostei dele a primeira vez que o vi. Mas desta vez foi completamente diferente. Ontem quando acordei, ouvi-o gemer de satisfação enquanto tomava banho, fui vê-lo sentado/ encostado na banheira e toda eu fui ternura. Ternura como a que sentimos pela criança que brinca com o camião numa calçada. E não é isso que se sente por um irmão. É mais do que ternura. E esse mais veio depois. "Joana, seca-o." E eu peguei nele, no meu irmão e ele acomodou-se aos meus braços e, por entre toda aquela paz, mergulhou o seu olhar miúdo dentro do meu. Eu senti amor, o que foi marcante porque noutras relações não conseguimos determinar quando é que o sentimos. Mas ali foi bem claro- o amor, na sua forma mais genuína, porque desprovido de interesse ou intolerância.
Como um amigo meu que foi recentemente pai me disse: "de repente olhei para o miúdo e pensei 'sou pai dele' e agora amo-o mais do que à própria vida".
(continua)
23.10.06
Tenho saudades deste filme...
22.10.06
Food and liquor
Nem sempre preciso de escrever um texto bonito sobre um álbum para vos dizer o quanto gosto dele, sobretudo quando o álbum de que vos quero falar tem canções assim:
Lupe Fiasco | Kick push (no álbum seguida da I Gotcha, que também é linda)
Lupe Fiasco (featuring Miss-gotta-love-her Jill Scott) | Daydream
Álbum viciante.
21.10.06
A coisa funciona mais ou menos assim
Abre-se o pacote da recém-adquirida
Cucumber extracts peel-off mask,
ou em bom português a máscara de depelar com extractos de pepino. Serve, diz a embalagem, para purificar os poros visando uma pele mais suave.
A dita máscara tem textura de gel e é para ser espalhada por todo o rosto, evitando os olhos e a boca
(ATENÇÃO: EVITEM OS OLHOS E A BOCA, MESMO! Para já porque arde quando se espalha em redor dos olhos, imagine-se o que não deve arder quando toca a conjuntiva. Depois porque vocês já não são crianças nenhumas e sabem ler: escusam de levar à boca uma coisa só porque cheira bem. Adiante.)
A pessoa vai espalhando aquilo e sabe bem: é refrescante e como já disse, tem um perfume delicioso, a limão e flores - bem menos artificial que os toalhetes da TAP.
Depois tem de deixar actuar? repousar? - nunca percebi bem qual dos dois- durante 10 a 15 minutos. E é aí que a magia acontece, meus amigos.
Aos cinco minutos, a cara começa a ficar rígida porque o gel vai formando uma película firme sobre a pele. A pessoa quer rir e não consegue, falar e não consegue, comer e não consegue.O simples esboçar de um trejeito é impossibilitado por aquele gel cheiroso que antes espalharam - parecia agradável, não era? - e que agora parece película aderente.
Aos dez minutos a cara está paralisada, como se o extracto de pepino fosse toxina botulínica. Experimentem, por exemplo, atender o telefone nestes últimos momentos e sair-vos-á qualquer coisa como "hôn?", em vez do habitual "'tou?". Dá azo a situações desconfortáveis que passam pela própria mãe perguntar o que é que andamos a fazer num sábado à tarde - procuramos não pensar que a mãe está a pensar o mesmo que nós, que passa por ter a boca ocupada com qualquer coisa, porque uma mãe a pensar nisso é no mínimo escabroso.
Aos quinze minutos podem enfim tirar a coisa que espalharam na cara. É aconselhado que a remoção se inicie nos contornos do rosto. Devem começar por passar a unha no bordo da película - sim, o conceito de película aderente volta à mente quando se remove isto. Ao pouco a pele restabelece a sua elasticidade. Respiramos de alívio.
Resultado: os mesmo poros dilatados mas limpos. Não compensa o susto, apesar de tudo.
A lição a reter é não comprar produtos de cosmética a 1,50 €, mesmo que seja na H&M - a única loja que vende roupa estilosa a bom preço desde que a saibamos procurar - diz-se que até vendem caras larocas se procurarmos bem no segundo andar. O pior, caros leitores, é que este gel-máscara-poção-experiência científica não carece de procura, está tão debaixo do olho que é compra quase imediata. Vão por mim, cosmética a 1, 5 € não é boa cena. Como é que eu pude pensar que era?
Cucumber extracts peel-off mask,
ou em bom português a máscara de depelar com extractos de pepino. Serve, diz a embalagem, para purificar os poros visando uma pele mais suave.
A dita máscara tem textura de gel e é para ser espalhada por todo o rosto, evitando os olhos e a boca
(ATENÇÃO: EVITEM OS OLHOS E A BOCA, MESMO! Para já porque arde quando se espalha em redor dos olhos, imagine-se o que não deve arder quando toca a conjuntiva. Depois porque vocês já não são crianças nenhumas e sabem ler: escusam de levar à boca uma coisa só porque cheira bem. Adiante.)
A pessoa vai espalhando aquilo e sabe bem: é refrescante e como já disse, tem um perfume delicioso, a limão e flores - bem menos artificial que os toalhetes da TAP.
Depois tem de deixar actuar? repousar? - nunca percebi bem qual dos dois- durante 10 a 15 minutos. E é aí que a magia acontece, meus amigos.
Aos cinco minutos, a cara começa a ficar rígida porque o gel vai formando uma película firme sobre a pele. A pessoa quer rir e não consegue, falar e não consegue, comer e não consegue.O simples esboçar de um trejeito é impossibilitado por aquele gel cheiroso que antes espalharam - parecia agradável, não era? - e que agora parece película aderente.
Aos dez minutos a cara está paralisada, como se o extracto de pepino fosse toxina botulínica. Experimentem, por exemplo, atender o telefone nestes últimos momentos e sair-vos-á qualquer coisa como "hôn?", em vez do habitual "'tou?". Dá azo a situações desconfortáveis que passam pela própria mãe perguntar o que é que andamos a fazer num sábado à tarde - procuramos não pensar que a mãe está a pensar o mesmo que nós, que passa por ter a boca ocupada com qualquer coisa, porque uma mãe a pensar nisso é no mínimo escabroso.
Aos quinze minutos podem enfim tirar a coisa que espalharam na cara. É aconselhado que a remoção se inicie nos contornos do rosto. Devem começar por passar a unha no bordo da película - sim, o conceito de película aderente volta à mente quando se remove isto. Ao pouco a pele restabelece a sua elasticidade. Respiramos de alívio.
Resultado: os mesmo poros dilatados mas limpos. Não compensa o susto, apesar de tudo.
A lição a reter é não comprar produtos de cosmética a 1,50 €, mesmo que seja na H&M - a única loja que vende roupa estilosa a bom preço desde que a saibamos procurar - diz-se que até vendem caras larocas se procurarmos bem no segundo andar. O pior, caros leitores, é que este gel-máscara-poção-experiência científica não carece de procura, está tão debaixo do olho que é compra quase imediata. Vão por mim, cosmética a 1, 5 € não é boa cena. Como é que eu pude pensar que era?
[ ]
Um homem sai de casa.
Morava num apartamento junto ao Castelo S. Jorge, um prédio antigo de alguma maneira recuperado. A vizinha de cima chamava-se dona Emília, era coscuvilheira mas boa cozinheira: desde pastéis de bacalhau a pães-de-ló, tudo lhe vinha parar às mãos quando chegava do trabalho. Os vizinhos do andar de baixo pintavam paredes com arte por encomenda, chegaram mesmo a pintar a parede do corredor que ligava o quarto do homem à sala.
Um homem sai de casa e tem as malas à porta.
Três malas cheias de momentos que foi coleccionando, discos e livros, fotografias e postais dos sítios que foi visitando, roupas que foi usando e gastando e deixando de usar. As malas, enormes, desproporcionais ao tamanho do seu coração - que encolhe a cada dia - ocupam toda a largura do passeio. A vizinhança chega-se à janela, curiosa. Ali no número 52 mora o senhor Jacinto, operário reformado, comunista com todas as suas forças. Chegou-se à janela e perguntou para a rua, visivelmente emocionado
"Então o senhor doutor vai-se embora?"
Ninguém lhe respondeu. A menina Aline - menina do cimo dos seus setenta anos- mulher do senhor Pereira do talho, doméstica toda a vida, fadista nas horas vagas, ouviu o senhor Jacinto e apressou-se a ir buscar uma peça de carne do lombo, que depositou no passeio, junto às malas.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta e um saco com uma peça de carne do lombo.
Sobe as escadas mais uma vez para ir buscar dois ou três caixotes. Uma vida despedaçada, são cacos que transporta para outro lugar, para tentar recomeçar não a partir do zero, mas a partir da reconstrução de peças. Leva o passado atrás de si, para onde quer que vá, sem poder desprender-se dele. Tudo o resto que permanece é efémero. Quase superficial, não é só passado - é pretérito perfeito. Foi-se. Aquilo que o marcou visceralmente - pretéritos imperfeitos que ficam em cada caixote que transporta para a rua. Fragmentos em suspenso de vidas - não é só a sua que é assim - inacabadas.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta, um saco com uma peça de carne do lombo, dois ou três caixotes contendo cacos e começa a chover.
De repente, mas não era nada que não prevera quem olhara para o céu essa manhã. Estava carregado, macilento. E o rio - da sua janela via-o bem - turvo e revolto, trazendo a sujidade de uma península inteira para vir dissolvê-la ao mar. Um relâmpago iluminara a rua parda, seguido de um trovão. A chuva começara logo de seguida. Recolheu-se a roupa a secar nos varandins, chamaram-se as crianças que brincavam na praceta. E a rua ficou vazia, só folhas e riachos de água que se formavam na beira da estrada, descendo, empurrando, tropeçando.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta, um saco com uma peça de carne do lombo, dois ou três caixotes contendo cacos, começa a chover e não se vê ninguém na rua.
Está finalmente só. Um corpo vazio - ou pior, um coração vazio.Como uma telefonia avariada, que não recebe mas também não emite. No caso da telefonia, música, notícias, vozes sem rosto. No caso dele, emoções. Olha em redor antes de fechar a porta, duas vezes: primeiro ao sair do apartamento, depois ao sair do prédio. Ainda hesita da primeira vez: se deixasse as malas e os caixotes à porta - e alguém os fosse buscar, que não ele - podia tentar ser outro alguém ali entre aquelas paredes. Podia encher a casa com o seu presente e ignorar os pretéritos imperfeitos da sua vida. Decide, no entanto, cumprir-se. Ser ele próprio o determinista das suas acções. E desce as escadas; não queria ficar por ali. Ficar por ali seria acabar a vida que começara quando decidiu partir. E recomeçar a anterior. Ele não, queria uma vida nova com as pessoas de sempre- feito que conseguiria, a todo o custo.
Um dia a chuva há-de engolir o mundo, pensava ele quando era criança. Nunca pensou que nós acabamos por nos engolir a nós próprios de tão absortos que estamos com a possibilidade de mudar ou de permanecer. Que somos nós, e não a chuva ou o vento ou qualquer outra intempérie, quem tem a capacidade de nos engolir para voltar a ser. Ou engolir para acabar de vez.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta, um saco com uma peça de carne do lombo, dois ou três caixotes contendo cacos, começa a chover, não se vê ninguém na rua e ele parte enfim.
Morava num apartamento junto ao Castelo S. Jorge, um prédio antigo de alguma maneira recuperado. A vizinha de cima chamava-se dona Emília, era coscuvilheira mas boa cozinheira: desde pastéis de bacalhau a pães-de-ló, tudo lhe vinha parar às mãos quando chegava do trabalho. Os vizinhos do andar de baixo pintavam paredes com arte por encomenda, chegaram mesmo a pintar a parede do corredor que ligava o quarto do homem à sala.
Um homem sai de casa e tem as malas à porta.
Três malas cheias de momentos que foi coleccionando, discos e livros, fotografias e postais dos sítios que foi visitando, roupas que foi usando e gastando e deixando de usar. As malas, enormes, desproporcionais ao tamanho do seu coração - que encolhe a cada dia - ocupam toda a largura do passeio. A vizinhança chega-se à janela, curiosa. Ali no número 52 mora o senhor Jacinto, operário reformado, comunista com todas as suas forças. Chegou-se à janela e perguntou para a rua, visivelmente emocionado
"Então o senhor doutor vai-se embora?"
Ninguém lhe respondeu. A menina Aline - menina do cimo dos seus setenta anos- mulher do senhor Pereira do talho, doméstica toda a vida, fadista nas horas vagas, ouviu o senhor Jacinto e apressou-se a ir buscar uma peça de carne do lombo, que depositou no passeio, junto às malas.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta e um saco com uma peça de carne do lombo.
Sobe as escadas mais uma vez para ir buscar dois ou três caixotes. Uma vida despedaçada, são cacos que transporta para outro lugar, para tentar recomeçar não a partir do zero, mas a partir da reconstrução de peças. Leva o passado atrás de si, para onde quer que vá, sem poder desprender-se dele. Tudo o resto que permanece é efémero. Quase superficial, não é só passado - é pretérito perfeito. Foi-se. Aquilo que o marcou visceralmente - pretéritos imperfeitos que ficam em cada caixote que transporta para a rua. Fragmentos em suspenso de vidas - não é só a sua que é assim - inacabadas.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta, um saco com uma peça de carne do lombo, dois ou três caixotes contendo cacos e começa a chover.
De repente, mas não era nada que não prevera quem olhara para o céu essa manhã. Estava carregado, macilento. E o rio - da sua janela via-o bem - turvo e revolto, trazendo a sujidade de uma península inteira para vir dissolvê-la ao mar. Um relâmpago iluminara a rua parda, seguido de um trovão. A chuva começara logo de seguida. Recolheu-se a roupa a secar nos varandins, chamaram-se as crianças que brincavam na praceta. E a rua ficou vazia, só folhas e riachos de água que se formavam na beira da estrada, descendo, empurrando, tropeçando.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta, um saco com uma peça de carne do lombo, dois ou três caixotes contendo cacos, começa a chover e não se vê ninguém na rua.
Está finalmente só. Um corpo vazio - ou pior, um coração vazio.Como uma telefonia avariada, que não recebe mas também não emite. No caso da telefonia, música, notícias, vozes sem rosto. No caso dele, emoções. Olha em redor antes de fechar a porta, duas vezes: primeiro ao sair do apartamento, depois ao sair do prédio. Ainda hesita da primeira vez: se deixasse as malas e os caixotes à porta - e alguém os fosse buscar, que não ele - podia tentar ser outro alguém ali entre aquelas paredes. Podia encher a casa com o seu presente e ignorar os pretéritos imperfeitos da sua vida. Decide, no entanto, cumprir-se. Ser ele próprio o determinista das suas acções. E desce as escadas; não queria ficar por ali. Ficar por ali seria acabar a vida que começara quando decidiu partir. E recomeçar a anterior. Ele não, queria uma vida nova com as pessoas de sempre- feito que conseguiria, a todo o custo.
Um dia a chuva há-de engolir o mundo, pensava ele quando era criança. Nunca pensou que nós acabamos por nos engolir a nós próprios de tão absortos que estamos com a possibilidade de mudar ou de permanecer. Que somos nós, e não a chuva ou o vento ou qualquer outra intempérie, quem tem a capacidade de nos engolir para voltar a ser. Ou engolir para acabar de vez.
Um homem sai de casa, tem as malas à porta, um saco com uma peça de carne do lombo, dois ou três caixotes contendo cacos, começa a chover, não se vê ninguém na rua e ele parte enfim.
19.10.06
Para ser lido como foi escrito: ao som de Django Reinhardt
Escute senhor,
Eu não pedi a ninguém p'ra namorar.
Só lhe perguntei
Porque queria um par p'ra dançar.
Esta gente, hoje em dia!,
Está sempre a complicar
Eu pedi companhia, não ninguém p'ra namorar!
Queria abraçar enquanto dançava
E dar a mão até à pista
Começar o swing, a festa!
Eu girava, ele sorria.
Queria partilhar a alegria,
A tristeza?
Suava-a até que desaparecia!
Oiça outra vez senhor,
Não pedi ninguém em casamento!
Só queria um par p'ra dançar
E (quem sabe?) dormir ao relento.
(Olhe senhor, quando eu lhe pedi p'ra dançar
Se eu bem me lembro, ouvi-o me rejeitar
Que faço eu agora pois sou incapaz
De dançar consigo ou com outro rapaz?)
Eu não pedi a ninguém p'ra namorar.
Só lhe perguntei
Porque queria um par p'ra dançar.
Esta gente, hoje em dia!,
Está sempre a complicar
Eu pedi companhia, não ninguém p'ra namorar!
Queria abraçar enquanto dançava
E dar a mão até à pista
Começar o swing, a festa!
Eu girava, ele sorria.
Queria partilhar a alegria,
A tristeza?
Suava-a até que desaparecia!
Oiça outra vez senhor,
Não pedi ninguém em casamento!
Só queria um par p'ra dançar
E (quem sabe?) dormir ao relento.
(Olhe senhor, quando eu lhe pedi p'ra dançar
Se eu bem me lembro, ouvi-o me rejeitar
Que faço eu agora pois sou incapaz
De dançar consigo ou com outro rapaz?)
17.10.06
"He poos clouds"
Ele faz cocó de nuvens.
Não me canso de dizer isto, como quem descobriu qualquer coisa, a cura para o cancro, qualquer coisa.
Ele faz cocó de nuvens e em cada nuvem me sento e contemplo enquanto decorre a viagem. Basta fechar os olhos e aproveitar para descolar enquanto Owen vai samplando o seu próprio violino com os seus pedais mágicos.
Não há tripulação nesta viagem, para além do piloto Owen Pallet e dos pedais mágicos - que são piloto automático nas horas vagas. Reflectem-se, como numa aula do Liceu, imagens e animações artesanais, sobreposições de papéis e folhas de acetato, recortes e colagens. O nosso piloto afasta-se para o lado que as vejamos melhor.
"I can't sing, I can't play the piano, I can't play the violin, so I brought along these guys."
Vemos a cor ser adicionada aos poucos, como numa ilustração com números, há castelos e cavaleiros, palácios e sapos. Não há princesas. Um envelope com uma carta abre-se à nossa frente. A viagem continua.
"Can you please make the room darker?". Not dark enough yet. "Like a cinema."
Há o público e um homem que canta para dentro do seu violino. Nós e uma espécie de William Tell musical que guarda o arco atrás das costas para dedilhar as cordas do seu instrumento.
Estamos ainda sobre a nuvem mas não nos recostamos para trás porque as canções sobressaltam-nos. Percebemos que estamos perante a banda-sonora das nossas vidas e que cada acorde esteve presente em todos os momentos. Desde a tarde de domingo passada no sofá a ver filmes de segunda categoria como aquele pôr-do-sol sobre o rio que inundava de ternura quente uma boa conversa.
A nossa vida decorre lá em baixo (devo-me sentir culpada por não querer fazer parte dela?) e as imagens tornam-se cada vez mais negras, à medida que estranhas silhuetas
cadáveres? aves de rapina?
se juntam para escurecer a imagem até que apenas reste um ponto de luz.
Seguem-se dois encores, o primeiro com a Took you two years to win my heart, a minha preferida, em que a letra e o instrumento se fundem como em mais nenhuma outra, em que o dramatismo das notas parece acompanhar o batimento do coração.
"They say heartbreak is good for the skin but all that it's helped is my drinking."
Com o fim do concerto, acaba a viagem, mas não a vida.
Final Fantasy @ Club Lua, 15.10.2006
Não me canso de dizer isto, como quem descobriu qualquer coisa, a cura para o cancro, qualquer coisa.
Ele faz cocó de nuvens e em cada nuvem me sento e contemplo enquanto decorre a viagem. Basta fechar os olhos e aproveitar para descolar enquanto Owen vai samplando o seu próprio violino com os seus pedais mágicos.
Não há tripulação nesta viagem, para além do piloto Owen Pallet e dos pedais mágicos - que são piloto automático nas horas vagas. Reflectem-se, como numa aula do Liceu, imagens e animações artesanais, sobreposições de papéis e folhas de acetato, recortes e colagens. O nosso piloto afasta-se para o lado que as vejamos melhor.
"I can't sing, I can't play the piano, I can't play the violin, so I brought along these guys."
Vemos a cor ser adicionada aos poucos, como numa ilustração com números, há castelos e cavaleiros, palácios e sapos. Não há princesas. Um envelope com uma carta abre-se à nossa frente. A viagem continua.
"Can you please make the room darker?". Not dark enough yet. "Like a cinema."
Há o público e um homem que canta para dentro do seu violino. Nós e uma espécie de William Tell musical que guarda o arco atrás das costas para dedilhar as cordas do seu instrumento.
Estamos ainda sobre a nuvem mas não nos recostamos para trás porque as canções sobressaltam-nos. Percebemos que estamos perante a banda-sonora das nossas vidas e que cada acorde esteve presente em todos os momentos. Desde a tarde de domingo passada no sofá a ver filmes de segunda categoria como aquele pôr-do-sol sobre o rio que inundava de ternura quente uma boa conversa.
A nossa vida decorre lá em baixo (devo-me sentir culpada por não querer fazer parte dela?) e as imagens tornam-se cada vez mais negras, à medida que estranhas silhuetas
cadáveres? aves de rapina?
se juntam para escurecer a imagem até que apenas reste um ponto de luz.
Seguem-se dois encores, o primeiro com a Took you two years to win my heart, a minha preferida, em que a letra e o instrumento se fundem como em mais nenhuma outra, em que o dramatismo das notas parece acompanhar o batimento do coração.
"They say heartbreak is good for the skin but all that it's helped is my drinking."
Com o fim do concerto, acaba a viagem, mas não a vida.
Final Fantasy @ Club Lua, 15.10.2006
9.10.06
Julian 'Cannonball' Adderley (ou eu não percebo nada disto mas adorava perceber)
Começar por algum lado, iniciar, meter as mãos (e a alma) na massa, dar o corpo (e o coração) ao manifesto.
Há álbuns que sabem a instantes, sobremesas ou bons vinhos. Outros transportam-nos ou acompanham-nos ao longo de estações do ano. Preconceito ou não, o pouco (ou o pouquíssimo íssimo íssimo) jazz que conheço sempre me lembrou Outono. Os dois ou três álbuns que tenho foram sempre comprados entre o dia 21 de Setembro e o dia 20 de Dezembro. Geralmente, ainda com o disco debaixo do braço, apanhava chuva, punha o pé numa poça de água, bebia um chocolate quente.
A tradição manteve-se e novamente, mas desta vez seguindo o conselho de "ir pelo menos óbvio" (porque quando alguém sabe mais do que nós acerca de qualquer coisa anotamos as recomendações e cumprimo-las), sendo que o meu conhecimento jazzístico é tão parco que até o óbvio é menos óbvio, acolhi no seio da minha reduzida colecção de discos (é quase infame chamar-lhe colecção) esta deliciosa rodela:
Este Somethin' else - oh e como tem sido somethin' else na minha vida - é daquelas pérolas vendidas a onze euros e meio na FNAC. Onze euros e meio para comprar tranquilidade - na ausência de tranquilidade intrínseca à alma, uma pechincha!
Autumn leaves abre o álbum e faz jus a tudo o que disse acerca do Outono e de álbuns de jazz outonais. A cada nota soprada (ou devo dizer, tal é a calma, suspirada?) caem folhas de árvores caducas, que primeiro dançam no ar, ao ritmo do piano do Hank Jones
further investigation tells me: este álbum tem um elenco de luxo
depois lentamente escorregam, como se o vento fosse caramelo líquido, até ao chão onde tombam, vivas. Porque a diferença entre estas Autumn leaves e aquelas que caem na minha rua e na tua é a presença de vitalidade, como se dissessem "Não me matas assim; ainda hei-de resistir ao Inverno".
Aqui não há estrelato nem domínio, cada músico entra, rigorosamente trajado para tal baile de gala, Art Blakey num registo suave, fazendo-nos fechar os olhos e inspirar fundo a cada nota de saxofone, e a faixa aquece sempre em lamento alegre (as pessoas alegres também às vezes estão tristes). 11 minutos de lareira acesa, de tons dourados e acastanhados, 11 minutos de se isto é jazz, nunca mais ouço outra coisa. Apaixonante.
A fasquia vai alta para a segunda faixa, pedimos-lhe "por favor deixa-me estar aqui onde ninguém me vê", mas Love for Sale está feita para acabar com a melancolia (to all of you, sullen lovers!). Agora o amor está à venda numa rua de Manhattan - que nunca visitei, mas também no calçadão de Copacabana (que sim, já visitei) ou nas escadas de Montmartre, com a Église Sacré Coeur ao fundo (ai Paris, Paris). O amor está à venda até numa tasca assimétrica no Bairro Alto, daquelas frequentadas por intelectuais barbudos. Mas agora o amor vende-se? Não sei. A promessa de amor sim. Impossível não jingar, não abanar o pé, não curtir quando se sabe que algures depois deste mato cerrado que é a desilusão - para quê o eufemismo?, falo de desgosto - há uma clareira onde entra o sol, onde se dissipam as mágoas e as lágrimas escondidas dão lugar a sorrisos longilíneos. E saltamos para a rua, e sentimos o Outono apoderar-se do vento e das nuvens, e não nos importamos porque Love for sale pede-nos, em linguagem saxofónica e trompética, "sai dessa, meu!". Aos cinco minutos e trinta, no entanto, nova surpresa!, afinal por cada amor há melancolia, grita Adderley ao saxofone, mas há discussão, e o piano e a bateria continuam optimistas. Eu também.
Ó alegria! Ó boa- disposição! Ó velha Joana de sempre, dançarina das danças improváveis, de ancas imparáveis! Os dedos estalam, tentam acompanhar, mas o corpo descoordena-se, há passos para a direita e mãos para a esquerda, há o pescoço que impele o queixo para a frente e para baixo. DANÇA DANÇA DANÇA, impera o saxofone e o trompete, e como evitá-lo? Afinal nesta canção dizem-me que há sempre mais qualquer coisa, ou não se chamasse a faixa Somethin' else. Será esta uma alternativa para mim? Ou uma alternativa, ou antes, um novo elemento a adicionar na conta de somar que é a música? Não se tratam da conjunção OU, mas sim, e agora vejo-o tão bem, de muitos sinais de mais, somando diálogos entre o Miles e o Julian 'Cannonball', que à terceira faixa são já meus velhos amigos de infância. Vou ali dançar. Volto na quarta faixa.
"One for Daddy-O" é sensual, é mesmo a mais sensual até agora. Sensual nesse primeiro sentido que pensaram - o sexual-, sim, mas também no sentido de "ACORDA e USA OS CINCO SENTIDOS!". Desperto embriagada. Doce jogo de sedução este, em que me deixo levar, em que o meu oponente (rival? parceiro?) me olha nos olhos e sem usar palavras, me diz as coisas mais bonitas. Regresso ao meu ninho de folhas outonais, esta canção traz-me demasiadas recordações boas, cheiros, sabores, beijos. Esses momentos são meus, ninguém mos tira. Estas canções são minhas agora. Ninguém mas tira.
De volta ao lamento - mas já o disse aqui e volto a dizê-lo, um lamento não tem de ser necessariamente triste. Mas este lamento é um bocadinho triste. Ou talvez não. Talvez seja apenas fatigado. Um lamento de cansaço, de saturação, "já chega ou vou-me embora". Julian não está cansado da música, pelo que me conta, nem está cansado de nada nem de ninguém. Não está cansado dele (e como é fácil ficarmos fartos de nós, que convivemos connosco repetidamente). Não sabe bem de que se cansa ele. Como te compreendo, Julian, dá cá mais cinco e um abraço. É uma imperial e um whisky para esta mesa, faz'avor. Este lamento transforma-se em segredo ao ouvido e eu não o conto a ninguém (era incapaz de trair a confiança deste meu bom amigo). Mas a segundos do fim, Julian satura-se de estar saturado e sai do bar finalmente em liberdade.
O tio da Alison (Alison's Uncle) só pode ser um moço bem-humorado. Esta música mal começa e já me fez rir. Julian saíu do bar mas não me deixou sozinha, entraram os meus amigos e estamos em alegre galhofa a conversar sobre tudo e sobre nada. E eles, na faixa, também conversam e riem. A bateria parece pedir "Hey Miles Davis, play it louder!" e o mestre corresponde e o Julian não se deixa ficar e se isto fosse uma rua eu desatava a correr como a Heidi pelos Alpes. Esta música faz-me teclar desenfreadamente, enche-me de energia, e eu mexo-me na prisão desta cadeira, mas é de festa que esta música fala. Volto para os meus amigos, caramba! estão cada vez mais bêbedos!, brindamos a cada solo de bateria e trauteamos a secção de sopro cada vez que entra para dar o mote a festa. E o mote é simples "Sejam felizes, porra!". Como um filme que acaba bem, com os créditos finais a passar em fundo preto, saio da sala onde decorreu a sessão.
A festa continua cá fora.
Para ler a sério sobre Julian 'Cannonball' Adderley, podem consultar este, aquele ou o outro sites.
Há álbuns que sabem a instantes, sobremesas ou bons vinhos. Outros transportam-nos ou acompanham-nos ao longo de estações do ano. Preconceito ou não, o pouco (ou o pouquíssimo íssimo íssimo) jazz que conheço sempre me lembrou Outono. Os dois ou três álbuns que tenho foram sempre comprados entre o dia 21 de Setembro e o dia 20 de Dezembro. Geralmente, ainda com o disco debaixo do braço, apanhava chuva, punha o pé numa poça de água, bebia um chocolate quente.
A tradição manteve-se e novamente, mas desta vez seguindo o conselho de "ir pelo menos óbvio" (porque quando alguém sabe mais do que nós acerca de qualquer coisa anotamos as recomendações e cumprimo-las), sendo que o meu conhecimento jazzístico é tão parco que até o óbvio é menos óbvio, acolhi no seio da minha reduzida colecção de discos (é quase infame chamar-lhe colecção) esta deliciosa rodela:
Este Somethin' else - oh e como tem sido somethin' else na minha vida - é daquelas pérolas vendidas a onze euros e meio na FNAC. Onze euros e meio para comprar tranquilidade - na ausência de tranquilidade intrínseca à alma, uma pechincha!
Autumn leaves abre o álbum e faz jus a tudo o que disse acerca do Outono e de álbuns de jazz outonais. A cada nota soprada (ou devo dizer, tal é a calma, suspirada?) caem folhas de árvores caducas, que primeiro dançam no ar, ao ritmo do piano do Hank Jones
further investigation tells me: este álbum tem um elenco de luxo
depois lentamente escorregam, como se o vento fosse caramelo líquido, até ao chão onde tombam, vivas. Porque a diferença entre estas Autumn leaves e aquelas que caem na minha rua e na tua é a presença de vitalidade, como se dissessem "Não me matas assim; ainda hei-de resistir ao Inverno".
Aqui não há estrelato nem domínio, cada músico entra, rigorosamente trajado para tal baile de gala, Art Blakey num registo suave, fazendo-nos fechar os olhos e inspirar fundo a cada nota de saxofone, e a faixa aquece sempre em lamento alegre (as pessoas alegres também às vezes estão tristes). 11 minutos de lareira acesa, de tons dourados e acastanhados, 11 minutos de se isto é jazz, nunca mais ouço outra coisa. Apaixonante.
A fasquia vai alta para a segunda faixa, pedimos-lhe "por favor deixa-me estar aqui onde ninguém me vê", mas Love for Sale está feita para acabar com a melancolia (to all of you, sullen lovers!). Agora o amor está à venda numa rua de Manhattan - que nunca visitei, mas também no calçadão de Copacabana (que sim, já visitei) ou nas escadas de Montmartre, com a Église Sacré Coeur ao fundo (ai Paris, Paris). O amor está à venda até numa tasca assimétrica no Bairro Alto, daquelas frequentadas por intelectuais barbudos. Mas agora o amor vende-se? Não sei. A promessa de amor sim. Impossível não jingar, não abanar o pé, não curtir quando se sabe que algures depois deste mato cerrado que é a desilusão - para quê o eufemismo?, falo de desgosto - há uma clareira onde entra o sol, onde se dissipam as mágoas e as lágrimas escondidas dão lugar a sorrisos longilíneos. E saltamos para a rua, e sentimos o Outono apoderar-se do vento e das nuvens, e não nos importamos porque Love for sale pede-nos, em linguagem saxofónica e trompética, "sai dessa, meu!". Aos cinco minutos e trinta, no entanto, nova surpresa!, afinal por cada amor há melancolia, grita Adderley ao saxofone, mas há discussão, e o piano e a bateria continuam optimistas. Eu também.
Ó alegria! Ó boa- disposição! Ó velha Joana de sempre, dançarina das danças improváveis, de ancas imparáveis! Os dedos estalam, tentam acompanhar, mas o corpo descoordena-se, há passos para a direita e mãos para a esquerda, há o pescoço que impele o queixo para a frente e para baixo. DANÇA DANÇA DANÇA, impera o saxofone e o trompete, e como evitá-lo? Afinal nesta canção dizem-me que há sempre mais qualquer coisa, ou não se chamasse a faixa Somethin' else. Será esta uma alternativa para mim? Ou uma alternativa, ou antes, um novo elemento a adicionar na conta de somar que é a música? Não se tratam da conjunção OU, mas sim, e agora vejo-o tão bem, de muitos sinais de mais, somando diálogos entre o Miles e o Julian 'Cannonball', que à terceira faixa são já meus velhos amigos de infância. Vou ali dançar. Volto na quarta faixa.
"One for Daddy-O" é sensual, é mesmo a mais sensual até agora. Sensual nesse primeiro sentido que pensaram - o sexual-, sim, mas também no sentido de "ACORDA e USA OS CINCO SENTIDOS!". Desperto embriagada. Doce jogo de sedução este, em que me deixo levar, em que o meu oponente (rival? parceiro?) me olha nos olhos e sem usar palavras, me diz as coisas mais bonitas. Regresso ao meu ninho de folhas outonais, esta canção traz-me demasiadas recordações boas, cheiros, sabores, beijos. Esses momentos são meus, ninguém mos tira. Estas canções são minhas agora. Ninguém mas tira.
De volta ao lamento - mas já o disse aqui e volto a dizê-lo, um lamento não tem de ser necessariamente triste. Mas este lamento é um bocadinho triste. Ou talvez não. Talvez seja apenas fatigado. Um lamento de cansaço, de saturação, "já chega ou vou-me embora". Julian não está cansado da música, pelo que me conta, nem está cansado de nada nem de ninguém. Não está cansado dele (e como é fácil ficarmos fartos de nós, que convivemos connosco repetidamente). Não sabe bem de que se cansa ele. Como te compreendo, Julian, dá cá mais cinco e um abraço. É uma imperial e um whisky para esta mesa, faz'avor. Este lamento transforma-se em segredo ao ouvido e eu não o conto a ninguém (era incapaz de trair a confiança deste meu bom amigo). Mas a segundos do fim, Julian satura-se de estar saturado e sai do bar finalmente em liberdade.
O tio da Alison (Alison's Uncle) só pode ser um moço bem-humorado. Esta música mal começa e já me fez rir. Julian saíu do bar mas não me deixou sozinha, entraram os meus amigos e estamos em alegre galhofa a conversar sobre tudo e sobre nada. E eles, na faixa, também conversam e riem. A bateria parece pedir "Hey Miles Davis, play it louder!" e o mestre corresponde e o Julian não se deixa ficar e se isto fosse uma rua eu desatava a correr como a Heidi pelos Alpes. Esta música faz-me teclar desenfreadamente, enche-me de energia, e eu mexo-me na prisão desta cadeira, mas é de festa que esta música fala. Volto para os meus amigos, caramba! estão cada vez mais bêbedos!, brindamos a cada solo de bateria e trauteamos a secção de sopro cada vez que entra para dar o mote a festa. E o mote é simples "Sejam felizes, porra!". Como um filme que acaba bem, com os créditos finais a passar em fundo preto, saio da sala onde decorreu a sessão.
A festa continua cá fora.
Para ler a sério sobre Julian 'Cannonball' Adderley, podem consultar este, aquele ou o outro sites.
5.10.06
Iogurtes
"Reputada por sua permanente aposta na Inovação, a Danone volta a surpreender ao relançar os Puro Danone Pedaços, que aliam os benefícios nutricionais do iogurte aos da melhor fruta produzida em Portugal, incluindo pedaços de fruta com Denominação de Origem Protegida (D.O.P.) ou Indicação de Origem Protegida (I.G.P.).
A nova gama de iogurtes "Puro Danone Pedaços", que estará no mercado português a partir de 9 de Junho, inclui os sabores Ananás dos Açores (D.O.P.), Pêra Rocha do Oeste (D.O.P.), Mel da Terra Quente (D.O.P.) e Nozes (vindas do Alentejo), Cereja da Cova da Beira (I.G.P.), Pêssego da Cova da Beira (I.G.P.), Maçã de Alcobaça (I.G.P.), e Morango cultivado no Ribatejo. No primeiro ano, A Danone prevê produzir 10 milhões de unidades destas.
Dos Açores ao Alentejo, passando pela Estremadura, Ribatejo, Beira Interior e Trás-os-Montes, são várias as regiões frutícolas abrangidas neste inovador projecto que envolve 620 produtores frutícolas e mais de 360 toneladas de fruta anualmente produzida em Portugal.
Ao relançar a linha "Puro Danone Pedaços", a Danone pretende conquistar a liderança no segmento dos iogurtes com pedaços, o único em que ainda não é líder. O objectivo é portanto uma duplicação das vendas.
O desafio remonta a 2004, quando a Danone relançou toda a linha "Puro", fortalecendo os valores de Família, Confiança e Tradição. Decidiu-se então reformular o conceito do iogurte com pedaços, aliando-o a frutos exclusivamente portugueses e de origem seleccionada.
Sob o lema "O melhor do que é nosso", a campanha de publicidade estará patente a partir de meados de Junho na imprensa e na televisão. Paralelamente, decorrem acções em 100 lojas, com material de visibilidade, distribuição de folhetos e degustação dos novos iogurtes.
Reconhecendo a qualidade da produção frutícola nacional, esta é a primeira vez em Portugal que a agro-indústria se dispõe formalmente a utilizar frutos nacionais com nomes protegidos a nível comunitário. O projecto Puro Danone Pedaços representa assim uma aposta na Inovação, na Qualidade certificada e na Agricultura nacional. E, claro, na Alimentação saudável e saborosa!
in agroportal.pt
O iogurte Puro danone de ananás dos Açores é o meu novo vício alimentar.
A nova gama de iogurtes "Puro Danone Pedaços", que estará no mercado português a partir de 9 de Junho, inclui os sabores Ananás dos Açores (D.O.P.), Pêra Rocha do Oeste (D.O.P.), Mel da Terra Quente (D.O.P.) e Nozes (vindas do Alentejo), Cereja da Cova da Beira (I.G.P.), Pêssego da Cova da Beira (I.G.P.), Maçã de Alcobaça (I.G.P.), e Morango cultivado no Ribatejo. No primeiro ano, A Danone prevê produzir 10 milhões de unidades destas.
Dos Açores ao Alentejo, passando pela Estremadura, Ribatejo, Beira Interior e Trás-os-Montes, são várias as regiões frutícolas abrangidas neste inovador projecto que envolve 620 produtores frutícolas e mais de 360 toneladas de fruta anualmente produzida em Portugal.
Ao relançar a linha "Puro Danone Pedaços", a Danone pretende conquistar a liderança no segmento dos iogurtes com pedaços, o único em que ainda não é líder. O objectivo é portanto uma duplicação das vendas.
O desafio remonta a 2004, quando a Danone relançou toda a linha "Puro", fortalecendo os valores de Família, Confiança e Tradição. Decidiu-se então reformular o conceito do iogurte com pedaços, aliando-o a frutos exclusivamente portugueses e de origem seleccionada.
Sob o lema "O melhor do que é nosso", a campanha de publicidade estará patente a partir de meados de Junho na imprensa e na televisão. Paralelamente, decorrem acções em 100 lojas, com material de visibilidade, distribuição de folhetos e degustação dos novos iogurtes.
Reconhecendo a qualidade da produção frutícola nacional, esta é a primeira vez em Portugal que a agro-indústria se dispõe formalmente a utilizar frutos nacionais com nomes protegidos a nível comunitário. O projecto Puro Danone Pedaços representa assim uma aposta na Inovação, na Qualidade certificada e na Agricultura nacional. E, claro, na Alimentação saudável e saborosa!
in agroportal.pt
O iogurte Puro danone de ananás dos Açores é o meu novo vício alimentar.
3.10.06
30.9.06
NASCEU (e eu renasci)
Chama-se André, nasceu às 17:15 do dia 28 de Setembro de 2006. Pesa 2.840 kg e mede 50 centímetros. É irrequieto, está sempre a se mexer, a esticar os braços e as pernas, a flecti-los, a abrir e a fechar as mãos, a mexer nas orelhas, no cabelo, no nariz, na boca, mas mal apanhe um colo onde se aninhe bem, toca de dormir. Apresento-vos o meu irmão mais novo:
29.9.06
Uma vez parva, sempre parva V
parvo
do Lat. parvu ou parvulu
adj.,
pequeno;
apoucado de juízo ou entendimento;
idiota;
s. m.,
indivíduo parvo ou atoleimado.
A palavra parva é gira se a decompusermos mentalmente, repetindo-a até que deixe de fazer qualquer sentido e o seu sentido se torne tão parvo quanto a palavra parva.
parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva
Bolas, isto da parvoíce está bem pior do que eu pensava.
do Lat. parvu ou parvulu
adj.,
pequeno;
apoucado de juízo ou entendimento;
idiota;
s. m.,
indivíduo parvo ou atoleimado.
A palavra parva é gira se a decompusermos mentalmente, repetindo-a até que deixe de fazer qualquer sentido e o seu sentido se torne tão parvo quanto a palavra parva.
parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva parva
Bolas, isto da parvoíce está bem pior do que eu pensava.
Sou parva III
UM LIVRO PARVO PARA PESSOAS PARVAS- e que fará as menos parvas perceber o mundo das verdadeiramente parvas:
"Rabbits. We'll never quite know why, but sometimes they decide they've just had enough of this world - and that's when they start getting inventive."
Para além do livro, também aqui.
"Rabbits. We'll never quite know why, but sometimes they decide they've just had enough of this world - and that's when they start getting inventive."
Para além do livro, também aqui.
Sou parva II
Formigas não atrapalham, só fazem comichão. *coça-se*
Já ouviram alguém a dizer "sai-me da frente, ó formigo!!"? Não, pois não?
E "caramba tenho uma comichão nas costas, deve ser uma formiga, ora vê lá"? Claro que já.
*coça-se*
Depois não me venham dizer que aqui não se discutem verdades concretas. Ou venham, que eu ajo sobre os vossos corpos com o meu taser.
Já ouviram alguém a dizer "sai-me da frente, ó formigo!!"? Não, pois não?
E "caramba tenho uma comichão nas costas, deve ser uma formiga, ora vê lá"? Claro que já.
*coça-se*
Depois não me venham dizer que aqui não se discutem verdades concretas. Ou venham, que eu ajo sobre os vossos corpos com o meu taser.
28.9.06
A/C Navegação
Pessoal que comenta aqui no blogue: decidi responder pessoalmente a todos os vossos comentários, como tenho feito de forma mais ou menos esporádica a alguns até à data. A questão é: vocês vêm até aqui ler-me e eu gosto muito que comentem, que reajam, que sintam e que reflictam comigo, ou pelo menos, que se distraiam. É uma honra ser lida por vocês, malta.
Scroll back até aos posts anteriores onde encontrarão respostas aos comentários do último mês. A partir de hoje será assim.
Estimo que comentem,
Joanie Bats
Scroll back até aos posts anteriores onde encontrarão respostas aos comentários do último mês. A partir de hoje será assim.
Estimo que comentem,
Joanie Bats
27.9.06
Liars a frio
Antes de mais nada, o Angus baba-se. E visto que dança e se abana, há quase como uma celebração de champagne mas em versão baba para cima do público. Não me molhou, no entanto, pois fiquei longe do palco para não atrapalhar ninguém quando fosse buscar a imperial habitual do meio do concerto.
Depois, não vi Deerhunter, ou melhor, só ouvi a última música, por isso estava ainda pouco aquecida para o que vinha depois. Mas o que ouvi pareceu-me bem, tive pena do atraso, mas jogou o Benfica, houve greve de metro, enfim a cidade estava imposssível.
Assim sendo, é válido afirmar que para mim o início do concerto foi morninho, num quase "é só isto?". Mas os Liars valem pelo que são, ou pelo último disco digo eu, que não gosto tanto do segundo (não falo do primeiro porque não ouvi) e quando o coração, à segunda/terceira música, começa a bater ao ritmo dos
DRUMS
e o Angus - atente-se à precisão científica deste post: não ouvi o primeiro disco, não sei o sobrenome do moço, nem procurei porque não quero saber, fixe não é?- começa a dar o seu espectáculo, às vezes quase independente dos outros dois índios que maltratam as baterias até mais não poderem, outras vezes numa relação de simbiose do mais puro que existe, eis quando um concerto de Liars começa a valer a pena. E valeu, ó se valeu.
Claro que a minha opinião vale o que vale. Ignorem este post, até. Mas a noite tinha um momento marcado, a Visit from drums, que é qualquer coisa de sobrenatural. E esse momento não defraudou, aliás lançou a tónica para que o resto do concerto fosse cada vez melhor. Superaram-se a si próprios talvez. (estou croma disto, repare-se na expressão "lançou a tónica")
Ultimamente sempre que vou a um concerto penso "isto foi histórico", "é a música do futuro", blá blá blá. (É a isto a que chegou o meu nível de cromice.)Não posso dar certezas, mas apercebi-me que, baba à parte (e vestido vermelho aos folhos, pois claro), o futuro é risonho para a música. Ou baba incluída.
Depois, não vi Deerhunter, ou melhor, só ouvi a última música, por isso estava ainda pouco aquecida para o que vinha depois. Mas o que ouvi pareceu-me bem, tive pena do atraso, mas jogou o Benfica, houve greve de metro, enfim a cidade estava imposssível.
Assim sendo, é válido afirmar que para mim o início do concerto foi morninho, num quase "é só isto?". Mas os Liars valem pelo que são, ou pelo último disco digo eu, que não gosto tanto do segundo (não falo do primeiro porque não ouvi) e quando o coração, à segunda/terceira música, começa a bater ao ritmo dos
DRUMS
e o Angus - atente-se à precisão científica deste post: não ouvi o primeiro disco, não sei o sobrenome do moço, nem procurei porque não quero saber, fixe não é?- começa a dar o seu espectáculo, às vezes quase independente dos outros dois índios que maltratam as baterias até mais não poderem, outras vezes numa relação de simbiose do mais puro que existe, eis quando um concerto de Liars começa a valer a pena. E valeu, ó se valeu.
Claro que a minha opinião vale o que vale. Ignorem este post, até. Mas a noite tinha um momento marcado, a Visit from drums, que é qualquer coisa de sobrenatural. E esse momento não defraudou, aliás lançou a tónica para que o resto do concerto fosse cada vez melhor. Superaram-se a si próprios talvez. (estou croma disto, repare-se na expressão "lançou a tónica")
Ultimamente sempre que vou a um concerto penso "isto foi histórico", "é a música do futuro", blá blá blá. (É a isto a que chegou o meu nível de cromice.)Não posso dar certezas, mas apercebi-me que, baba à parte (e vestido vermelho aos folhos, pois claro), o futuro é risonho para a música. Ou baba incluída.
25.9.06
QUERO UM CÃO.
Um agradecimento por uma noite bem passada
E um beijinho cheio de coragem à Rita (com a promessa da visita a Boston logo que os astros se alinhem nesse sentido).
Tchakare Kanyembe + Rita Martins @ Andanças 2006
Tchakare Kanyembe + Rita Martins @ Andanças 2006
23.9.06
Autumn or Fall
Dias assim, em que o vento despe o bronzeado do Verão, deixando-o tombar sobre as folhas que repousam no chão.
Passados que estão os dias de cabeça vazia e tronco nu, há despedidas para fazer(porque o Outono é também tempo de refazer e de partir) e há abraços obrigatoriamente apertados e sentidos.
Someone staying and someone gone
A mente fixa numa só coisa, num só instante, como se não conseguisse avançar nem retroceder, como se antes disso nada tivesse acontecido, como se naquele momento se tivesse nascido. Nascer para morrer, como um fruto que não é colhido. Pensar que nada é desnecessário ou supérfluo: porque tal como um fruto que quando apodrece lança à terra sementes que gerarão novas vidas, também no amor nada se destrói e tudo é reaproveitado e regenerado. Mesmo quando tudo acaba, quando tudo parece morrer - ou quando nos matam, devagar - há sempre um novo nós que ressurge por entre a polpa ácida e perfumada de um fruto maduro. Nós próprios, talvez mais ácidos, mais perfumados, sem dúvida mais maduros.
Is it bad that you're good for me,
did I love you just randomly?
Vejo uma estação de comboios, uma gare de autocarros, um aeroporto. Pessoas que partem ou regressam, como o Outono, todos os anos.
*dEUS "Serpentine"
Passados que estão os dias de cabeça vazia e tronco nu, há despedidas para fazer(porque o Outono é também tempo de refazer e de partir) e há abraços obrigatoriamente apertados e sentidos.
Someone staying and someone gone
A mente fixa numa só coisa, num só instante, como se não conseguisse avançar nem retroceder, como se antes disso nada tivesse acontecido, como se naquele momento se tivesse nascido. Nascer para morrer, como um fruto que não é colhido. Pensar que nada é desnecessário ou supérfluo: porque tal como um fruto que quando apodrece lança à terra sementes que gerarão novas vidas, também no amor nada se destrói e tudo é reaproveitado e regenerado. Mesmo quando tudo acaba, quando tudo parece morrer - ou quando nos matam, devagar - há sempre um novo nós que ressurge por entre a polpa ácida e perfumada de um fruto maduro. Nós próprios, talvez mais ácidos, mais perfumados, sem dúvida mais maduros.
Is it bad that you're good for me,
did I love you just randomly?
Vejo uma estação de comboios, uma gare de autocarros, um aeroporto. Pessoas que partem ou regressam, como o Outono, todos os anos.
*dEUS "Serpentine"
22.9.06
Sentir? (ou a minha relação com a arte contemporânea)
Mostram-nos bocados de arte e dizem-nos:
Sente.
Imagens retorcidas, traços que unem pontos e perspectivas, homens esculpidos de mármore, de filamentos metálicos, de cabos de electricidade, de barro, homens de cera iguais a ti mas opacos e maciços.
Mostram-nos essas coisas e dizem-nos:
Sente.
Como se sentir fosse uma ordem ou desculpa.
Olhar - ou ver- fragmentos de vidro espalhados num soalho de madeira. Sentir? Ver, no mínimo. Explicarem-nos qualquer coisa, estragarem sempre tudo com explicações baratas.
Não perceberem que quanto mais se justificam, quanto mais nos pedem desculpa, menos mérito lhes damos.
Sentir? Absolutamente. Se nos der gozo. Sempre que nos der gozo. Enquanto nos der gozo.
Porque existirem obras de arte que não nos dizem nada não é novidade nem é fruto da arte contemporânea - e entender porquê é que cada obra nos faz um arrepio vai para além de qualquer reflexão.
(Como a cor de um batôm ou a forma das nuvens, nem todas nos fazem desviar o olhar pela segunda vez.)
Olhar para a criatividade (para alguns só se chama criatividade porque eles se consideram criadores), ver intervenções e instalações e pensar que "um enxame de mosquitos fazia melhor trabalho numa noite em que dormisse destapada do que estes gajos numa sala de 300 metros quadrados".
Ou ver cada coisa no seu lugar
o quadro no chão, a escultura no tecto, a instalação em nossa casa
e achar que se pertence ali, que se está em cada objecto, porque sabemos que viver num mundo como este e em tempos como estes, é também, por si só, uma forma de arte.
Sente.
Imagens retorcidas, traços que unem pontos e perspectivas, homens esculpidos de mármore, de filamentos metálicos, de cabos de electricidade, de barro, homens de cera iguais a ti mas opacos e maciços.
Mostram-nos essas coisas e dizem-nos:
Sente.
Como se sentir fosse uma ordem ou desculpa.
Olhar - ou ver- fragmentos de vidro espalhados num soalho de madeira. Sentir? Ver, no mínimo. Explicarem-nos qualquer coisa, estragarem sempre tudo com explicações baratas.
Não perceberem que quanto mais se justificam, quanto mais nos pedem desculpa, menos mérito lhes damos.
Sentir? Absolutamente. Se nos der gozo. Sempre que nos der gozo. Enquanto nos der gozo.
Porque existirem obras de arte que não nos dizem nada não é novidade nem é fruto da arte contemporânea - e entender porquê é que cada obra nos faz um arrepio vai para além de qualquer reflexão.
(Como a cor de um batôm ou a forma das nuvens, nem todas nos fazem desviar o olhar pela segunda vez.)
Olhar para a criatividade (para alguns só se chama criatividade porque eles se consideram criadores), ver intervenções e instalações e pensar que "um enxame de mosquitos fazia melhor trabalho numa noite em que dormisse destapada do que estes gajos numa sala de 300 metros quadrados".
Ou ver cada coisa no seu lugar
o quadro no chão, a escultura no tecto, a instalação em nossa casa
e achar que se pertence ali, que se está em cada objecto, porque sabemos que viver num mundo como este e em tempos como estes, é também, por si só, uma forma de arte.
21.9.06
I.
Há um lustre cheio de brilhos presunçosos suspenso ao centro da sala. Há sofás de veludo cor-de-sangue, a maior parte deles com marcas do tempo, outros clientes, outras seduções. Ao canto, um piano, empoeirado. Mas as colunas debitam canções e há funk e jazz e outras coisas que não percebe bem.
Ela dança e pensa
Dança comigo a primeira valsa da Primavera. Dança sem sonhos, esquece as promessas, ninguém nos espera
Notas soltas de piano que a abraçam, que sozinhas enchem a sala quente, despovoada como um cabaret abandonado. Não há janelas para a rua, ali ninguém os vê e ela dança. Desenha sonhos como bolhas de sabão que os envolvem,, alienando-os das conversas, dos degraus, dos espelhos. O único sítio onde se reflectem é nos olhos um do outro: olhares que se cruzam para logo se afastarem, cheios de timidez delicodoce.
Olhares que suspiram, embriagados
Com um pouco de sexo ou muita poesia ainda nos vamos casar.
*Quinteto Tati "Valsa Quase Antidepressiva"
Ela dança e pensa
Dança comigo a primeira valsa da Primavera. Dança sem sonhos, esquece as promessas, ninguém nos espera
Notas soltas de piano que a abraçam, que sozinhas enchem a sala quente, despovoada como um cabaret abandonado. Não há janelas para a rua, ali ninguém os vê e ela dança. Desenha sonhos como bolhas de sabão que os envolvem,, alienando-os das conversas, dos degraus, dos espelhos. O único sítio onde se reflectem é nos olhos um do outro: olhares que se cruzam para logo se afastarem, cheios de timidez delicodoce.
Olhares que suspiram, embriagados
Com um pouco de sexo ou muita poesia ainda nos vamos casar.
*Quinteto Tati "Valsa Quase Antidepressiva"
16.9.06
Uma canção e um adeus ou até logo
E não é uma canção qualquer; é a única que hoje faz sentido.
Fiona Apple |I Know
So be it, I'm your crowbar
If that's what I am so far
Until you get out of this mess
And I will pretend
That I don't know of your sins
Until you are ready to confess
But all the time, all the time
I know, I know
And you can use my skin
To bury secrets in
And I will settle you down
And at my own suggestion
I will ask no questions
While I do my thing in the background
But all the time, all the time
I know, I know
Baby
I can't help you out
While she's still around
So for the time being
I'm being patient
And amidst the bitterness
If you'll just consider this
Even if it don't make sense
All the time, give it time
And when the crowd becomes your burden
And you've early closed your curtains
I'll wait by the backstage door
While you try to find
The lines to speak your mind
And pry it open, hoping for an encore
And if it gets too late
For me to wait
For you to find you love me, and tell me so
It's ok, don't need to say it.
E então adeus ou até logo.
Fiona Apple |I Know
So be it, I'm your crowbar
If that's what I am so far
Until you get out of this mess
And I will pretend
That I don't know of your sins
Until you are ready to confess
But all the time, all the time
I know, I know
And you can use my skin
To bury secrets in
And I will settle you down
And at my own suggestion
I will ask no questions
While I do my thing in the background
But all the time, all the time
I know, I know
Baby
I can't help you out
While she's still around
So for the time being
I'm being patient
And amidst the bitterness
If you'll just consider this
Even if it don't make sense
All the time, give it time
And when the crowd becomes your burden
And you've early closed your curtains
I'll wait by the backstage door
While you try to find
The lines to speak your mind
And pry it open, hoping for an encore
And if it gets too late
For me to wait
For you to find you love me, and tell me so
It's ok, don't need to say it.
E então adeus ou até logo.
"Desculpa, mas não sou capaz."
E eis que através do post anterior este blogue tornou-se profético. Posto isto, deixo aqui a frase "um dia estarei um bocadinho menos triste" a ver se também isto se torna realidade.
9.9.06
6.9.06
Moleskine
Escrever com as palavras dos outros, juntar letras para usar expressões e frases dos outros.
Escrever com as tuas palavras. Escrever - sem saber bem o quê- contigo nos meus dedos, tu preenchendo cada espaço em branco.
Tu preenchendo cada espaço vazio em mim.
Desligar a televisão porque ela não me traz notícias tuas. Fechar os jornais - ou nem os abrir. Não chegar sequer a sintonizar o rádio.
Esperar. Esperar, sempre. Depois achar que isto não é estar à espera. Voltar a esperar na expectativa que não pode correr bem.
Atitudes pró-activas que moem mas não matam.
E o tempo que não passa. E os dias que finalmente se esgotam, um atrás do outro.
Luares que se repetem, sendo cada dia novos no seu esplendor marinho. Brilhos de prata que se acusam (e como os invejo!) por te verem, por saberem onde estás na tua frieza árctica, por te espiarem, por te embalarem ao entrarem pela tua janela quando dormes.
Silêncios prescrutadores (o mar sempre ao fundo, enquanto as ondas arrastam calhaus pela praia na maré baixa) em que surges sempre tão perto como se o teu sorriso viesse calar o vento ou os grilos, como se as tuas mãos fossem agarrar as minhas num abraço apertado (e a tonta da lua que tudo testemunha), como se cada conversa tivesse a sorte de ter-te como seu interveniente.
Não saber o que dizer de forma a acabar este post, sabendo, bom, tendo a certeza, que a melhor forma de acabar este Verão seria ter-te aqui.
Escrever com as tuas palavras. Escrever - sem saber bem o quê- contigo nos meus dedos, tu preenchendo cada espaço em branco.
Tu preenchendo cada espaço vazio em mim.
Desligar a televisão porque ela não me traz notícias tuas. Fechar os jornais - ou nem os abrir. Não chegar sequer a sintonizar o rádio.
Esperar. Esperar, sempre. Depois achar que isto não é estar à espera. Voltar a esperar na expectativa que não pode correr bem.
Atitudes pró-activas que moem mas não matam.
E o tempo que não passa. E os dias que finalmente se esgotam, um atrás do outro.
Luares que se repetem, sendo cada dia novos no seu esplendor marinho. Brilhos de prata que se acusam (e como os invejo!) por te verem, por saberem onde estás na tua frieza árctica, por te espiarem, por te embalarem ao entrarem pela tua janela quando dormes.
Silêncios prescrutadores (o mar sempre ao fundo, enquanto as ondas arrastam calhaus pela praia na maré baixa) em que surges sempre tão perto como se o teu sorriso viesse calar o vento ou os grilos, como se as tuas mãos fossem agarrar as minhas num abraço apertado (e a tonta da lua que tudo testemunha), como se cada conversa tivesse a sorte de ter-te como seu interveniente.
Não saber o que dizer de forma a acabar este post, sabendo, bom, tendo a certeza, que a melhor forma de acabar este Verão seria ter-te aqui.
28.8.06
15.8.06
Durante o concerto de Morrissey
O Morrissey está a tocar em Paredes de Coura. Está em Portugal. Eu estou em casa, na Madeira, a ouvir o concerto através da emissão on-line da Antena 3.
Parece que estou mesmo a ouvir-me
"MOZ MAKE ME A BABY", que é a frase que grito nos concertos de rock quando sei que ninguém está a ouvir-me (e que só não gritei ao Hooke dos New Order porque
1- não quero ter um filho com ele;
2- estava na primeira fila, ou quase, e ele ainda ouvia e levava-me a sério.)
Está calor. Em Paredes de Coura chove, também chove na "Life is a Pig Sty" do Ringleader of the Tormentors, e ouvem-se trovões enquanto ele se lamenta.
(Tal como eu me lamento. Tal como, tantas vezes, chove dentro de mim.)
É isso, o lamento quase fado do Morrissey que me abraça e me consola.
Ouvir Smiths e, por conseguinte, Morrissey é cada vez mais viajar no tempo, porque isto de ouvir música, e gostar de o fazer, obriga a estar atento ao novo
E este homem não vai propriamente para novo, já o sabemos.
o que empurra as coisas demasiado ouvidas para o fim da prateleira dos discos.
Comecei a ouvir Smiths e Morrissey tarde. Estupidamente tarde.
Lembro-me de chegar a casa de uma amigo e estar a dar Smiths a decibéis pouco recomendáveis e de ter gostado desde então.
Valeram-me os álbuns em promoção na fnhéque
- lembro-me de uma tarde no primeiro ano em que comprei, assim de seguida, três álbuns dos Smiths:
::The Queen is Dead
::The Smiths
::Strangeways, here we come -
e valeu-me este ouvido e este coração, que quase imediatamente elevaram os Smiths a banda preferida de sempre.
(Claro que agora sei que isso é uma hipérbole, mas não deixa de saber bem dizê-lo.)
Tendo esta voz que mais ninguém tem, Morrissey esgrima por entre letras muitíssimo bem conseguidas,
não, não é o maior poeta de sempre mas escreveu dos versos mais bonitos que já tive o prazer de ouvir e ler
onde deliberadamente nos mostra a realidade em tons de sarcasmo e ternura, em que raramente queremos acreditar,
I know it's over still I cling, I don't know where else I can go
e um som que desliza entre o bate-o-pé-e-dança-e-canta-comigo e o senta-te-no-puff-e-pensa-na-vida.
E foi assim que fui enfrentando e convivendo com e a cada instante e aprendendo a amar e a seduzir, a afastar-se e sofrer, a criticar o mundo com um dedo espetado, a sair à noite e a apanhar bebedeiras só de imperial; como se gostar de Smiths tivesse ensinado a viver - e ensinou.
Por isso hoje, oiço este concerto com o coração pequenino a bater depressa, porque sou outra Joana desde o dia em que os ouvi pela primeira vez,
já fui até várias Joanas desde então
mas o Morrissey nunca deixou de ser um dos meus melhores amigos.
Parece que estou mesmo a ouvir-me
"MOZ MAKE ME A BABY", que é a frase que grito nos concertos de rock quando sei que ninguém está a ouvir-me (e que só não gritei ao Hooke dos New Order porque
1- não quero ter um filho com ele;
2- estava na primeira fila, ou quase, e ele ainda ouvia e levava-me a sério.)
Está calor. Em Paredes de Coura chove, também chove na "Life is a Pig Sty" do Ringleader of the Tormentors, e ouvem-se trovões enquanto ele se lamenta.
(Tal como eu me lamento. Tal como, tantas vezes, chove dentro de mim.)
É isso, o lamento quase fado do Morrissey que me abraça e me consola.
Ouvir Smiths e, por conseguinte, Morrissey é cada vez mais viajar no tempo, porque isto de ouvir música, e gostar de o fazer, obriga a estar atento ao novo
E este homem não vai propriamente para novo, já o sabemos.
o que empurra as coisas demasiado ouvidas para o fim da prateleira dos discos.
Comecei a ouvir Smiths e Morrissey tarde. Estupidamente tarde.
Lembro-me de chegar a casa de uma amigo e estar a dar Smiths a decibéis pouco recomendáveis e de ter gostado desde então.
Valeram-me os álbuns em promoção na fnhéque
- lembro-me de uma tarde no primeiro ano em que comprei, assim de seguida, três álbuns dos Smiths:
::The Queen is Dead
::The Smiths
::Strangeways, here we come -
e valeu-me este ouvido e este coração, que quase imediatamente elevaram os Smiths a banda preferida de sempre.
(Claro que agora sei que isso é uma hipérbole, mas não deixa de saber bem dizê-lo.)
Tendo esta voz que mais ninguém tem, Morrissey esgrima por entre letras muitíssimo bem conseguidas,
não, não é o maior poeta de sempre mas escreveu dos versos mais bonitos que já tive o prazer de ouvir e ler
onde deliberadamente nos mostra a realidade em tons de sarcasmo e ternura, em que raramente queremos acreditar,
I know it's over still I cling, I don't know where else I can go
e um som que desliza entre o bate-o-pé-e-dança-e-canta-comigo e o senta-te-no-puff-e-pensa-na-vida.
E foi assim que fui enfrentando e convivendo com e a cada instante e aprendendo a amar e a seduzir, a afastar-se e sofrer, a criticar o mundo com um dedo espetado, a sair à noite e a apanhar bebedeiras só de imperial; como se gostar de Smiths tivesse ensinado a viver - e ensinou.
Por isso hoje, oiço este concerto com o coração pequenino a bater depressa, porque sou outra Joana desde o dia em que os ouvi pela primeira vez,
já fui até várias Joanas desde então
mas o Morrissey nunca deixou de ser um dos meus melhores amigos.
3.8.06
Só mais um (e este vale MUITO a pena)
Fiona Apple "Paper Bag"
I was staring at the sky
Just looking for a star
To pray on, or wish on
Or something like that
I was having a sweet fix
Of a daydream of a boy
Whose reality I knew
Was a hopeless to be had
But then the dove of hope began its downward slope
And I believed for a moment that my chances were
Approaching to be grabbed
But as it came down near, so did a weary tear
I thought it was a bird, but it was just a paper bag
Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
'Cause I know I'm a mess he don't wanna clean up
I got to fold 'cause these hands are too shaky to hold
Hunger hurts, but starving works, when it costs too much to love
And I went crazy again today, looking for a strand to climb
Looking for a little hope
Baby said he couldn't stay, wouldn't put his lips to mine,
And a fail to kiss is a fail to cope
I said, "Honey, I don't feel so good, don't feel justified
Come on put a little love here in my void"
He said, "It's all in your head"
And I said, "So's everything'" but he didn't get it
I thought he was a man but he was just a little boy
Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
'Cause I know I'm a mess he don't wanna clean up
I got to fold écause these hands are too shaky to hold
Hunger hurts, but starving works, when it costs too much to love
2.8.06
Prazeres
Carte d'Or Mania for Coffee directamente da embalagem com uma colher de sopa enquanto os olhos fechados deixam o corpo balançar ao som de Simentera.
1.8.06
30.7.06
Raciocínio (pouco) lógico
Hemorragia, dor, solidão, calor, sol, música, Sines, praia, amizades, lágrimas, nó na garganta, saudades, desilusão, tempo, exames, Lisboa, acasos, coincidências, projectos, frustrações, encontros, desencontros, mudanças, viagens, madrugadas, aurora (não boreal), sorrisos, mãos dadas, conversas, temperos, cerveja, sapatilhas (ou ténis?), vestidos, Havaianas, Tejo, dança, beijos, timidez, frigorífico, palavras, canções, mensagens, fotografias, desejo, prazer, melancolia.
Summer tunes V
Jamie Lidell "Multiply" (A merecida recuperação porque o Verão é também sensualidade, sedução e menear de ancas.)
Such a twat
"Why did I have to go and do a stupid thing like that
Coz yeah it felt like we were through though
But I could've ruined it,
I’m such a twat."
Coz yeah it felt like we were through though
But I could've ruined it,
I’m such a twat."
29.7.06
Save as draft?
Ouvir a tua voz depois de todos estes anos e ela ter a mesma doçura enquanto me convidas para um café. Encontrar-te agora (hoje!) e estares na mesma.
O teu sorriso aberto por me ver, "Ao tempo!", abraçarmos-nos como nunca, conversarmos como se apenas ontem não nos tivéssemos visto, como se este tempo em branco tivesse apenas durado aqueles dias que duram anos quando se está apaixonado.
Eu com a esperança que sejas tu, eu com a certeza que ainda és tu quem me completa, eu julgando que quando nos víssemos acabariam os receios e as perguntas.
Eu concentrada em ti enquanto te olho nos olhos para perceber se também gostas, se também queres, se também sentes.
Tu a afastares-te suavemente dos meus braços, a dar um passo ao lado
[e eu com a cabeça - e o coração - num beijo]
a apontares para uma mulher com um carrinho de bebé.
Os meus braços como pêndulos alinhados, a consciência que é um túnel em espiral por onde entro, primeiro a cabeça, depois o tronco, só então as pernas, o corpo ganhando o peso de elefantes para depois ficar leve como uma pluma, uma cegueira breve, os ouvidos que - por mais que me esforce- ainda te ouvem
"Aquela é a minha mulher e o meu filho."
[Nota para mim mesma: texto obviamente a precisar de polimento.]
O teu sorriso aberto por me ver, "Ao tempo!", abraçarmos-nos como nunca, conversarmos como se apenas ontem não nos tivéssemos visto, como se este tempo em branco tivesse apenas durado aqueles dias que duram anos quando se está apaixonado.
Eu com a esperança que sejas tu, eu com a certeza que ainda és tu quem me completa, eu julgando que quando nos víssemos acabariam os receios e as perguntas.
Eu concentrada em ti enquanto te olho nos olhos para perceber se também gostas, se também queres, se também sentes.
Tu a afastares-te suavemente dos meus braços, a dar um passo ao lado
[e eu com a cabeça - e o coração - num beijo]
a apontares para uma mulher com um carrinho de bebé.
Os meus braços como pêndulos alinhados, a consciência que é um túnel em espiral por onde entro, primeiro a cabeça, depois o tronco, só então as pernas, o corpo ganhando o peso de elefantes para depois ficar leve como uma pluma, uma cegueira breve, os ouvidos que - por mais que me esforce- ainda te ouvem
"Aquela é a minha mulher e o meu filho."
[Nota para mim mesma: texto obviamente a precisar de polimento.]
Eyes wide shut
Aproximo-me de ti devagar, arrasto-me preguiçosamente pelos lençóis revoltos e o meu corpo procura o teu, e já o conhece bem, as minhas coxas encaixam nas tuas e o meu peito encosta-se às tuas costas.
Dormes a sono solto mas aos poucos despertas. Sem nunca abrir os olhos, viras-te para mim e sem me ver olhas-me, e os teus lábios tocam os meus, ao de leve, em reconhecimento.
As nossas mãos fecham-se uma na outra, descobrindo primeiro as pontas dos dedos, macias, depois percorrendo o comprimento até à palma, as linhas da vida que não te adivinharam aqui e que se desenham e entrecruzam como as nossas pernas.
Os corpos em mar alto.
O beijo que se prolonga em suspiros, a tua boca que se continua
no meu pescoço
na minha nuca
no lóbulo da orelha esquerda
no pescoço outra vez
no lóbulo da orelha direita
na minha nuca
para se perderem em desejo junto aos ombros destapados.
Os teus olhos sempre fechados.
A minha língua desliza pelo teu pescoço, por lá se demorando, e percorre o teu tronco, desenhando ténues espirais, começo no tórax e desço ao ritmo da tua respiração até ao teu abdómen, páro no teu umbigo.
Não resistimos e voltamos a fazer encontrar os lábios para mais ósculos. E digo-te
"Ósculos"
e tu sorris mas estás preso em mim, por isso sorris para dentro de mim e esse sorriso junta-se à corrente sanguínea e enche-me de prazer dos pés ao cabelo.
As nossas mãos soltam-se e as tuas agarram firmemente nas minhas ancas e fazemos da figura humana geometria enquanto nos projectamos em ângulos, curvas e intersecções.
Os teus olhos sempre fechados.
Até que os abres e.
(E o fim da história já o conhecemos.)
Dormes a sono solto mas aos poucos despertas. Sem nunca abrir os olhos, viras-te para mim e sem me ver olhas-me, e os teus lábios tocam os meus, ao de leve, em reconhecimento.
As nossas mãos fecham-se uma na outra, descobrindo primeiro as pontas dos dedos, macias, depois percorrendo o comprimento até à palma, as linhas da vida que não te adivinharam aqui e que se desenham e entrecruzam como as nossas pernas.
Os corpos em mar alto.
O beijo que se prolonga em suspiros, a tua boca que se continua
no meu pescoço
na minha nuca
no lóbulo da orelha esquerda
no pescoço outra vez
no lóbulo da orelha direita
na minha nuca
para se perderem em desejo junto aos ombros destapados.
Os teus olhos sempre fechados.
A minha língua desliza pelo teu pescoço, por lá se demorando, e percorre o teu tronco, desenhando ténues espirais, começo no tórax e desço ao ritmo da tua respiração até ao teu abdómen, páro no teu umbigo.
Não resistimos e voltamos a fazer encontrar os lábios para mais ósculos. E digo-te
"Ósculos"
e tu sorris mas estás preso em mim, por isso sorris para dentro de mim e esse sorriso junta-se à corrente sanguínea e enche-me de prazer dos pés ao cabelo.
As nossas mãos soltam-se e as tuas agarram firmemente nas minhas ancas e fazemos da figura humana geometria enquanto nos projectamos em ângulos, curvas e intersecções.
Os teus olhos sempre fechados.
Até que os abres e.
(E o fim da história já o conhecemos.)
27.7.06
Summer tunes IV
Beck "Girl"(Hino do Verão passado, mas sempre muito solarengo e actual, a letra podem-na encontrar aqui)
Summer tunes III
Phoenix "Consolation Prizes(sim, é a mesma banda, mas exala Verão por todos os poros, não lhe consigo resistir.)
26.7.06
Sullen Batsie
sul·len (sln)
adj. sul·len·er, sul·len·est
1. Showing a brooding ill humor or silent resentment; morose or sulky.
2. Gloomy or somber in tone, color, or portent: sullen, gray skies.
3. Sluggish; slow: the sullen current of a canal.
"Days like this, I don't know what to do with myself
All day and all night
I wander the halls along the walls and under my breath
I say to myself I need fuel to take flight
And there's too much going on
But it's calm under the waves, in the blue of my oblivion
Under the waves in the blue of my oblivion
Is that why they call me a sullen girl, sullen girl
They don't know I used to sail the deep and tranquil sea
But he washed me shore and he took my pearl
And left an empty shell of me
And there's too much going on
But it's calm under the waves in the blue of my oblivion
Under the waves in the blue of my oblivion
Under the waves in the blue of my oblivion
It's calm under the waves in the blue of my oblivion."
"Sullen girl" - Fiona Apple (tudo a ouvir até decorar, vá)
adj. sul·len·er, sul·len·est
1. Showing a brooding ill humor or silent resentment; morose or sulky.
2. Gloomy or somber in tone, color, or portent: sullen, gray skies.
3. Sluggish; slow: the sullen current of a canal.
"Days like this, I don't know what to do with myself
All day and all night
I wander the halls along the walls and under my breath
I say to myself I need fuel to take flight
And there's too much going on
But it's calm under the waves, in the blue of my oblivion
Under the waves in the blue of my oblivion
Is that why they call me a sullen girl, sullen girl
They don't know I used to sail the deep and tranquil sea
But he washed me shore and he took my pearl
And left an empty shell of me
And there's too much going on
But it's calm under the waves in the blue of my oblivion
Under the waves in the blue of my oblivion
Under the waves in the blue of my oblivion
It's calm under the waves in the blue of my oblivion."
"Sullen girl" - Fiona Apple (tudo a ouvir até decorar, vá)
25.7.06
Um adeus
O vento corria rasteiro sobre a areia. Um barco encostava no quebrar das ondas, dois (ou três?) homens de pele queimada e barba por fazer, puxavam por cordas fazendo-o atracar. Traziam redes cheias de peixe; um bando enorme de gaivotas rodeava-os desde alto-mar, roubando um ou outro. As poucas pessoas na praia àquela hora aproximavam-se também, curiosas ou mesmo interessadas. Via-as afastarem-se minutos depois, sacos na mão, os miúdos contentes a mexerem nas escamas, nas barbatanas.
Foi um instante para aquela confusão acabar e eu finalmente ficar a sós com o mar.
O vento cada vez mais frio e o sol que desaparecia longe. Eu abraçada às minhas pernas pensava em mim. Mas em mim de uma maneira diferente, porque só pensava em mim por não conseguir deixar de pensar em ti.
Como se pensar em ti fosse uma maneira de te ter aqui.
De alguma maneira associava cada detalhe desta praia que adoravas a um pedacinho da tua vida. De alguma maneira sentia-me abraçada por ti, apesar da nossa etérea distância.
Vem dar um mergulho, a água está óptima!, dizias-me - ou a criança dentro de ti, acenando por entre braçadas.
Fizeste de mim irmã do mar, do vento, dos relâmpagos, confidente das algas e das conchas, amante da areia e do sol. Entregaste a minha paternidade ao Verão, às chuvas quentes, ao céu limpo, ao chocolate derretido.
Mas nenhum deles é capaz de me consolar agora que aqui já não estás.
Ontem, antes de te ver sob sete palmos de terra, sentia um profundo ódio por isto: nunca foste um pai muito presente excepto quando aqui vínhamos os dois e eu sempre pensei que isso um dia mudaria. E quando soube, que tinhas
Desculpa, mas ainda não consigo dizê-lo
quando soube que tinhas ido para outro sítio qualquer, julguei que me abandonavas, pai, que finalmente assumias que tinhas desistido de mim. Foi ao ver o teu rosto no velório que te perdoei, que desejei estar ali deitada a teu lado para que juntos pudessemos conhecer todas as praias por este mundo a fora.
Desejei morrer para te deixar ser meu pai só mais uma vez.
[Cada vez mais frio nesta praia cada vez mais deserta. Dentro de mim, um sangue que não me aquece, um coração que bate apenas o suficiente para me manter viva, um corpo seco que já perdeu todas as suas lágrimas.]
Decido adormecer na areia gélida no nosso último dia de praia juntos. (Avisa à mãe que fico cá a dormir.)
Anoitece sobre o mar, o espelho negro reflecte a luz da lua. O vento cada vez mais agreste cobre-me de areia e eu sinto-te aqui. Pões a mão no meu ombro
Eu sei que não podes estar aqui a pôr-me a mão no ombro mas eu sinto-te, não sei explicar
e o vento e as ondas falam comigo, dizem-me aquelas coisas que eu gostava de ter ouvido da tua boca. Sei que és tu, aqui.
Sei que serás tu para sempre aqui.
Foi um instante para aquela confusão acabar e eu finalmente ficar a sós com o mar.
O vento cada vez mais frio e o sol que desaparecia longe. Eu abraçada às minhas pernas pensava em mim. Mas em mim de uma maneira diferente, porque só pensava em mim por não conseguir deixar de pensar em ti.
Como se pensar em ti fosse uma maneira de te ter aqui.
De alguma maneira associava cada detalhe desta praia que adoravas a um pedacinho da tua vida. De alguma maneira sentia-me abraçada por ti, apesar da nossa etérea distância.
Vem dar um mergulho, a água está óptima!, dizias-me - ou a criança dentro de ti, acenando por entre braçadas.
Fizeste de mim irmã do mar, do vento, dos relâmpagos, confidente das algas e das conchas, amante da areia e do sol. Entregaste a minha paternidade ao Verão, às chuvas quentes, ao céu limpo, ao chocolate derretido.
Mas nenhum deles é capaz de me consolar agora que aqui já não estás.
Ontem, antes de te ver sob sete palmos de terra, sentia um profundo ódio por isto: nunca foste um pai muito presente excepto quando aqui vínhamos os dois e eu sempre pensei que isso um dia mudaria. E quando soube, que tinhas
Desculpa, mas ainda não consigo dizê-lo
quando soube que tinhas ido para outro sítio qualquer, julguei que me abandonavas, pai, que finalmente assumias que tinhas desistido de mim. Foi ao ver o teu rosto no velório que te perdoei, que desejei estar ali deitada a teu lado para que juntos pudessemos conhecer todas as praias por este mundo a fora.
Desejei morrer para te deixar ser meu pai só mais uma vez.
[Cada vez mais frio nesta praia cada vez mais deserta. Dentro de mim, um sangue que não me aquece, um coração que bate apenas o suficiente para me manter viva, um corpo seco que já perdeu todas as suas lágrimas.]
Decido adormecer na areia gélida no nosso último dia de praia juntos. (Avisa à mãe que fico cá a dormir.)
Anoitece sobre o mar, o espelho negro reflecte a luz da lua. O vento cada vez mais agreste cobre-me de areia e eu sinto-te aqui. Pões a mão no meu ombro
Eu sei que não podes estar aqui a pôr-me a mão no ombro mas eu sinto-te, não sei explicar
e o vento e as ondas falam comigo, dizem-me aquelas coisas que eu gostava de ter ouvido da tua boca. Sei que és tu, aqui.
Sei que serás tu para sempre aqui.
23.7.06
BITE ME!
Os Strokes são bons, mas melhores no primeiro disco do que nos outros. E enormes em palco. Ponto final.
JUST TAKE IT OR LEAVE IT. JUST TAKE IT OR LEAVE IT.
OH TAAAAAAKE IT.
JUST TAKE IT OR LEAVE IT. JUST TAKE IT OR LEAVE IT.
OH TAAAAAAKE IT.
22.7.06
Humanos
Sou humana, como tu. Tenho dúvidas, pressentimentos, medos e inseguranças. Mas como tu, sei que há qualquer coisa dentro de cada um de nós que nos eleva, que nos faz ser mais um para o outro - e um para os outros - do que uma mera e permanente questão. Estou mais que certa que dentro de mim existe mais do que um ponto de interrogação, de exclamação, umas reticências ou - Deus nos livre! - um ponto final. É porque dentro de nós existe mais do que pontuação; há algo vivo, que respira e se alimenta e que, ao fazê-lo, assegura que também nós passemos pela vida fazendo mais do que apenas respirar e alimentar. Passamos pela vida sentindo-a, o que nos humaniza mais do que tudo.
Sou humana como tu. Tenho certezas, emoções, lógicas e razões. E é por isso que gosto assim, que sinto com o corpo todo e que esta alma está, mais do que nunca, inquieta e expectante.
Ao som de "I found a reason" dos Velvet Underground pela doce (tão doce!) Cat Power. Deixo o site para download para que o leiam também assim!
Sou humana como tu. Tenho certezas, emoções, lógicas e razões. E é por isso que gosto assim, que sinto com o corpo todo e que esta alma está, mais do que nunca, inquieta e expectante.
Ao som de "I found a reason" dos Velvet Underground pela doce (tão doce!) Cat Power. Deixo o site para download para que o leiam também assim!
17.7.06
E por ora
15.7.06
PARABÉNS (só mais uma vez)
Uma canção de João Gilberto por dia dá saúde e alegria II
Coisa mais bonita é você, assim, justinho você
Eu juro, eu não sei porquê você.
Você é mais bonita que a flor, quem dera à primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza, que é o amor
Perfumando a natureza, numa forma de mulher.
Porque tão linda assim não existe, a flor, nem mesmo a cor não existe,
E o amor, nem mesmo o amor existe.
João Gilberto "Coisa Mais Linda"
Eu juro, eu não sei porquê você.
Você é mais bonita que a flor, quem dera à primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza, que é o amor
Perfumando a natureza, numa forma de mulher.
Porque tão linda assim não existe, a flor, nem mesmo a cor não existe,
E o amor, nem mesmo o amor existe.
João Gilberto "Coisa Mais Linda"
(ATENÇÃO, LEITORES DESATENTOS: Isto é um link para fazerem download da música, para que também vocês possam fazer karaoke; na canção anterior também lá está o link para os interessados - que eu, confiando no bom-gosto dos meus leitores, receio que sejam todos!)
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